Política
Filhos de Tenório Jr. divulgam carta após a confirmação de que músico foi morto pela ditadura argentina
O corpo do artista foi identificado após quase 50 anos de seu desaparecimento


A localização do corpo do músico brasileiro Tenório Junior, identificado pela Justiça da Argentina, traz um misto de ‘alívio e tristeza’ à família. Em nota assinada por Elisa Andrea, Francisco Tenório Neto e Margarida Maria, filhos do músico, a família, agora, cobra respostas.
Tenório Junior foi morto pela ditadura argentina. Ele estava em Buenos Aires a trabalho, em março de 1976, quando desapareceu após deixar o hotel onde estava hospedado com Toquinho e Vinícius de Moraes. Eles faziam uma turnê pelos países sul-americanos.
Após quase 50 anos sem notícias, a Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) confirmou a localização do corpo do brasileiro, que foi morto a tiros e enterrado em vala comum na periferia da capital argentina.
“Recebemos a notícia da identificação do corpo de nosso pai com surpresa, claro, e um misto de alívio e tristeza. Alívio porque, finalmente, podemos saber com mais segurança o que aconteceu com ele naquele triste março de 1976. De alguma maneira, estaremos mais próximos. Tristeza pela confirmação de que Tenório foi vítima da violência e enterrado como um desconhecido, longe da família, dos amigos, dos parceiros de música”, escreveram os filhos.
Na época do crime, o pianista tinha 35 anos, e era pai de quatro crianças, com idades entre 4 e 8 anos. O quinto filho nasceu um mês depois do desaparecimento do pai.
“Durante muito tempo, mesmo sabendo que era improvável, alimentamos a esperança de revê-lo. De que um dia a porta da casa se abrisse e ele entraria. O ‘Papú’, como o chamávamos. Com o tempo, compreendemos que não teríamos mais respostas. Que teríamos que conviver sem saber o que aconteceu de fato. É um choque saber que ele estava lá o tempo todo”, prossegue o texto assinado pelos filhos.
Na nota, Elisa Andrea, Francisco Tenório Neto e Margarida Maria prestam homenagem à mãe, Carmen, que cuidou da família sem o pai. Ela chegou a ir à Argentina prestar depoimentos sobre o desaparecimento do marido.
“Ainda queremos e precisamos de respostas. Quem matou Tenório? Por quê? Por que matar um homem sem nenhum envolvimento político, que só vivia para a música? Durante anos ouvimos versões, histórias que agora se revelam falsas”, escreveram os filhos do músico, que agradeceram ao EAAF. “Esperamos que, desta vez, as autoridades possam nos dizer o que aconteceu. A dor não irá embora nunca, mas a justiça pode trazer conforto”.
Agradecimento do governo brasileiro
Em nota publicada pelo Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro também agradeceu à Justiça e à Procuradoria de Crimes Contra a Humanidade da Argentina pelo trabalho em busca da localização do corpo do músico.
“Trata-se de mais um exemplo da importância da atuação daqueles órgãos em prol da Memória, da Verdade e da Justiça, direito inalienável das vítimas, dos familiares daqueles que sofreram a violência dos regimes de exceção e também das sociedades da Argentina, do Brasil e de outros países latino-americanos que estiveram sob o jugo de ditaduras militares no século passado”, destacou o governo brasileiro.
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