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Se vivemos em uma democracia sólida, muito se deve a ele, diz Lula sobre a morte de Mino

O presidente decretou 3 dias de luto oficial pela morte do fundador de CartaCapital

Se vivemos em uma democracia sólida, muito se deve a ele, diz Lula sobre a morte de Mino
Se vivemos em uma democracia sólida, muito se deve a ele, diz Lula sobre a morte de Mino
24.06.2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com o jornalista Mino Carta. São Paulo/SP. Foto: Ricardo Stuckert / PR
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Mino Carta mostrou que a imprensa livre e a democracia andam de mãos dadas, escreveu o presidente Lula (PT) sobre a morte do fundador de CartaCapital, aos 91 anos, nesta terça-feira 2. O político foi um dos muitos a lamentar o falecimento do jornalista que comandou importantes veículos de imprensa do País.

“Em meio ao autoritarismo do regime militar, as publicações que dirigia denunciavam o abuso dos poderosos e traziam a voz daqueles que clamavam pela liberdade”, disse o presidente sobre a morte de Mino, de quem era amigo. “Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou”, sustentou mais adiante.

Ainda na publicação, Lula também lembrou dos seus primeiros contatos com Mino, quando ainda era dirigente sindical, e da participação do jornalista na luta pelas Diretas Já.

“Conheci Mino há quase cinquenta anos, quando ele, pela primeira vez, deu destaque nas revistas semanais para as lutas que nós, trabalhadores reunidos no movimento sindical, estávamos fazendo […]. Foi ele quem abriu espaço para minha primeira capa de revista”, citou o presidente. “Desde então, nossas trajetórias seguiram se cruzando. Eu, como liderança política, ele, como um jornalista que, sem abdicar de sua independência, soube registrar as mudanças do Brasil”, completou.

Lula decretou luto oficial de três dias no País.

Mino e o então sindicalista Lula. A primeira capa de revista do futuro presidente do Brasil foi obra de Mino. Foto: Acervo Pessoal

Ministros lamentam

A morte de Mino Carta marca a partida de um dos maiores jornalistas do Brasil, escreveu o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (PSB), em uma rede social.

“Mino Carta dedicou toda sua vida à criação e ao desenvolvimento de publicações que fizeram história na imprensa brasileira, dando voz à defesa dos valores democráticos”, destacou Alckmin ao lembrar o papel de Mino na criação das revistas Veja, em 1968, IstoÉ, em 1976, e CartaCapital, em 1994. “Que seu exemplo siga inspirando as novas gerações de jornalistas”, completou o vice-presidente.

Luiz Marinho, ministro do Trabalho, afirmou que “sua trajetória, guiada por princípios firmes, pela fidelidade aos fatos e pelo espírito crítico, merece reverência”. Camilo Santana, chefe da pasta da Educação, disse desejar que o “legado imenso no jornalismo brasileiro e o amor no exercício da profissão sigam inspirando” novas gerações.

“O jornalismo brasileiro se despede de Mino Carta, uma das figuras mais emblemáticas de sua história”, anotou Rui Costa, chefe da Casa Civil. “Dedicou sua vida à informação com coragem e compromisso com a democracia”, publicou Simone Tebet, ministra do Planejamento.

Dilma e Mercadante

Para a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), atualmente no comando do Banco dos Brics, Mino foi o responsável por abrir uma brecha na blindagem da censura durante a ditadura. “Em plena vigência do AI-5, publicou na Veja, em 1968, a reportagem que denunciou 150 casos de tortura nos porões da ditadura. A edição foi apreendida nas bancas, mas abriu uma brecha na blindagem da censura”, lembrou.

“Mino sempre foi uma voz forte e pujante do jornalismo brasileiro, tendo uma vida dedicada ao Brasil e à democracia. Ao fundar a CartaCapital em 1994, o jornalista inovou e abriu espaço para a pluralidade de pensamento nas publicações semanais, sendo um dos precursores da mídia independente no País”, disse Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, sobre o falecimento.

“Nascido em Gênova, na Itália, Mino Carta teve papel importante na imprensa durante momentos como a redemocratização do Brasil. Ele deixa um legado criativo e de compromisso com a verdade”, descreveu a CNI em uma nota de pesar.

O MST, também em nota, lembrou da linguagem firme adotada por Mino para avaliar a desigualdade no País. “Crítico e comprometido com a verdade, desafiou o poder e defendeu um jornalismo independente. Denunciou injustiças, alertou para os riscos das redes sociais e jamais deixou de questionar a Casa Grande“, disse o movimento.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, assim como Dilma, mencionou a denúncia dos casos de tortura feita por Mino na década de 1960, ao repercutir a notícia da sua morte. “A trajetória de Mino Carta foi marcada pela coragem e pela resistência à ditadura militar brasileira. Quando esteve à frente da Veja, denunciou casos de tortura, enfrentou a censura e as ameaças impostas pelo regime. Sua atuação firme e ética fez dele um dos mais importantes críticos do autoritarismo no país”, anotou a entidade.

Comoção no Congresso

No Congresso, a notícia da morte de Mino também gerou comoção. Orlando Silva, ex-ministro e deputado federal pelo PCdoB-SP, disse que o País perde um intelectual refinado, que se destacava pelo bom texto e a robustez analítica. “Um Jornalista que fará muita falta nesses tempos em que a desinformação e a manipulação ganham espaço, quando a corrida pelo like fácil preside as preocupações”, anotou o parlamentar. “Deixa um enorme legado.”

Outra a mensagem partiu de José Guimarães, deputado do PT-CE que lidera a bancada do governo na Câmara. “Sua coragem, inteligência e compromisso com a verdade marcaram gerações e deixaram um legado que jamais será esquecido”, publicou em seu perfil.

Pepe Mujica, Lula e Mino reunidos. Foto: Acervo Pessoal

“Para os que defendem a democracia, ele deixa um legado que moldou a forma como o jornalismo pode se tornar instrumento para enfrentar o autoritarismo”, escreveu o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) em nome da bancada petista da Câmara, da qual é líder.

“Um gigante do jornalismo brasileiro, que ousou enfrentar poderosos e dar voz ao que a imprensa tradicional silenciava. Sua coragem e compromisso com a verdade foram inspiração para tantas lutas democráticas”, afirmou Talíria Petrone, líder da bancada do PSOL na Câmara. “Seguiremos lembrando que comunicação também é trincheira de resistência. Obrigada, Mino, por abrir caminhos”, completou.

No Senado, Fabiano Contarato (PT-ES) descreveu a trajetória de Mino como “parte da própria história da imprensa no Brasil”. O senador Humberto Costa (PT-PE) lembrou, nas redes, que “Mino sempre manteve compromisso inabalável com a verdade e deixou um legado inestimável”. “Mino Carta é um pioneiro, exemplo para várias gerações de compromisso com a verdade e a isenção”, completou Renan Calheiros (MDB-AL).

Randolfe Rodrigues (PT-AP), que lidera a bancada do governo no Congresso Nacional, disse que Mino “é um desses, imortal não só pelas palavras, mas sobretudo pelas ações”. “Que privilégio tê-lo conhecido! Faremos de sua ausência presença viva, porque a coragem não morre, apenas se multiplica”, completou o parlamentar.

Ainda no mundo político, o PT também publicou nota sobre o falecimento. “Sua postura em defesa da verdade e a dedicação a um jornalismo justo e livre de amarras são um exemplo a ser seguido”, escreveu o partido no comunicado. “Seu trabalho jornalístico foi, e continuará sendo, uma voz em prol da democracia e dos direitos de todos os cidadãos.”

O Instituto Lula, nas redes, destacou uma foto do encontro recente entre o presidente e Mino e disse que o legado do jornalista na luta pela democracia, liberdade de expressão e pela justiça social “continuará a inspirar”.

Roberto Requião (PDT), ex-governador e ex-senador pelo Paraná, lamentou a passagem do amigo. “Grande jornalista, velho e bom amigo. Havíamos combinado uma macarronada em sua casa, em São Paulo, não foi possível. Porém, ainda vamos nos encontrar”, publicou o político.

Referência na imprensa

A morte de Mino também foi destaque nos principais veículos de imprensa do País nesta terça. O Globo, por exemplo, lembrou o embate do jornalista contra a ditadura brasileira. A publicação relata um dos trechos do interrogatórios conduzidos pelo delegado Sérgio Fleury. “Se eu quiser fecho sua revista”, ameaçou o agente do regime. “Minha não, dos Civita”, rebateu Mino.

A passagem citada pelo jornal foi descrita pelo fundador de CartaCapital em entrevista recente a Lira Neto. A conversa com Neto deu origem ao livro Mino Carta: Sem fé, nem medo publicado pelo Centro de Memória do IREE. O instituto chefiado por Walfrido Warde, em comunicado nas redes, destacou a obra e chamou Mino de “jornalista brilhante e figura central da imprensa brasileira”. “Marcou a história do país com seu compromisso inabalável com a crítica, a independência editorial e a democracia.”

Mino Carta no comando da redação da revista ‘Veja’. Foto: Acervo Pessoal

“Referência no jornalismo”, escreveu o UOL, mesmo termo usado pela emissora CNN Brasil. O g1 e a GloboNews mencionam, ao tratar da trajetória de Mino no Brasil, o seu papel na revolução da linguagem e diagramação do Jornal da Tarde e do Jornal da República. Ele ainda foi descrito como “um dos papas do jornalismo” pelo site do Novo Dia e como a “voz da imprensa independente” pelo GGN.

Carlos Nascimento classificou Mino como a figura de um jornalista épico. “Genovês, não por acaso, assim como Cristóvão Colombo e quatro Papas. Em tempos modernos não me acanha compará-lo a Gay Talese, Joseph Pulitzer e Ernest Hemmingway. Transmitiu a gerações de profissionais o estilo, a visão e a prática de um Jornalismo literário, altivo, polêmico e inovador.”

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