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Como salvar os Correios

Um plano possível e a liderança necessária

Como salvar os Correios
Como salvar os Correios
Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado
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A prestação de serviços de correios no Brasil insere-se em uma dinâmica de interconexão territorial nacional e integração internacional. Um dos principais objetivos é combater as assimetrias regionais, ofertando serviços de mesma qualidade e preço, independentemente do nível de desenvolvimento de cada localidade. O elemento estratégico dessa opção constitucional é manter a coesão sociodemográfica.

O setor postal encontra-se em pleno crescimento e forte expansão, submetido, evidentemente, à rápida transformação da comunicação tradicional para a comunicação digital e com o crescimento acelerado de envios para entregas de bens, serviços e mercadorias, conformando o chamado comércio eletrônico.

Entretanto, contrastando com o crescimento econômico do setor de atuação, os números recentes dos Correios não deixam margem para dúvida. Com prejuízo de 2,6 bilhões de reais em 2024 e resultado negativo de 1,72 bilhão no primeiro trimestre de 2025, a situação é, de fato, a mais grave de sua história. Esta crise, longe de ser um fenômeno isolado, é o resultado de uma trajetória de má gestão que impacta diretamente a qualidade dos serviços, a credibilidade da empresa e, sobretudo, a vida de seus 86 mil profissionais e de milhões de brasileiros que dependem de sua operação.

Por mais sombrio que o cenário se apresente, é, porém, fundamental que a sociedade e o governo compreendam que a crise não é irreversível. A reversão é plenamente possível e as ações necessárias para isso não são secretas. Elas passam por um plano estratégico robusto que aborde o reequilíbrio financeiro, a modernização operacional e a readequação do modelo de negócios da empresa.

Dentre todas as medidas, uma, em especial, deve ser vista como o ponto de partida e a mais crucial para o acionista e a sociedade brasileira: o restabelecimento de gestão profissional e competente e a adoção de um modelo de governança robusto e transparente. A proliferação de indicações políticas a cargos diretivos tem sido uma das causas raiz da desprofissionalização da gestão. Essa prática tem minado a capacidade da empresa de tomar decisões técnicas e estratégicas, priorizar a saúde financeira em detrimento de gastos questionáveis e implementar planos de longo prazo com a consistência necessária. É urgente que o governo federal nomeie para a diretoria e para os cargos de gestão executiva profissionais com profundo conhecimento do setor de logística, comprometidos com a recuperação e a ética, e que não estejam vinculados e a serviço de meros interesses políticos.

Além da gestão profissional, a recuperação dos Correios passa por ações concretas, como a capitalização emergencial da empresa para recompor o caixa e regularizar os pagamentos a fornecedores. É preciso também explorar as oportunidades abertas pela Lei nº 12.490, que permite a diversificação de serviços e a modernização da atuação da empresa, aproveitando sua capilaridade única para atuar em logística de e-commerce e serviços de proximidade.

A recuperação da maior empresa logística do País depende da vontade política de agir e do compromisso verdadeiro com o interesse público. A solução para a crise passa, acima de tudo, pelo reconhecimento de que a competência técnica e o compromisso ético devem prevalecer sobre a conveniência política. O futuro dos Correios, e de sua função social para o Brasil, depende dessa escolha. •


*Presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP).

Publicado na edição n° 1378 de CartaCapital, em 10 de setembro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Como salvar os Correios’

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