Mundo
Recados para Trump e ‘falsos patriotas’: o saldo do discurso de Lula na Assembleia da ONU
Primeiro discurso internacional do petista após novas sanções de Washington combinou críticas à extrema-direita, defesa da soberania e foco ambiental


O presidente Lula (PT) abriu a 80ª Assembleia Geral da ONU em Nova York com um discurso firme em defesa da soberania do Brasil, da democracia e do multilateralismo, em recados claro ao governo dos Estados Unidos e contra pressões internas e externas sobre o País.
Lula classificou como inaceitável qualquer tentativa de interferência sobre o Judiciário brasileiro e destacou o papel do Brasil na preservação da democracia: “Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia reconquistada há 40 anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais. Não há justificativas para medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia.
O presidente também criticou os chamados “falsos patriotas” que, segundo ele, promovem ações contra o País.
“Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema-direita subserviente e saudosa das antigas hegemonias”, disse. “Não há pacificação com impunidade”, disse.
O discurso vem em um contexto delicado nas relações Brasil e Estados Unidos, um dia após novas sanções norte-americanas a cidadãos brasileiros, incluindo o bloqueio de bens da esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes. O gesto ampliou o atrito diplomático, já tensionado pela condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe, decisão tomada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal.
Multilateralismo e reformas na ONU
Lula defendeu um fortalecimento do multilateralismo e reformas na ONU para garantir maior participação e eficácia das decisões globais. “O século 21 será cada vez mais multipolar. Para se manter pacífico, não pode deixar de ser multilateral. A ONU precisa ser portadora de esperança e promotora da igualdade, da paz, do desenvolvimento sustentável, da diversidade e da tolerância.”
Crise climática e COP30
O petista também colocou o tema ambiental como prioridade global, destacando o compromisso do país com a redução de emissões e preservação da Amazônia. “Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática. A COP30, em Belém, será a COP da verdade”, afirmou.
Regulação digital e proteção de crianças
Lula abordou ainda a necessidade de regular o ambiente digital e proteger crianças e adolescentes contra crimes virtuais. “A internet não pode ser uma ‘terra sem lei’. Cabe ao poder público proteger os mais vulneráveis. Regular não é restringir a liberdade de expressão. É garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual.”
O presidente concluiu destacando a importância da justiça social, combate à desigualdade global e fortalecimento do Sul Global, reforçando que o Brasil seguirá como país independente e comprometido com a paz, o desenvolvimento sustentável e a democracia.
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