O BB sob ataque

Há semanas, bolsonaristas promovem uma sórdida campanha contra o Banco do Brasil. Nas redes sociais, lideranças políticas têm instigado correntistas a sacar seus recursos, alegando que a instituição estaria ameaçada de falência após as sanções impostas pelos EUA a Alexandre de Moraes, do STF. O ministro possui conta no BB, por meio da qual recebe seu salário. Há o temor de que o banco mais antigo do País sofra retaliações, caso ignore determinações do governo Trump, que tem usado a LEI MAGNITSKY para atingir o julgador de Bolsonaro. Convém lembrar que a Lei do Colarinho Branco, de 1986, proíbe a disseminação de informações falsas sobre o sistema financeiro, crime punido com dois a seis anos de prisão.

Eduardo Bolsonaro pode ter incorrido nessa prática ao pregar a fuga de capitais do BB. O mesmo vale para o deputado Gustavo Gayer, do PL de Goiás. A Advocacia-Geral da União pediu à Polícia Federal a abertura de inquérito a respeito. Em outro flanco, ruralistas, que jamais esconderam a predileção por Bolsonaro, têm apresentado pedidos de recuperação judicial para postergar o pagamento de dívidas. O CALOTE tem cheiro de sabotagem e já afetou o lucro da instituição em 2024.

Enquanto isso, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou, na terça 26, o texto-base do Projeto de Lei 410/25, que amplia o Programa Estadual de Regularização de Terras. Desde 2023, ele permite que RURALISTAS comprem áreas devolutas com até 90% de desconto, para legalizar posses irregulares. Agora, será possível obter os mesmos benefícios para terrenos com mais de 2,5 mil hectares, por meio da criação de condomínios – forma de burlar o limite fixado pelo artigo 188 da Constituição, segundo o qual a alienação de terras públicas acima dessa extensão depende de aprovação prévia do Congresso.

De autoria do governador Tarcísio de Freitas, o projeto premia grileiros e desmatadores. Na lista de beneficiários do programa, figura o pecuarista Antônio José Junqueira Vilela Filho, o AJ Vilela ou Jotinha. Em 2023, ele e duas irmãs se inscreveram para regularizar fazendas sobrepostas a terras públicas. Os irmãos buscam consolidar mais de 3,3 mil hectares no município de Pirapozinho, no extremo-oeste paulista.

Jotinha foi condenado pela Justiça Federal por desmatamento ilegal no Pará e é réu por GRILAGEM, trabalho escravo e outros crimes. A revelação, feita por Mariana Serafini no site de CartaCapital, motivou a deputada Ediane Maria do Nascimento, do PSOL, a protocolar um pedido de CPI para investigar a concessão de terras devolutas a desmatadores.

Ainda nesta edição, Wilson Tosta mostra como o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais – compensado pelo aumento da tributação de “quem mora na cobertura”, como costuma dizer o ministro Fernando Haddad – deve enfrentar forte resistência no CONGRESSO. O patrimônio médio dos parlamentares é 62 vezes maior que o da média da população brasileira, revela estudo da FGV Social.

Boa leitura!

Publicado na edição n° 1377 de CartaCapital, em 03 de setembro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O BB sob ataque’