CartaCapital
Violência/ Emboscada cirúrgica
Desafeto do PCC, ex-delegado-geral da Polícia Civil é executado a tiros de fuzil em Praia Grande


Ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo e pioneiro no combate ao PCC, Ruy Ferraz Fontes foi assassinado a tiros de fuzil em Praia Grande, no litoral paulista, onde ocupava, desde 2023, o cargo de secretário municipal de Administração. Perseguido por criminosos, o policial aposentado tentou escapar da emboscada, mas seu carro colidiu com dois ônibus no cruzamento da Rua 1º de Janeiro com a Avenida Doutor Roberto de Almeida Vinhas. Ao avistar o veículo tombado, os sicários desceram de uma Toyota Hilux para se aproximar da vítima e completar a execução.
Fontes não teve chance de defesa. Sem direito à escolta armada do Estado, não conseguiu sacar sua pistola 9 milímetros, encontrada em uma bolsa com itens pessoais. Naquele dia, também estava sem o carro blindado. Saiu mais cedo do expediente, mas os criminosos já o aguardavam de tocaia. O Fiat Argo que conduzia foi atingido por ao menos 29 tiros – os primeiros ainda na porta da prefeitura. Aparentemente, seus passos vinham sendo monitorados havia algum tempo. Foi um crime cuidadosamente arquitetado.
Até o fechamento desta edição, a Polícia Civil havia identificado dois suspeitos, um deles com passagem por uma ala de presídio controlada pelo PCC. Os investigadores trabalham com duas hipóteses. Pela natureza da execução e o histórico de Fontes, é forte a suspeita de vingança da facção criminosa. Não se descarta, porém, retaliação por interesses contrariados na prefeitura. Como secretário, ele era responsável por licitações, patrimônio público e folha de pagamento, segundo o prefeito Alberto Mourão (MDB).
Antes de comandar a Polícia Civil, de 2019 a 2022, Fontes cruzou o caminho do PCC em diversas ocasiões. No Deic, indiciou, por formação de quadrilha, os principais líderes da facção no início dos anos 2000: Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, César Augusto Roriz da Silva, o Cesinha (1968–2006), e José Márcio Felício, o Geleião (1961–2021).
Na terça-feira 16, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, ofereceu apoio da Polícia Federal para investigar o caso. Vaidoso, Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública de São Paulo, recusou a oferta. “O aparato do Estado é 100% capaz de dar a resposta necessária”, afirmou. Recentemente, uma força-tarefa nacional, liderada por agentes da PF e da Receita Federal, desarticulou um megaesquema de lavagem de dinheiro do PCC. A investigação aponta que a facção movimentou 140 bilhões de reais por meio de fintechs e de uma extensa rede de postos de combustíveis.
Tenório Jr., presente!
Imagem: Arquivo Nacional
Após quase meio século sem respostas, o corpo do pianista Francisco Tenório Cerqueira Júnior foi encontrado em uma vala comum na periferia de Buenos Aires. O músico acompanhava Vinicius de Moraes e Toquinho em turnê pela América do Sul. Em 18 de março de 1976, poucos dias antes do golpe que inaugurou a última ditadura militar na Argentina (1976–1983), Tenório Jr. desapareceu após sair do Hotel Normandie para comprar cigarros e um lanche. Segundo a Equipe Argentina de Antropologia Forense, o pianista foi assassinado a tiros. Embora não tivesse envolvimento com movimentos políticos, suspeita-se que tenha sido confundido com um líder montonero – guerrilha de inspiração cubana criada para resistir a outro período ditatorial no país (1966–1973) – e executado por militares. Agora, inicia-se a investigação para esclarecer o que motivou o crime.
Memória/ A lenda e o legado
Morre Robert Redford, ícone de Hollywood e criador do Festival de Sundance
Ao lado de Paul Newman, alcançou o estrelato com Butch Cassidy – Imagem: Arquivo/AFP
Robert Redford, que morreu na terça-feira 16, aos 89 anos, é um símbolo potente de um momento em que a indústria cinematográfica de Hollywood ousou: as décadas de 1960 e 1970. Antes de entrar para o cinema, ele estudou Arte em Paris e atuou em produções da Broadway. Sua primeira aparição na tela grande foi com Caçada Humana (1966), ao lado de Marlon Brando, e o filme que o alçou ao estrelato foi Butch Cassidy (1969), em que divide a cena com Paul Newman.
Na década seguinte, ele passaria a ser reconhecido não apenas por sua beleza e talento, mas também pela opção por papéis que roçavam a política e o estado de coisas dos Estados Unidos, como aqueles vividos em Três Dias do Condor (1975) e Todos os Homens do Presidente (1976).
Com a carreira como ator sedimentada, ele usaria seu prestígio, no início dos anos 1980, para criar o Festival de Sundance, uma vitrine importante para o cinema feito fora dos cinco grandes estúdios hollywoodianos. Foi em Sundance que ganharam tração grifes do cinema independente, como Quentin Tarantino e Steven Soderbergh.
Sua carreira de diretor também foi um sucesso, conquistando o Oscar de Melhor Diretor por Gente Como a Gente (1980), seu primeiro trabalho na função. Ele continuou a dirigir filmes intimistas e bem recebidos pela crítica, como Nada É Para Sempre (1992) e Quiz Show (1994). A direção era onde Redford se sentia mais no controle, onde podia contar histórias do seu jeito, sem a pressão de ser o “galã”.
Robert Redford aposentou-se da atuação em 2018 com o filme The Old Man & The Gun, um papel perfeito para seu adeus: um ladrão de bancos de 80 anos que se recusa a parar. Era um eco de sua própria vida, de um artista inquieto, que nunca parou de buscar algo novo.
