Memória
Abaixo os deletérios iletrados! Viva Mino Carta!
O homem que nasceu na terra de Colombo, ao contrário de deletérios iletrados, sempre soube que a Terra é redonda


Aos 91 anos, Mino Carta se foi. Perdemos um dos últimos jornalistas em uma terra de “influencers” digitais. Um pouco do jornalismo sério se vai com ele.
Quando a revista Veja foi séria, o foi por sua conta — tal qual a IstoÉ e o revolucionário Jornal da Tarde.
Fundador da CartaCapital, um dos poucos veículos que ainda cometem o exótico ato de “informar”.
O homem que nasceu na terra de Colombo, ao contrário de deletérios iletrados, sempre soube que a Terra é redonda.
Chefe de redação que sabia comandar com classe, nunca foi déspota com trabalhadores. Mas contra bajuladores do poder e parasitas financistas, o filho de anarco-sindicalistas italianos pegava pesado: cruzados de ironia, jabs de sarcasmo.
Em tempos de “influencers”, pululam informações sem base, opiniões sem nexo e devaneios. Pseudojornalistas levam pessoas a orar por pneus e acreditar que extraterrestres se preocupam com as eleições de Pindorama.
A grande mídia golpeia a opinião pública com as “verdades” da elite financista. Outro dia, um presidente estrangeiro resolveu intervir no Brasil com tarifas fora de qualquer regramento. Por seus caprichos, busca intervir em nosso judiciário em prol do ex-presidente Bolsonaro.
Não se exige maior sofisticação intelectual para notar que Bolsonaro cometeu toda a sorte de crimes contra a nação. Ainda assim, da moita da vergonha, jornalistas acólitos, políticos vendilhões e pessoas de baixa densidade intelectual passaram a vociferar que deveríamos nos curvar a Trump.
O governador do maior estado da Pátria vestiu-se de lacaio e clamou por alguma vitória ao mandatário do Tio Sam. Poucos jornalistas cumpriram o mínimo papel de bradar, sem rodeios, contra a insanidade.
Influencers iletrados se intitulam jornalistas, e jornalistas formados se tornam porta-vozes do patrão. Nosso país precisa de mais escribas como Mino.
Um dos grandes livros nacionais talvez seja O Brasil. Nele, Mino conta sua história e a de um jornalista lambe-botas do poder. O livro começa na derrocada de Vargas e segue até a redemocratização, passando pelo arbítrio da ditadura militar.
O virtuoso Carta dá um banho de Brasil ao apontar o dedo na cara dos que odeiam o povo. Ao cruzar histórias, brinda-nos com um manual de escrita.
Homem sem medo, enfrentou censura e ameaças do regime. Grande parte dos jornalistas, ao contrário, aderiu aos milicos e tornou-se porta-voz de uma ditadura que enfiava ratos em orifícios femininos e matava jornalistas, como Herzog.
Carta escrevia como romancista — raro em tempos de meias-palavras. Amava o Brasil mais do que sua Itália, enquanto estúpidos se enrolam na bandeira dos Estados Unidos.
Vivemos tempos absurdos: supostos nacionalistas chafurdam na hipocrisia ao defender o mandatário do Tio Sam. E setores da imprensa posam de isentos. Mas não existe isenção diante do crime lesa-pátria: a suposta “isenção” se torna crime.
Nenhum rufião da nação pode ficar impune ao atacar a Constituição. Às vezes as palavras precisam de peso para descrever o absurdo.
Gente digna respeita a Constituição, bastardos a querem rasgar.
Mino sabia disso.
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