Política
Após morte de aliado de Trump, empresários bolsonaristas defendem ‘caça às bruxas’ em empresas
Tallis Gomes conclamou empregadores a vasculharem redes sociais para identificar aqueles que teriam ‘comemorado’ o assassinato; Nikolas Ferreira também cobra demissões


Empresários brasileiros alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), têm fomentado uma espécie de ‘caça às bruxas’ a funcionários que demonstrem simpatia por ideiais de esquerda. O movimento ganha combustível de uma narrativa conspiratória que opõe “o bem contra o mal” e ecoa o clima tenso nos Estados Unidos, amplificado após o assassinato do ativista de ultradireita Charlie Kirk, aliado de Donald Trump.
Kirk foi atingido por um tiro disparado de um telhado próximo, enquanto falava durante um evento universiátio em Utah. O suspeito preso, Tyler Robinson, de 22 anos, teria confessado indiretamente o crime a um amigo da família, e foram encontradas munições gravadas com frases de fóruns gamers, memes da internet e símbolos políticos.
De um lado, críticos destacaram os discursos radicais de Kirk sobre raça, gênero e porte de armas – que, segundo eles, funcionavam como um ensaio para a incitação à violência. De outro, seus simpatizantes conectam o episódio a uma linha de ataques políticos recentes, como a facada contra Bolsonaro em 2018, o atentado contra Trump em 2024 e o assassinato do político colombiano Miguel Uribe no ano passado: todos reunidos num mesmo enredo que aponta para uma suposta perseguição global à direita.
Foi o caso do empresário Tallis Gomes, que conclamou empregadores a vasculharem as redes de seus funcionários para identificar aqueles que teriam “comemorado” a morte de Kirk. “A ideologia dessa turma mata”, afirmou, em um vídeo publicado nas redes sociais.
Uma mensagem a todos os empresários 🇧🇷 pic.twitter.com/MUvE1Lau6T
— Tallis Gomes (@tallisgomes) September 12, 2025
“Nós, líderes e empregadores, não podemos tratar esse tipo de postura como se fosse normal ou aceitável. O emprego, não é apenas uma forma de trocar dinheiro por horas trabalhadas, é um ato de confiança”, diz em um trecho da publicação. “Nossa arma hoje é o emprego. Se os empreendedores e líderes desse país começarem a olhar para as redes sociais dos seus funcionários e candidatos verão claramente quem escolheu o caminho da luz, e quem se aliou às trevas da inveja, da destruição, da mentira e da morte”, completou.
Em seguida, o empresário acusou a esquerda de promover um “fascismo” destinado a dissolver famílias, enfraquecer a fé e destruir a ordem social. A resposta, segundo ele, deveria ser firme: “Esse tipo de gente não merece emprego.”
Não é a primeira vez que Tallis Gomes investe contra a esquerda brasileira. Em 2024, o empresário renunciou ao comando de uma escola de negócios após afirmar que ‘esquerdistas’ não deveriam ser contratados por supostamente não trabalharem bem.
O discurso encontrou eco em outras vozes do mercado financeiro brasileiro, caso de Eduardo Cavendish, que compartilhou a publicação, com o endosso: “Ótimo vídeo, que mais pessoas tenham a coragem dele”.
Na política, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) foi além: anunciou nas redes que pediria ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), a demissão de um produtor do Theatro Municipal que havia republicado um post classificando Kirk como nazista. Segundo Ferreira, o prefeito teria confirmado a notificação à Fundação Theatro Municipal determinando a exoneração imediata do funcionário.
Em nota, a Fundação Teatro Municipal confirmou que pediu o desligamento do colaborador à organização social que administra o espaço e que está tomando as medidas legais cabíveis. A Fundação disse ainda ter sido surpreendida com a ‘infeliz publicação’, que tem teor ‘inapropriado e incompatível com os valores éticos, culturais e institucionais que orientam o trabalho da Fundação Theatro Municipal e seus equipamentos‘.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

O que se sabe sobre o suspeito de assassinar Charlie Kirk
Por AFP
PF prende estudante suspeito de ameaçar o deputado Nikolas Ferreira nas redes sociais
Por CartaCapital
Como o governo Lula se prepara para a batalha contra a anistia a Bolsonaro
Por Wendal Carmo