Economia
A todo vapor
O governador sergipano Fábio Mitidieri celebra os investimentos recordes no setor energético


O governador de Sergipe ainda se recuperava de uma pneumonia, a segunda em menos de um ano, quando concedeu esta entrevista. Fábio Mitidieri, do PSD, venceu o senador petista Rogério Carvalho por uma diferença de 40 mil votos em 2022. Apesar da vitória apertada, ele tem bom trânsito na esfera federal, com quem trabalha em grandes projetos de infraestrutura, saneamento e exploração de gás natural. Nesta conversa, Mitidieri falou sobre os investimentos, a possibilidade de reeleição (sua avaliação está em 40% positiva, 33% regular e 17% negativa, segundo a Quaest), indicadores de gestão e programas sociais, além de celebrar a alta do turismo e a geração de empregos.
CartaCapital: Em primeiro lugar, como está a sua saúde?
Fábio Mitidieri: Estou melhor. Tem hora que o corpo para de repemte, a imunidade cai. Aceitei fazer um repouso mais rigoroso a pedido do médico. Mesmo assim, ainda trabalhei um pouco online.
CC: Isso pode atrapalhar a campanha à reeleição no ano que vem?
FM: Peço a Deus que me dê saúde. Sobre a reeleição, estou tranquilo. É como um plebiscito: se a população aprova, reelege, se não aprova, troca, busca outra alternativa.
CC: E a população está gostando?
FM: Vivemos um bom momento. Os indicadores socioeconômicos estão positivos. Desde que assumimos, o estado deu uma guinada na economia. Sempre digo que o meu carro-chefe é a gestão. Gosto de destacar um dado. No início de 2023, a diferença entre os beneficiários do Bolsa Família e os trabalhadores com carteira assinada era de 100 mil. Hoje, dois anos e oito meses depois, caiu para 12 mil. Minha meta é zerar essa diferença e inverter a tendência. Isso é emblemático.
CC: O que tem de novidade na gestão?
FM: Acredito muito em planejamento estratégico. Criei a Secretaria de Planejamento, que não existia, e fiz um diagnóstico da situação. As contas estavam equilibradas, mas havia carência de investimentos e de planejamento de médio e longo prazo. Identificamos as necessidades, estruturamos um banco de projetos e elaboramos uma programação para os próximos 20, 30 anos. Esse modelo foi replicado em todas as pastas, como Emprego, Educação e Turismo.
CC: E a exploração de gás natural?
FM: Sergipe tem vocação para petróleo e gás e estamos prestes a viver um novo ciclo com a exploração do pré-sal da Sergipe Águas Profundas (Seap). Trata-se do maior investimento da Petrobras nos próximos anos. Serão 116 bilhões de reais apenas na Seap. A licitação das duas plataformas FPSO ocorrerá em 30 de setembro, e estamos com grande expectativa.
CC: Como o governo investe na qualificação da mão de obra para essas indústrias de energia?
FM: Estimulamos profissionais locais das áreas de petróleo e gás, elétrica e mecânica. Por meio do Qualifica Sergipe, promovemos capacitação e vamos implementar a primeira faculdade estadual com consultoria da FGV, oferecendo cursos em tecnologia e petróleo e gás. Sergipe é um pequeno gigante em energia: petróleo, gás, hidrelétrica, termoelétrica, solar e eólica. Não podemos perder essa oportunidade, porque ela pode redefinir o futuro do estado.
“Sergipe é um pequeno gigante em energia”
CC: Como utilizar os royalties com sabedoria para as próximas gerações?
FM: Há expectativa de que, após o início da exploração do gás, parte dos royalties, cerca de 1 bilhão de reais por ano, seja destinada ao desenvolvimento econômico de outros setores. O objetivo é diversificar e evitar a dependência, pois a vida útil do gás gira em torno de 20 anos. Vou propor por lei que esses recursos sejam direcionados a um Fundo de Desenvolvimento Econômico para reindustrializar o estado. Para Sergipe, que arrecada 19 bilhões de reais por ano, é muito significativo.
CC: Como atrair mais turistas?
FM: A reforma e a expansão do aeroporto foram importantes. Também concedemos isenção de ICMS para o combustível de aviação, o que atraiu novos voos para Aracaju e trouxe mais visitantes. Além disso, investimos na recuperação das estradas, porque o interior também tem muitas atrações turísticas. Fizemos melhoras na orla, no mercado, e criamos um calendário de eventos. Acredito que a sensação de segurança do turista é um dos melhores investimentos. Quando alguém vem e se sente seguro, isto se torna motivo de orgulho para o nosso povo.
CC: Fomenta os serviços…
FM: Sim. A rede hoteleira está em expansão, a arrecadação de impostos cresce e há geração de empregos no setor de serviços. Também recebemos muita gente de outros estados que se muda para Aracaju, em busca de qualidade de vida. Só em 2024, o setor de serviços movimentou 11 bilhões de reais. Quando essa atividade cresce, é sinal de aumento do poder aquisitivo geral. Hoje temos a menor taxa de desemprego da história, o que reflete diretamente na economia.
CC: E como o governo combate a pobreza?
FM: A melhor política para reduzir a pobreza é o emprego. Mas não é simples. Primeiro, precisamos garantir que ninguém enfrente insegurança alimentar. O programa Sergipe Sem Fome é uma política pública guarda-chuva que reúne várias ações. Inclui o Prato do Povo, que oferece refeições gratuitas, o programa de construção de creches, cartões de transferência de renda, que apoiam o pequeno produtor na entressafra, e o Roda Bem, que isenta o primeiro emplacamento de motos de até 160 cilindradas para quem recebe até dois salários mínimos.
CC: O empreendedorismo também?
FM: Sim. Temos a CNH Social, que distribuiu gratuitamente 3 mil carteiras neste ano para motoristas com renda de até dois salários mínimos. Vamos lançar a CNH do Caminhoneiro, que dará a primeira habilitação a quem recebe até três salários mínimos, já que a carteira de caminhão custa quase 5 mil reais. Além disso, compramos equipamentos e entregamos a associações de pescadores, tecelagem e outras atividades para a geração de renda, permitindo que as famílias se sustentem pelo trabalho e não dependam de programas sociais. Reunimos ações que vão do prato de comida imediato à qualificação da mão de obra, incluindo parceria com pequenos produtores e investimento em educação com a construção de creches e cursos. •
Publicado na edição n° 1378 de CartaCapital, em 10 de setembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A todo vapor’
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