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Trump rejeita convite de Maduro para dialogar
As tensões aumentaram desde que os EUA mobilizaram navios de guerra no Caribe sob o argumento de combater o tráfico de drogas


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rejeitou o convite enviado em carta pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para o diálogo, anunciou a Casa Branca nesta segunda-feira 22, enquanto uma ala majoritária da oposição venezuelana apoiou o cerco militar americano no mar do Caribe.
As tensões entre os dois governantes aumentaram desde que, há um mês, os EUA mobilizaram oito navios de guerra na região, sob o argumento de combater o tráfico de drogas, e Trump acusou Maduro de liderar um cartel.
“Maduro repetiu muitas mentiras nessa carta, e a posição do governo sobre a Venezuela não mudou”, declarou a porta-voz da Casa Branca, Caroline Leavitt, em entrevista coletiva sobre a mensagem datada de 6 de setembro.
Trump “demonstrou claramente que está disposto a usar todos os meios necessários para deter o tráfico ilegal de drogas proveniente do regime da Venezuela”, acrescentou, em resposta à carta divulgada no domingo pelo governo venezuelano.
Na mensagem, Maduro pediu a Trump para “preservar a paz com diálogo e entendimento em todo o hemisfério” e classificou como “absolutamente falsas” as acusações de narcotráfico feitas por Washington.
O presidente venezuelano denunciou uma “ameaça” de “mudança de regime” e afirmou que o país está “livre da produção de drogas”, alegando que apenas 5% da cocaína fabricada na vizinha Colômbia transita por território venezuelano.
Segundo Caracas, ao menos três lanchas que transportavam drogas foram destruídas em alto-mar por mísseis das forças americanas, que também enviaram uma dezena de caças para Porto Rico.
A Casa Branca não reconhece Maduro como presidente, alegando fraude eleitoral em sua reeleição em 2024, e oferece uma recompensa de 50 milhões de dólares (cerca de 261 milhões de reais) por sua captura, sob acusação de liderar o chamado “Cartel de los Soles”.
“Uma medida necessária”
“O reconhecimento do Cartel de los Soles como organização terrorista (…) responde corretamente à natureza do problema”, declarou nesta segunda-feira Edmundo González Urrutia, ex-candidato presidencial que denunciou fraude nas últimas eleições.
“O cerco antinarcóticos no mar do Caribe liderado pelos Estados Unidos (…) constitui uma medida necessária para o desmantelamento da estrutura criminosa que ainda se ergue como único obstáculo para o restabelecimento da soberania popular na Venezuela”, acrescentou em vídeo enviado a líderes mundiais reunidos em Nova York para a Assembleia Geral da ONU.
Exilado há um ano na Espanha após ordem de prisão, González Urrutia dividiu a mensagem com a opositora María Corina Machado, que está na clandestinidade após ser acusada de conspirar contra Maduro.
“Falta muito pouco para que recuperemos nossa soberania e a democracia. Estamos prontos para assumir as rédeas do novo governo”, disse Machado.
Apesar do respaldo de parte da oposição, o ex-candidato presidencial e líder de outra corrente opositora Henrique Capriles afirmou na sexta-feira que não apoia uma intervenção militar dos EUA.
A oposição acusa Maduro de crimes contra a humanidade e de “terrorismo de Estado” por perseguições e detenções arbitrárias de caráter político.
A Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos sobre a Venezuela, criada pela ONU, apresentou nesta segunda-feira seu relatório sobre violações de direitos humanos no país e alertou para a intensificação da perseguição política.
“O Estado voltou a aumentar a repressão em momentos de maior tensão política, como na posse presidencial em janeiro (…) por meio de detenções em massa”, disse a presidente da missão, a jurista portuguesa Marta Valiñas.
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