Do Micro Ao Macro
8 em cada 10 empreendedores planejam vender participação ou fazer M&A nos próximos 2 anos
Estudo da Endeavor mostra preferência por secundárias e aquisições em vez de IPOs no curto prazo


A Endeavor lançou o estudo Founder Liquidity in Brazil, que mapeia expectativas de 118 fundadores de empresas de tecnologia. A pesquisa, patrocinada por Google Cloud, Prosus e Peers Consulting, avalia IPOs, fusões e aquisições, além de vendas secundárias.
O material foi apresentado no Annual Gathering do Scale-Up Ventures, fundo de venture capital da Endeavor, e traz ainda uma série de vídeos com depoimentos de empreendedores como Guilherme Benchimol (XP), Eric Santos (RD Station), Stelleo Tolda (Mercado Livre) e Sergio Furio (Creditas).
Expectativas para os próximos anos
De acordo com o levantamento, 79% dos empreendedores brasileiros se preparam para realizar operações como M&A ou venda de participação parcial nos próximos dois anos. O estudo mostra que IPOs devem voltar a ganhar espaço apenas a partir de 2028 nos EUA e, na B3, após 2030.
Casos recentes ilustram esse movimento: a aquisição da ClearSale pela Experian por US$ 350 milhões, o acordo da Conta Azul com a Visma por US$ 300 milhões e a venda secundária da Contabilizei para a Warburg Pincus.
“Quando bem estruturadas, M&As e vendas secundárias mantêm o fundador ativo e dão fôlego para novos ciclos de crescimento”, afirma Gustavo Cruz, Diretor de Rede e Capital da Endeavor Brasil.
Vendas secundárias em alta
O estudo mostra que vendas secundárias, antes tratadas com cautela, ganham força nas negociações entre empreendedores e investidores. Apenas 5% citam sucessão ou saída como objetivo da próxima operação. Já 77,5% apontam o planejamento patrimonial como principal motivação.
“Para líderes que querem continuar no negócio, eventos parciais ajudam no longo prazo, especialmente quando há família envolvida”, afirma Sergio Furio, fundador da Creditas.
Aquisições antes do IPO
As aquisições são mais frequentes até a Série B, quando os valuations ainda são atraentes. A partir da Série C, os preços sobem e os compradores estratégicos diminuem.
Segundo Gustavo, exemplos como a compra da Kovi pela nigeriana Moove mostram que transações entre mercados emergentes também geram valor. Já 32,2% dos fundadores ainda citam o IPO como caminho mais alinhado a seus valores, embora reconheçam as exigências operacionais e culturais.
Um dos casos citados é o da VTEX, que passou cinco anos se preparando antes de abrir capital na NYSE. “O IPO é o que melhor alinha crescimento de longo prazo com credibilidade no mercado global”, afirma Geraldo Thomaz, cofundador da empresa.
Novos ciclos após vendas
A pesquisa também revela que, após venderem suas empresas, 51,9% dos fundadores iniciaram novos negócios e 48,1% se tornaram investidores. A partir da Série D, 71,4% passaram a investir em filantropia ou iniciativas de impacto, contra 26% em estágios iniciais.
A Endeavor chama esse processo de “Efeito Multiplicador”. O caso da venda da 99 para a Didi Chuxing, em 2018, é exemplo. Ex-funcionários criaram empresas como Swap, Kovi e Alice. “Dar retorno para 20 pessoas-chave permitiu que elas seguissem empreendendo, criando a chamada máfia da 99”, lembra Paulo Veras, fundador da companhia.
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