Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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As reflexões de Hyldon sobre racismo, novos trabalhos e o sucesso de ‘Na Rua, na Chuva, na Fazenda’

Cantor e compositor celebra os 50 anos de seu icônico álbum: ‘A gravadora não queria que eu estourasse’

As reflexões de Hyldon sobre racismo, novos trabalhos e o sucesso de ‘Na Rua, na Chuva, na Fazenda’
As reflexões de Hyldon sobre racismo, novos trabalhos e o sucesso de ‘Na Rua, na Chuva, na Fazenda’
Foto: Divulgação
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A música Na Rua, na Chuva, na Fazenda nasceu de uma história real. Na Bahia, onde sua mãe morava, Hyldon havia conhecido uma mineira com quem trocou telefonemas e correspondências. Depois, em um Carnaval chuvoso no litoral capixaba, ele olhava ao longe uma casinha de sapê, com o pensamento na garota. De volta ao Rio de Janeiro, compôs: “Não estou disposto/ A esquecer seu rosto de vez/ E acho que é tão normal…”.

“A gravadora não queria que eu estourasse”, disse Hyldon a CartaCapital, em referência a essa música, faixa-título de um álbum de 1975. Ele acredita que a avaliação do selo fonográfico era que seu trabalho não engataria.

Antes de apresentar seu primeiro trabalho há 50 anos, produziu com sucesso discos importantes de artistas como Odair José e Jorge Mautner — na mesma gravadora que lançou seu álbum.

Hyldon iniciou a carreira em conjunto de bailes. Depois, tocou guitarra no The Fevers e acompanhou artistas como Tim Maia, que se tornaria seu amigo. “Começaram a me dizer que eu tinha de gravar. Levei cinco, seis anos.”

Na Rua, na Chuva, na Fazenda se tornou um dos mais importantes álbuns dos anos 1970. Outras de suas canções ficaram conhecidas, como Na Sombra de uma Árvore e As Dores do Mundo. O disco tem influências da música romântica, da música nordestina e do samba, além de ascendência do soul, que se consolidava no Brasil. 

“É um disco de orquestra, que gravou muita gente. Eu também fui influenciado por alguns discos, como What’s Going On, de Marvin Gaye, e Wings, de Michel Colombier”, relembra. “Quando fui gravar, já estava preparado. O disco atravessou gerações. Para mim, isso é o mais importante de tudo.”

O cantor e compositor é integrante do movimento da black music brasileira, que tinha ainda Cassiano, Gerson King Combo, Carlos Dafé, Tony Tornado e Trio Mocotó, entre outros. 

Tim Maia e Jorge Ben Jor também integraram o movimento, embora suas carreiras tenham tomado rumos diferentes posteriormente. Para Hyldon, o apagamento da história da black music no Brasil se deve à falta de formação do grupo do qual fazia parte.

“Os grupos de Minas (Clube da Esquina), o MAU (Movimento Artístico Universitário), o pessoal do Ceará, todo mundo tinha faculdade. A gente, não. A gente não tinha empresário”, conclui. Isso, em sua opinião, dificultava o acesso ao mercado.

Havia também o racismo. A gente se fez no rádio, onde não se aparece, onde só tem a voz. Existia o racismo estrutural. Convivi nos dois lados. Achava que agradava a todo mundo”, rememora. “A gente conseguiu uma brecha para entrar no mercado. que foram os bailes black. Não tinha música brasileira tocando. Fomos os primeiros a colocar português para as pessoas cantarem.”

O recém-lançado documentário As Dores do Mundo: Hyldon, de Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues, conta a história do clássico álbum de 1975 – CartaCapital já analisou a obra.

Hyldon participará de um debate sobre o documentário, com a presença de Domingos, em 21 de setembro, às 11h, na Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo. No mesmo dia, às 16h, haverá a exibição do filme no Cine Olido, também na região central.

Neste ano, Hyldon lançou o álbum JID023, o 14° de sua carreira, e em breve chegará às plataformas de música um disco ao vivo.

Assista à entrevista:

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