Entrevistas

Randolfe Rodrigues: ‘O playboy Eduardo Bolsonaro custou R$ 30 bilhões ao Brasil’

Em entrevista a CartaCapital, o senador comenta a regulação das redes, o papel do clã Bolsonaro no ‘tarifaço’ e o xadrez eleitoral para 2026

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O governo prepara-se para enviar ao Congresso um projeto de lei sobre redes sociais com o objetivo de proteger crianças e adolescentes de conteúdos impróprios e de prevenir casos de exploração infantil. É também um passo para regular as big techs — alvo de crescente debate internacional — e enfrentar empresas que Donald Trump, em sintonia com Jair Bolsonaro, tem usado como munição para atacar o Brasil. A lei lulista avançará no Legislativo apesar do lobby norte-americano?

“Tivemos uma mudança significativa da opinião pública nos últimos meses, especialmente após os acontecimentos desta semana”, afirma o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, em entrevista ao programa Poder em Pauta, de CartaCapital, no YouTube. “A regulação das redes sociais é um imperativo histórico no Brasil e no mundo.”

O episódio que acendeu o alerta foi a denúncia do youtuber Felca, que revelou a existência de conteúdos com conotação sexual envolvendo crianças e adolescentes em plataformas digitais. Um dos citados foi o influenciador Hytalo Santos, apontado como criador de vídeos desse tipo. Ele foi preso, nesta sexta feira 15, acusado de exploração sexual de menores.

A discussão sobre as redes também ganhou peso político com a presença, em Brasília, do cientista político americano Steven Levitsky, autor do best-seller Como as democracias morrem. Levitsky participou de um seminário no Senado e, em seguida, foi recebido pelo presidente Lula no Palácio do Planalto. Sua visita, articulada pelo senador, não foi apenas protocolar: veio em um momento em que o Brasil enfrenta uma ofensiva retórica de Trump — personagem que o cientista descreve como autoritário e autocrata — contra Lula e o Supremo Tribunal Federal.

“O fascismo ontem e hoje é vocacionado a dar golpe de Estado”, diz Randolfe. “Estão tentando dar golpe com apoio de uma nação estrangeira.”

A fatura de Eduardo Bolsonaro

Desde fevereiro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, está nos Estados Unidos articulando contra autoridades brasileiras na tentativa de salvar o pai. Bolsonaro será julgado no Supremo, a partir de setembro, por tentativa de golpe. “O playboy Eduardo Bolsonaro custou 30 bilhões de reais ao Brasil”, dispara.

O senador refere-se ao pacote Brasil Soberano, lançado pelo governo para socorrer empresas e trabalhadores que podem ser prejudicados pelas altas tarifas impostas pelos EUA a exportações brasileiras. O plano prevê até 30 bilhões de reais em financiamentos, com juros subsidiados, para compensar eventuais perdas.

Os EUA são hoje o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, as exportações somaram 40 bilhões dólares, cerca de 12% do total vendido pelo País ao exterior. Em 2003, o mercado americano tinha o dobro da importância – 25%. Mas, de lá para cá, foi desbancado pela China, hoje o principal parceiro de negócios brasileiro.

“Não fossem os Brics, estaríamos numa situação de enorme dependência dos EUA”, afirma Randolfe. E anota: “O tempo em que o Brasil era quintal dos Estados Unidos não existe mais.”

Para Randolfe, a munição tarifária americana contra o Brasil está se esgotando A mais recente foi proibir a entrada nos EUA de dois brasileiros ligados à criação do programa Mais Médicos. Além disso, o governo Trump divulgou um relatório crítico sobre a situação dos direitos humanos no País. “Qual vai ser o próximo passo deles? Mandar a Quarta Frota?”, ironiza.

Tensões à vista

O senador mostra certa preocupação com o que pode acontecer em Brasília quando houver o julgamento de Bolsonaro. “Se a prisão domiciliar já provocou motim da extrema-direita no Congresso, imagine uma condenação definitiva. Está claro que eles [o clã Bolsonaro e seus fiéis] são capazes de qualquer coisa.”

E é justamente um membro do clã que Randolfe vê despontar como o candidato do bolsnarismo em 2026: o senador Flavio. Eduardo corre risco de prisão se voltar ao Brasil, e Michelle Bolsonaro, segundo ele, não teria fôlego para enfrentar uma campanha presidencial. Essa é também a leitura feita no Planalto.

Probabilidades à parte, o senador acredita que a direita e a extrema-direita enfrentam um dilema: disputar contra Lula com o “bolsonarismo raiz” ou com uma versão “personnalité e nutella”. Nesse segundo grupo, ele inclui, por exemplo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

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