

Opinião
O Ozempic do SUS
A Fiocruz e a EMS vão produzir uma caneta emagrecedora made in Brazil


Foi aberto o caminho para a produção de semaglutida e liraglutida pelo sistema público de saúde, o que indica a possibilidade de o remédio chegar aos SUS. A Fiocruz fechou um acordo com a EMS, farmacêutica brasileira líder no segmento de genéricos e a primeira empresa nacional a entrar no segmento de canetas emagrecedoras. Pelo acordo, conduzido pela Farmanguinhos, a instituição terá suas próprias versões do produto.
O acordo prevê, numa primeira fase, o uso da fábrica da EMS para a produção, até que a tecnologia seja totalmente dominada pela Farmanguinhos e a estrutura seja capaz de absorver a produção. A iniciativa deve mexer ainda mais com o mercado de canetas emagrecedoras. De acordo com o IBGE, o Brasil tem uma população de 20 milhões de diabéticos, dos quais mais de 19 milhões portadores do tipo 2, que pode ser tratado com as canetas. Outros 31% dos brasileiros são obesos. A enorme massa não tem condições financeiras para usar os produtos, que experimentam uma redução de preços com a entrada da EMS no mercado. É de se esperar que a iniciativa da Fiocruz possa dar acesso amplo ao tratamento.
A quebra de patentes ainda enfrenta resistências. A Novo Nordisk, dona das marcas Ozempic e do Wegovy no Brasil, contesta judicialmente a medida. Segundo a farmacêutica, houve atraso na análise da patente pelo INPI. O caso está no Superior Tribunal de Justiça.
Vale quanto pesa
Se você quer uma palavra para definir a estratégia da Track&Field, a melhor é consistência. A marca foi criada em 1988 e dois anos depois abriu sua primeira loja. A marca não cede às pressões de fazer promoções arrojadas, não reduz a qualidade percebida dos produtos e tem clareza de seu espaço no mercado de roupas esportivas. Inaugurou há alguns anos seus cafés nas lojas, criando uma oportunidade de viver a atmosfera da marca.
A consistência fez com que a empresa, enquanto todos reclamam da invasão dos marketplaces, tenha percorrido um caminho no primeiro semestre de manter o “preço cheio” (sem descontos) das mercadorias e crescer apesar disso. As vendas aumentaram 21,8% no segundo trimestre. Nas lojas em que existem os cafés, subiram 50%. Acertar o preço não é tarefa simples. Empresas demoram a encontrar o equilíbrio e o pulso do mercado. A Track&Field sabe que preço não é patrimônio. E o “preço cheio” para o consumidor também demonstra que o produto tem a qualidade que ele deseja.
Geely vs. BYD
A Geely, uma das grandes montadoras chinesas, mirou um concorrente, a BYD. A meta da fabricante, detentora de 14% do mercado chinês, é alcançar a oponente, que tem mais que o dobro de participação. Reduzir a diferença é o primeiro passo. E exige ousadia e investimento. O CEO da Geely, Gui Sheng Yue, anunciou recentemente um aumento na meta anual de vendas, de 2,7 milhões para 3 milhões de veículos.
A montadora teve uma passagem pelo Brasil entre 2014 e 2018. Agora retorna com a Renault, que vai ampliar sua colaboração com a marca chinesa. O primeiro lançamento é o Geely EX 5, um SUV elétrico com preço de entrada de 195,8 mil reais. O foco é entrar na América Latina na concorrência com a BYD. Não será uma tarefa fácil. A BYD passou a encarnar os principais desejos dos brasileiros por tecnologia. Com táticas comerciais agressivas, ampliação da rede de concessionárias e uma estratégia de saturação – os carros aparecem rodando nos grandes centros, criando um sentimento de familiaridade e sensação de que a marca está incorporada ao ambiente.
Influência
A divulgação do Brand Momentum Index (BMI), da Design Bridge and Partners, confirmou uma tendência de construção de marcas e forte presença nas redes sociais. A pesquisa entrevistou 18 mil consumidores no Brasil e introduziu uma inovação. A pesquisa de 2025 utilizou dados da WPP, gigante do setor de publicidade, que mede o impacto emocional da marca. A confluência entre as respostas e o índice da WPP gerou uma pontuação.
Das grandes marcas nacionais, a campeã foi o Nubank, seguida por Natura, iFood, Havaianas e Boticário nas cinco primeiras posições. Interessante foi que a marca Sebrae ficou na sétima posição e o Pix surgiu como a décima primeira colocada.
Dentre as internacionais, a grande surpresa foi a liderança da marca Duolingo, o aplicativo de idiomas. Ele superou o Google, a Nike, a Meta e o YouTube. O ChatGPT aparece em nono lugar, à frente de Coca-Cola e McDonald’s. •
Publicado na edição n° 1376 de CartaCapital, em 27 de agosto de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O Ozempic do SUS’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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