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Otan lança operação para proteger Polônia de drones russos

Aliança diz que manobra russa foi ‘inaceitável’ e prepara resposta militar para defender flaco leste. Varsóvia rejeita argumentação de Trump e Putin de que incursão de drones ocorreu por engano

Otan lança operação para proteger Polônia de drones russos
Otan lança operação para proteger Polônia de drones russos
O secretário-geral da OTAN Mark Rutte e o Comandante Supremo Aliado da OTAN Europa, General Alexus G. Grynkewich, falam durante uma conferência de imprensa conjunta sobre a violação do espaço aéreo polonês por drones russos. Créditos: Simon Wohlfahrt / AFP
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A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) lançou uma operação nesta sexta-feira 12 para reforçar seu aparato de defesa em seu flanco leste, na fronteira com Belarus, Rússia e Ucrânia, como resposta à incursão de duas dezenas de drones russos em território polonês na última quarta-feira.

Segundo o principal comandante militar da Otan na Europa, Alexus Grynkewich, a missão batizada de Sentinela Oriental (Eastern Sentry) adicionará equipamentos militares da França, Dinamarca, Alemanha e Reino Unido às bases aéreas e terrestres já existentes.

“A Polônia e os cidadãos de toda a aliança devem estar tranquilos com nossa resposta rápida no início desta semana”, afirmou Grynkewich.

Caças Rafale franceses, F-16 dinamarqueses, uma fragata e novos sistemas de defesa terrestre foram prometidos para a missão, que começa já na noite desta sexta-feira.

O objetivo, segundo ele, é dissuadir uma possível agressão russa na região. “A chave para isso é um desenho de defesa totalmente novo”, disse o general em coletiva de imprensa em Bruxelas.

Otan vê “imprudência” russa

O incidente na Polônia levantou dúvidas sobre a preparação da Otan para ataques de drones e a segurança do transporte aéreo civil europeu.

Na ocasião, a Polônia derrubou a maior parte dos 19 drones que invadiram seu espaço aéreo. No entanto, dois dispositivos atingiram o solo. Esta foi a primeira vez que um membro da aliança militar precisou abrir fogo diante do contexto da guerra russa na Ucrânia.

Diversos líderes europeus classificaram o episódio como uma provocação, e Varsóvia vê uma tentativa russa de testar a capacidade de resposta da Otan. A Alemanha informou que ampliou a vigilância aérea sobre a Polônia e convocou o embaixador russo nesta sexta-feira.

“Embora esta tenha sido a maior concentração de violações do espaço aéreo da Otan que já vimos, o que aconteceu na quarta-feira não foi um incidente isolado”, disse o secretário-geral do Tratado, Mark Rutte, destacando que incidentes semelhantes de menor escala já foram registrados em países como Romênia, Estônia e mesmo na Polônia.
“A imprudência da Rússia no ar ao longo de nosso flanco leste está aumentando em frequência. Seja intencional ou não, é perigoso e inaceitável”, continuou ao lado de Grynkewich.

Polônia rejeita tese de incursão enganosa

Também nesta sexta-feira, a Polônia rejeitou a afirmação do presidente dos EUA, Donald Trump, de que a incursão dos drones russos teria ocorrido por engano.

A repórteres, Trump endossou a justificativa russa de que Moscou não tinha intenção de atingir o território polonês. O Kremlin alegou que os drones foram lançados contra alvos na Ucrânia e que o desvio não foi proposital.

Nas redes sociais, o primeiro-ministro polonês Donald Tusk descartou a argumentação. “Também gostaríamos que o ataque de drones à Polônia tivesse sido um erro. Mas não foi. E nós sabemos disso”, afirmou.

Para Varsóvia, contradizer Trump de forma direta é algo quase inédito e um sinal da preocupação europeia com a disposição do presidente americano em dar peso à versão de Moscou.

A Polônia está entre os aliados mais próximos dos EUA na Europa. Tem elogiado Trump por exigir maior gasto militar europeu e, em contrapartida, foi exaltada pela Casa Branca por dedicar a maior fatia de sua economia à defesa entre todos os aliados da Otan.

À agência de notícias Reuters, o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, disse que o país espera que Washington tome medidas para demonstrar solidariedade com Varsóvia.

Já Grynkewich, que é americano, e Rutte minimizaram as falas de Trump e afirmaram que os EUA estão engajados na segurança da aliança.

O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir nesta sexta-feira, a pedido da Polônia, para discutir o incidente.

Putin suspende negociações de paz

Para líderes europeus, o incidente na Polônia mostra que o presidente russo Vladimir Putin não tem interesse em um acordo de paz na Ucrânia. Nesta sexta-feira, o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov afirmou que seu governo suspendeu as negociações pelo fim da guerra.

Autoridades europeias estiveram em Washington nesta semana na tentativa de coordenar sanções contra a Rússia com a Casa Branca. O anúncio conjunto de sanções era prática comum anteriormente, mas não ocorreu desde o retorno de Trump ao poder.

O Tesouro dos EUA se limitou a pedir aos países do G7 e da União Europeia que impusessem “tarifas significativas” sobre produtos da China e da Índia para impedir suas compras de petróleo russo. Também convocou uma reunião emergencial de ministros das Finanças do grupo das nações desenvolvidas para coordenar esforços pelo fim da guerra.

Os países da UE concordaram nesta sexta-feira em prorrogar regularmente, a cada seis meses, a lista existente de proibições de viagem e congelamentos de contas de pessoas e empresas devido à invasão russa.

Rússia e Belarus realizam exercício militar

A Rússia e sua aliada Belarus iniciaram nesta sexta-feira um exercício militar conjunto de grandes proporções, com manobras em ambos os países e nos mares Báltico e de Barents.

Descartando preocupações estrangeiras, Dmitry Peskov, disse que os países da Europa Ocidental sofrem de “sobrecarga emocional” e que a Rússia não representa ameaça a eles.

A Rússia também prosseguiu com ataques à Ucrânia, matando três pessoas na região de Sumy, no norte do país, ao longo do dia.

Drones ucranianos atacaram o porto russo de Primorsk, no noroeste, incendiando um navio e uma estação de bombeamento, informou o governador regional. Foi o primeiro ataque de drone contra um dos maiores terminais de exportação de petróleo e combustível do país.

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