Esporte

Boxeadora Imane Khelif abre batalha judicial contra testes de feminilidade

Nos Jogos de Paris-2024, a atleta foi alvo de ataques e de uma campanha de desinformação

Boxeadora Imane Khelif abre batalha judicial contra testes de feminilidade
Boxeadora Imane Khelif abre batalha judicial contra testes de feminilidade
Imane Khelif, da Argélia, sai após sua partida preliminar feminina de boxe das oitavas de final até 66 kg contra a italiana Angela Carini durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024 na North Paris Arena, em Villepinte, em 1º de agosto de 2024. (Foto de MOHD RASFAN / AFP)
Apoie Siga-nos no

A boxeadora argelina Imane Khelif, campeã olímpica nos Jogos de Paris-2024, entrou na justiça desportiva contra o novo regulamento da World Boxing sobre a obrigatoriedade da realização do teste de feminilidade, anunciou o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) nesta segunda-feira 1º.

Um ano depois de virar manchete por uma polêmica no torneio olímpico sobre seu gênero, Khelif recorre agora contra a norma que a impede de participar de competições internacionais de boxe sem passar por um teste cromossômico prévio, explicou o TAS, que ainda não definiu uma data para a audiência.

Especificamente, a argelina pede que a decisão do World Boxing, que a impediu de competir no torneio de Eindhoven em junho — a primeira competição sujeita a esse novo regulamento —, seja anulada e quer poder participar “sem testes” do Campeonato Mundial em Liverpool, que começa nesta quinta-feira e vai até o dia 14 de setembro.

Essa última solicitação quase não tem chances de ser atendida porque o TAS não concedeu uma liminar permitindo que Khelif dispute o Mundial.

Nos Jogos de Paris-2024, Khelif foi alvo de ataques e de uma campanha de desinformação, assim como a boxeadora taiwanesa Lin Yu-ting, com comentários ofensivos que a retratavam como “um homem que luta contra mulheres”.

A argelina de 26 anos foi campeã olímpica na categoria até 66 kg.

Detecção de cromossomos

Nascida e criada como mulher, Khelif foi acusada pelo antigo órgão olímpico do boxe, a IBA, de ter cromossomos XY e, por isso, foi excluída do Mundial de 2023, depois de competir até então na categoria feminina sem gerar controvérsias.

Sua ação no TAS proporcionará um primeiro debate judicial sobre o retorno no esporte mundial – além do boxe – de testes genéticos destinados a determinar o sexo biológico, como já aconteceu nos Jogos Olímpicos entre 1968 e 1996.

Por meio de um teste de PCR, o objetivo é abrir acesso à categoria feminina para mulheres sem o “gene SRY”, localizado no cromossomo Y e indicador de masculinidade.

Estes testes descartariam, para as competições femininas, as atletas transgênero e também as que sempre foram consideradas como do sexo feminino, mas que apresentam cromossomos XY, ou seja, uma das formas de “diferenças de desenvolvimento sexual” ou intersexualidade.

Grupo de trabalho do COI

Depois dos Jogos de Atlanta-1996, o mundo olímpico retirou os testes de feminilidade devido a inúmeras críticas, que partiram desde Associação Médica Mundial a organizações de Direitos Humanos e científicas.

“A determinação do sexo biológico é muito mais abrangente” do que a equação “XY = homem”, advertiu recentemente o cientista australiano Andrew Sinclair, que descobriu o gene SRY em 1990.

Além dos cromossomos, “as características gonadais, hormonais e sexuais secundárias desempenham todas elas um papel”, lembrou.

Sob pressão diante do ressurgimento dos testes de feminilidade, a nova presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Kirsty Coventry, lançou no final de junho um grupo de trabalho sobre o acesso à categoria feminina, o que deve levar a diretrizes claras.

Desde o final de 2021, o COI emitiu recomendações simples às federações internacionais, induzindo-as especificamente a não “assumir” uma vantagem competitiva injusta “devido à intersexualidade, aparência física ou identidade transgênero de uma atleta”.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo