Política

Filhos de Tenório Jr. divulgam carta após a confirmação de que músico foi morto pela ditadura argentina

O corpo do artista foi identificado após quase 50 anos de seu desaparecimento

Filhos de Tenório Jr. divulgam carta após a confirmação de que músico foi morto pela ditadura argentina
Filhos de Tenório Jr. divulgam carta após a confirmação de que músico foi morto pela ditadura argentina
Francisco Tenório Cerqueira Junior desapareceu em 18 de março de 1976, após sair do Hotel Normandie, na região central de Buenos Aires. Créditos: Reprodução
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A localização do corpo do músico brasileiro Tenório Junior, identificado pela Justiça da Argentina, traz um misto de ‘alívio e tristeza’ à família. Em nota assinada por Elisa Andrea, Francisco Tenório Neto e Margarida Maria, filhos do músico, a família, agora, cobra respostas.

Tenório Junior foi morto pela ditadura argentina. Ele estava em Buenos Aires a trabalho, em março de 1976, quando desapareceu após deixar o hotel onde estava hospedado com Toquinho e Vinícius de Moraes. Eles faziam uma turnê pelos países sul-americanos.

Após quase 50 anos sem notícias, a Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) confirmou a localização do corpo do brasileiro, que foi morto a tiros e enterrado em vala comum na periferia da capital argentina.

“Recebemos a notícia da identificação do corpo de nosso pai com surpresa, claro, e um misto de alívio e tristeza. Alívio porque, finalmente, podemos saber com mais segurança o que aconteceu com ele naquele triste março de 1976. De alguma maneira, estaremos mais próximos. Tristeza pela confirmação de que Tenório foi vítima da violência e enterrado como um desconhecido, longe da família, dos amigos, dos parceiros de música”, escreveram os filhos.

Na época do crime, o pianista tinha 35 anos, e era pai de quatro crianças, com idades entre 4 e 8 anos. O quinto filho nasceu um mês depois do desaparecimento do pai.

“Durante muito tempo, mesmo sabendo que era improvável, alimentamos a esperança de revê-lo. De que um dia a porta da casa se abrisse e ele entraria. O ‘Papú’, como o chamávamos. Com o tempo, compreendemos que não teríamos mais respostas. Que teríamos que conviver sem saber o que aconteceu de fato. É um choque saber que ele estava lá o tempo todo”, prossegue o texto assinado pelos filhos.

Na nota, Elisa Andrea, Francisco Tenório Neto e Margarida Maria prestam homenagem à mãe, Carmen, que cuidou da família sem o pai. Ela chegou a ir à Argentina prestar depoimentos sobre o desaparecimento do marido.

“Ainda queremos e precisamos de respostas. Quem matou Tenório? Por quê? Por que matar um homem sem nenhum envolvimento político, que só vivia para a música? Durante anos ouvimos versões, histórias que agora se revelam falsas”, escreveram os filhos do músico, que agradeceram ao EAAF. “Esperamos que, desta vez, as autoridades possam nos dizer o que aconteceu. A dor não irá embora nunca, mas a justiça pode trazer conforto”.

Agradecimento do governo brasileiro

Em nota publicada pelo Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro também agradeceu à Justiça e à Procuradoria de Crimes Contra a Humanidade da Argentina pelo trabalho em busca da localização do corpo do músico.

“Trata-se de mais um exemplo da importância da atuação daqueles órgãos em prol da Memória, da Verdade e da Justiça, direito inalienável das vítimas, dos familiares daqueles que sofreram a violência dos regimes de exceção e também das sociedades da Argentina, do Brasil e de outros países latino-americanos que estiveram sob o jugo de ditaduras militares no século passado”, destacou o governo brasileiro.

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