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‘The Economist’ diz que Brasil dá ‘lição de democracia aos EUA’ ao fechar o cerco contra golpistas

A reportagem da tradicional revista britânica repercute o julgamento de Bolsonaro, que deve começar no dia 2 de setembro, e faz duras críticas a Donald Trump

‘The Economist’ diz que Brasil dá ‘lição de democracia aos EUA’ ao fechar o cerco contra golpistas
‘The Economist’ diz que Brasil dá ‘lição de democracia aos EUA’ ao fechar o cerco contra golpistas
Jair Bolsonaro e Donald Trump em 2020 – Foto: Agência Brasil
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A edição desta semana da tradicional revista britânica The Economist traz, como reportagem de capa, um texto que destaca o iminente julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado no Brasil, e compara com a situação vivida pelos Estados Unidos após o fim do primeiro governo de Donald Trump.

Na capa, a publicação traz uma montagem que apresenta Bolsonaro caracterizado como Jacob Chansley, que ficou conhecido como ‘o viking do Capitólio’ ou ‘o chifrudo do capitólio’ e se tornou símbolo da invasão de apoiadores de Trump à sede do Congresso dos EUA em 2021. A primeira página traz ainda a frase “o que o Brasil pode ensinar aos EUA”.

Print do site da The Economist sobre o julgamento de Bolsonaro – Imagem: Reprodução/The Economist

A reportagem, intitulada O Brasil oferece aos EUA uma lição sobre maturidade democrática, faz uma comparação entre as situações vividas pelos dois países desde que os presidentes de extrema-direita, Trump e Bolsonaro, perderam as eleições.

A já citada invasão ao Capitólio é comparada aos ataques golpistas de 8 de Janeiro de 2023 em Brasília. A revista afirma, ainda, que a tentativa de golpe no Brasil falhou “por incompetência, e não por [falta de] vontade”.

“Bolsonaro e as pessoas que tramaram com ele devem ser condenados”, aponta a revista, que diz ainda que o Brasil deve se tornar uma referência para outros países que enfrentaram a “febre populista” – incluindo o próprio Reino Unido, país de origem da Economist, onde Nigel Farage, o inspirador do Brexit, é bem cotado em pesquisas eleitorais.

Apesar de o caso brasileiro ser referência para outras democracias pelo mundo, a publicação aponta que a grande comparação deve mesmo ser feita com os Estados Unidos, um país que, segundo a revista, está se tornando “mais corrupto, protecionista e autoritário” sob Trump.

“Enquanto o governo Trump pune o Brasil pelo processo contra Bolsonaro, o País está determinado a salvaguardar e fortalecer sua própria democracia”, avalia a Economist. “Um motivo é que a memória da ditadura no Brasil ainda é viva. O País restaurou a democracia em 1988”, citou a revista, destacando o ano de estabelecimento da Constituição Federal, três anos após o fim da ditadura militar.

A reportagem destaca, ainda, que a maioria dos brasileiros avalia que Bolsonaro tentou aplicar um golpe para se manter no poder, e que mesmo políticos conservadores que sonham em herdar os votos do bolsonarismo criticam o estilo do ex-presidente.

Críticas ao Supremo

Em artigo em abril de 2024, a Economist criticou o que chamou de ‘poder descomunal’ do Supremo Tribunal Federal (STF). Desta vez, no texto elogioso à reação brasileira à tentativa de golpe, o tom é mais ameno, mas não deixa de questionar a Corte, que, segundo a reportagem, teria ‘poder demais’. Também há questionamentos ao poder do Congresso.

“Bolsonaro deve ser julgado por seus crimes e punido se for considerado culpado”, destaca a revista. “Mas não vai ser fácil. O obstáculo é Trump. Que acusa a Suprema Corte do Brasil de ‘caça às bruxas’ contra seu amigo [Bolsonaro]”.

Além disso, segundo a Economist, há obstáculos internos no Brasil que podem deixar a situação mais complexa. A revista lembra que o País é, hoje, muito polarizado, e que os ‘apoiadores fanáticos’ de Bolsonaro vão causar problemas, especialmente caso o STF determine uma sentença dura.

“As tensões serão inevitáveis, portanto. Mas, ao contrário dos Estados Unidos, muitos dos principais políticos do Brasil, de todos os partidos, querem jogar de acordo com as regras e progredir por meio de reformas. Essas são as marcas da maturidade política”, opina a revista.

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