Política

Polícia investiga suposto abate irregular de cães resgatados no Rio Grande do Sul

A ex-secretária de Bem-Estar Animal de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, estaria envolvida; a suspeita é de que ela pediria Pix para tratamentos dos animais, que eram sacrificados logo em seguida

Polícia investiga suposto abate irregular de cães resgatados no Rio Grande do Sul
Polícia investiga suposto abate irregular de cães resgatados no Rio Grande do Sul
Segundo a Policia, animais resgatados eram eutanasiados. Créditos: Reprodução RBS TV
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A Polícia Civil do Rio Grande do Sul cumpriu, na manhã de quinta-feira 4, seis mandados de busca e apreensão em uma operação que apura um suposto caso de abate irregular de cães na Secretaria de Bem-Estar Animal de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

A investigação começou após denúncias e a constatação de que o número de eutanásias no local estava acima do esperado: cerca de 240 em 8 meses.

Uma das pessoas investigadas estaria resgatando cães e pedindo doações via Pix pela internet, para suposto tratamento dos animais. No entanto, os cães estariam sendo sacrificados irregularmente pouco após as publicações. A estrutura da Secretaria municipal era usada no esquema. Além dos maus-tratos, os policiais investigam também um possível crime de lavagem de dinheiro.

“O que nós observamos e colhemos de indícios é de que ocorria ali uma matança desmedida de cães. O motivo? Ganho financeiro de uma das investigadas. Identificamos que ela, que tinha cargo de gestão, recolhia animais doentes na rua, postava em suas redes sociais para pedir depósitos via Pix a título de tratamento e, depois de um tempo, esses animais simplesmente sumiam”, explicou a delegada Luciane Bertolletti, titular da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas, e que está à frente do caso.

A Polícia não divulgou o nome dos investigados, mas a ex-secretária da pasta, Paula Lopes, confirmou nas redes sociais ter sido um dos alvos das buscas. Na publicação, ela compartilha um vídeo gravado por seu advogado justificando a apreensão de um montante em dinheiro vivo na residência. Ele diz que o dinheiro tem origem na venda de um imóvel. Ao todo, segundo a imprensa local, os agentes recolheram 100 mil reais com a investigada.

Na mesma publicação, a defesa de Paula Lopes alega que a ação policial contra a cliente seria uma “perseguição política” de pessoas que, segundo diz, teriam se incomodado “com o bom trabalho” feito por ela enquanto esteve na Secretaria municipal. Ela assumiu o cargo em janeiro de 2025 e foi exonerada no dia 18 de agosto.

No mesmo perfil nas redes, Paula já disse ter sido levada ao cargo por uma indicação do deputado federal Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara e cotada ao cargo de governador em 2026. O político nega ser o fiador da ex-secretária. Apesar da negativa, ele aparece em dezenas de publicações no perfil. Em uma delas, a ex-secretária agradece uma emenda de meio milhão de reais enviada pelo deputado do PL para custear a proteção animal na cidade. Zucco chegou a visitar a Secretaria para divulgar a chegada do dinheiro.

Maus-tratos contra gatos

Os agentes também apuram, na mesma operação, supostos maus-tratos contra gatos. Segundo a Polícia Civilos felinos ficavam trancados em um contêiner de maneira irregular. Na sede da pasta, os policiais encontraram cães e gatos mortos em sacos plásticos.

A investigação busca, agora, esclarecer o que aconteceu com os animais mantidos pela gestão municipal. No local, os agentes também procuraram registros de entrada e saída dos animais.

Além da ex-secretária, a Polícia do RS também fez buscas na casa de uma médica veterinária, ainda não identificada publicamente, que teria atuado junto à Secretaria municipal. Um homem suspeito de transportar os restos mortais dos animais também teve endereços revistados pelos agentes.

CartaCapital procurou a prefeitura de Canoas, comandada por Airton Souza (PL), mas ainda não obteve retorno.

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