Política
Jornal antecipa resultado de licitação de 3 bilhões de reais do Banco do Brasil
Segundo reportagem, a licitação, a maior do governo Temer, foi alvo de direcionamento. Informação foi publicada quatro dias antes da abertura das propostas


Em meio às investigações da Operação Lava Jato, que revelaram a existência de um cartel de empreiteiras a fraudar licitações da Petrobras e desviar dinheiro para políticos, uma concorrência realizada pelo Banco do Brasil expõe a instituição como um novo possível alvo de fraudes.
Quatro dias antes da abertura das propostas, direcionadas a contratos de publicidade, a Folha de S.Paulo divulgou a informação de que a empresa Multi Solution seria a vencedora.
Após a divulgação do resultado antecipado pelo jornal, o Banco do Brasil decidiu suspender a licitação e abrir uma investigação sobre o caso.
De acordo com a Folha, sua reportagem recebeu antecipadamente a informação de que houve direcionamento dentro do banco público para garantir que a Multi Solution estivesse entre as contratadas. A informação foi registrada pelo jornal em cartório na quinta-feira 20 e publicada em anúncio cifrado na seção de classificados do caderno Sobre Tudo do jornal no domingo 23.
Na manhã de segunda-feira 24, os envelopes com as propostas das empresas foram abertos e a Multi Solution foi confirmada no primeiro lugar da disputa, que elegeu outra três empresas para gerenciar a publicidade do banco pelos próximos 12 meses.
Trata-se de um contrato de 500 milhões de reais, que é prorrogável por mais cinco anos, podendo chegar, portanto, a três bilhões de reais.
É a maior concorrência pública de estatais feita desde que Michel Temer assumiu o Palácio do Planalto.
A modalidade da concorrência no contrato de publicidade era a de “melhor técnica”, na qual são avaliadas as propostas técnicas das concorrentes e também o preço proposto.
É um processo complexo, o primeiro contrato público conquistado pela Multi Solution, que até 2012 cuidou da conta da Itaipava, cervejaria envolvida com pagamentos de propina na Lava Jato.
De acordo com a Folha, as informações da concorrência foram avaliadas por uma subcomissão, composta por seis membros, dois sem vínculo com o Banco do Brasil (um do Ministério das Comunicações e outro da Petrobras) e quatro funcionários da instituição financeira.
O processo foi envolto em polêmica. O jornal especializado Meio & Mensagem afirmou na segunda-feira 24 que a NBS, uma das participantes da concorrência, vai entrar com um recurso questionando o resultado.
Inicialmente, a empresa estava na terceira colocação (que daria a ela parte do contrato), mas uma recontagem de fotos desclassificou a NBS, deixando a Nova/SB – que tem o contrato de outro banco estatal, a Caixa Econômica Federal – em terceiro lugar (a Z+ foi a segunda colocada). De acordo com o Meio & Mensagem, a NBS não teria obtido a nota mínima no quesito “Ideia Criativa”.
Procurado pela reportagem, o Banco do Brasil defendeu o processo de licitação e disse que a “escolha das novas agências de publicidade obedeceu rigorosamente a legislação e a definição das vencedoras foi norteada por critérios técnicos”.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.