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Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita às instalações e cerimônia de inauguração do Centro de Tecnologia e Inovação Agroindustrial e de lançamento do programa Valoriza – Acelen Renováveis. Fazenda Boqueirão, BR-135, km 334, Zona Rural, Montes Claros – MG

Fotos: Ricardo Stuckert / PR

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COP30 e o Brasil que se move

Conferência do clima em Belém revela o desafio de conciliar preservação da floresta, desenvolvimento regional e energia limpa enquanto o Brasil busca firmar sua liderança climática no mundo

Conteúdo oferecido por Acelen

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Pela primeira vez, a maior floresta tropical do mundo será também a sede de sua principal conferência climática. A COP30 acontecerá em Belém em novembro de 2025, reunindo representantes de quase 200 países, e coloca a Amazônia mais uma vez no olho das decisões globais, tanto como um território a ser preservado, quanto como um espaço de onde surgem novos caminhos para uma economia menos poluente. 

O encontro deve atrair cerca de 70 mil pessoas, entre chefes de Estado, negociadores, cientistas, organizações sociais, povos indígenas e empresas. A dimensão da conferência coloca pressão sobre o Brasil, que terá de equilibrar o papel de anfitrião com a necessidade de apresentar avanços concretos na sua política ambiental. 

O papel brasileiro 

A presidência da COP dá ao país maior poder de articulação, mas também aumenta as cobranças. O Brasil concentra mais de 60% da Amazônia e é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Nos últimos anos, oscilou entre picos de desmatamento e, recentemente, períodos de redução, agora precisa demonstrar consistência. 

A COP30 será também o momento em que os países terão de apresentar novas metas de redução de emissões, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês). Ao mesmo tempo Belém será o palco de negociações sobre o Roadmap Baku-Belém, iniciativa que pretende levantar US$ 1,3 trilhão até 2035 para financiar projetos de mitigação e adaptação. Outra proposta é o fundo Tropical Forest Forever Facility, voltado à conservação das florestas tropicais, com recursos iniciais de US$ 125 bilhões. 

Para o Brasil, o desafio é mostrar que é possível reduzir o desmatamento, ampliar a geração de energia limpa e criar empregos em regiões que historicamente ficaram à margem do desenvolvimento. A escolha de Belém como sede reforça esse objetivo de aproximar a agenda climática de uma realidade social marcada por desigualdade, pressão sobre os recursos naturais e a busca por alternativas econômicas sustentáveis. 

Energia em transformação 

A energia será um dos eixos mais debatidos da conferência. O Brasil tem uma matriz elétrica em que quase 90% da geração já vem de fontes renováveis, especialmente hidrelétricas, eólicas e solares. É também referência histórica no uso de biocombustíveis como o etanol da cana-de-açúcar. 

Na matriz energética, que representa o conjunto de fontes de energia utilizadas para movimentar carros, preparar comida e também gerar eletricidade, o Brasil tinha 47,4% de fontes renováveis, contra 14,3% da média mundial em 2022, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). As fontes não renováveis de energia são as maiores responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa (GEE). 

Apesar desses avanços, setores intensivos em emissões como o refino e a produção de combustíveis fósseis, ainda são predominantes. A pressão global por alternativas menos poluentes faz crescer a necessidade de inovação em escala industrial. O Brasil, por suas características naturais e posição geopolítica, tem a chance de oferecer soluções que conciliam segurança energética, diversificação da matriz e inclusão social. 

Esse contexto abre espaço para empresas que investem em novos modelos de produção. Projetos que unem tecnologia, preservação e desenvolvimento regional serão observados de perto em Belém, dentro e fora das negociações oficiais. 

Macaúba 

Um exemplo desse movimento é a Acelen Renováveis, que aposta na macaúba como matéria-prima para produção de biocombustíveis de nova geração. A planta, nativa do Brasil, cresce em áreas degradadas e atinge alta produtividade por hectare. De seus frutos é possível extrair óleo tanto da polpa quanto da amêndoa, usado para diversos fins, inclusive para a produção de diesel renovável (HVO) e combustível sustentável de aviação (SAF). 

A empresa projeta capacidade de até 1 bilhão de litros por ano de biocombustíveis, com redução estimada de até 80% nas emissões se comparado aos combustíveis tradicionais. O cultivo está previsto principalmente em Minas Gerais e na Bahia, incluindo parcerias com agricultores familiares. Estudos indicam que famílias que cultivarem 10 hectares da planta poderão ter aumento expressivo de renda, em regiões que carecem de alternativas econômicas. 

Além da produção em escala, o projeto prevê centros de pesquisa e inovação, como o Acelen Agripark em Montes Claros (MG), inaugurado no dia 29 de agosto, dedicado ao desenvolvimento de mudas e tecnologias para o cultivo sustentável da macaúba. O local reúne pesquisa, inovação e tecnologia para desenvolver a matéria-prima, grande aposta para a produção de 1 bilhão de litros de combustível sustentável de aviação (SAF) e diesel verde (HVO), por ano. 

“Nós temos mais de 40 milhões de hectares de terra degradadas que a gente pode recuperar produzindo outras coisas que não aquilo que a gente já planta. Por isso, o dia de hoje é muito especial para mim, é a concretização de um sonho que está se transformando, definitivamente, em realidade. E eu vi a cara das jovens e dos jovens que trabalham nessa fábrica e eu, sinceramente, vi os olhos de pessoas que sonham”, disse o presidente Lula durante a inauguração do Acelen Agripark. 

Convergência em Belém 

A COP30 não será apenas uma arena diplomática. A presença de governos, comunidades locais, cientistas e empresas mostra que a transição energética vai além das negociações entre Estados. Belém deve se tornar o espaço onde se encontram diferentes visões de futuro: desde políticas públicas para frear o desmatamento até projetos que buscam integrar inovação, geração de renda e redução de emissões. 

O Brasil tem diante de si a oportunidade de demonstrar que pode alinhar preservação ambiental e desenvolvimento econômico. A floresta, a energia e as comunidades que vivem em áreas sensíveis do território nacional fazem parte de uma equação que precisa ser resolvida além dos discursos, mas em práticas verificáveis. 

Nesse mesmo movimento, iniciativas em outras regiões do país mostram que há caminhos para reduzir emissões e gerar desenvolvimento. O projeto da Acelen Renováveis, voltado à regeneração de áreas degradadas na Bahia e em Minas Gerais, é um exemplo de como empresas privadas podem contribuir para a transição energética sem ampliar a pressão sobre os biomas. 

O país que sedia a conferência não é só o guardião das florestas, mas um ator capaz de propor alternativas energéticas que dialogam com os grandes desafios globais.


Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da República.

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