Mineração ilegal
A Polícia Federal prendeu,na quarta-feira 17, Caio Mário Seabra Filho, um dos diretores da Agência Nacional de Mineração (ANM). A investigação aponta um esquema de corrupção envolvendo a liberação de licenças ambientais para exploração de minério de ferro em áreas proibidas de Minas Gerais. Também foi alvo de mandado de prisão Rodrigo de Melo Teixeira, ex-diretor da PF, atualmente cedido à Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). Ele é suspeito de ligação com uma empresa mineradora beneficiada pelo esquema. Ao todo, a operação cumpriu 22 mandados de prisão temporária e 79 de busca e apreensão. A Justiça determinou ainda o bloqueio de 1,5 bilhão de reais em bens.
Trabalho/ Mercado aquecido
Desemprego recua e atinge menor patamar desde 2012
A taxa de desocupação ficou em 5,6% no trimestre até julho – Imagem: Davi Pinheiro/GOVCE
A taxa de desemprego no Brasil caiu para 5,6% no trimestre encerrado em julho, atingindo o menor patamar da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012. O dado, divulgado na terça-feira 16 pelo IBGE, revela a força e resiliência do mercado de trabalho, mesmo diante do cenário de juros elevados e desaceleração da atividade econômica. No trimestre anterior, até abril, o desemprego estava em 6,6%.
O número de brasileiros sem trabalho chegou a 6,1 milhões, queda de 1 milhão (-14,2%) em relação ao período anterior e o menor contingente desde o fim de 2013. Já a população ocupada bateu novo recorde: 102,4 milhões de trabalhadores formais e informais, acréscimo de 1,2 milhão no trimestre. O nível da ocupação está em 58,8%. “O que temos é um mercado de trabalho aquecido. Ele continua resiliente, com características de um mercado em expansão”, avalia o analista do IBGE William Kratochwill.
Nepal/ Apagando o incêndio/h3>
Presidente dissolve Parlamento e convoca eleições após revolta popular
Paudel nomeou a juíza Karki, da Suprema Corte, como premier interina – Imagem: Sujan Gurung/AFP
Após uma semana de violentos protestos em Katmandu, o presidente do Nepal, Ramchandra Paudel, dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições para março de 2026. A decisão foi anunciada na sexta-feira 12, dias após a renúncia do então premier Khadga Prasard Sharma Oli, cujo governo caiu em meio à revolta popular, que tardou a ser contida pelas forças de segurança.
Os protestos começaram após um bloqueio das redes sociais, uma tentativa de censurar uma campanha online que expunha a luxuosa vida dos políticos nepaleses, mas rapidamente evoluíram para uma pauta mais ampla, exigindo o fim da corrupção no país e mais oportunidades para a juventude.
Mesmo com o recuo de Oli e sua posterior renúncia, os atos se intensificaram, culminando em incêndios no Parlamento, em prédios públicos e nas casas de membros do governo. Em resposta à crise, Paudel nomeou como primeira-ministra interina a juíza Sushila Karki, atual presidente da Suprema Corte, atendendo a uma das principais exigências dos manifestantes. O Exército retomou o controle da capital na quarta-feira 10, após confrontos que deixaram 52 mortos e mais de 1,3 mil feridos.
TikTok ganha fôlego nos EUA
Donald Trump assinou, na terça-feira 16, um decreto que estende por mais 90 dias o prazo para a venda das operações do TikTok nos EUA. Com isso, a ByteDance, empresa chinesa que controla a plataforma, tem até dezembro para concluir a negociação com investidores norte-americanos. Esse é o quarto adiamento do prazo desde o início da disputa. Trump afirma que Washington e Pequim já chegaram a um entendimento sobre o futuro do aplicativo. “Temos um acordo sobre o TikTok. Um grupo de empresas muito grandes quer comprá-lo”, declarou, sem revelar nomes. Segundo a Casa Branca, a confirmação do acerto pode ocorrer na sexta-feira 19, durante uma conversa telefônica entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping.
América do Sul/ Alerta máximo no Caribe
Trump anuncia que os EUA abateram três embarcações da Venezuela
O líder norte-americano divulgou cenas do ataque nas redes sociais – Imagem: Redes Sociais/Donald Trump/AFP
Donald Trump anunciou, na segunda-feira 15, um novo ataque a uma lancha de procedência venezuelana, que resultou na morte de três tripulantes. “Esses cartéis de drogas extremamente violentos representam uma ameaça à segurança nacional, à política externa e aos interesses vitais dos EUA”, escreveu em sua rede social, a Truth Social. No dia seguinte, corrigiu-se diante de jornalistas na Casa Branca, ao afirmar que as Forças Armadas norte-americanas já afundaram três embarcações no Mar do Caribe, e não duas, como havia dito anteriormente. “Vocês só viram duas, mas eliminamos três”, disse, antes de viajar ao Reino Unido para uma visita oficial.
“Há uma agressão em curso, de caráter militar, e a Venezuela está facultada pelas leis internacionais a enfrentá-la”, reagiu o presidente Nicolás Maduro. “É uma operação para amedrontar, buscar uma mudança de regime, desestabilizar a nação, parti-la em pedaços, como fizeram com a Líbia e com a Síria, e se apoderar do nosso petróleo, gás, ferro e ouro.”
Maduro colocou as tropas venezuelanas em alerta máximo diante da “ameaça de invasão”. Trump, por sua vez, enviou cinco caças F–35 à base de Roosevelt Roads, em Porto Rico. Até o momento, não há qualquer sinal de desescalada.
Publicado na edição n° 1380 de CartaCapital, em 24 de setembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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