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Sociedade civil propõe agenda para revisar modelo de comunicação

Elaboradas com o Conselho Nacional de Direitos Humanos, sugestões querem revogar medidas que distanciaram do povo o direito à comunicação

Sociedade civil propõe agenda para revisar modelo de comunicação
Sociedade civil propõe agenda para revisar modelo de comunicação
Iniciativas que as organizações da sociedade civil apresentam aos candidatos apontam para a necessidade da democratização da comunicação
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*Por Vanessa Galassi

Há menos de 20 dias para a escolha do novo presidente do Brasil e dos integrantes do Parlamento, intensificam-se os debates sobre os rumos que o País tomou desde o impeachment emplacado sem crime de responsabilidade, que afastou a presidenta eleita Dilma Rousseff da principal cadeira do Executivo federal.

Nas escolas, no trabalho, nos bares e em vários outros espaços públicos, os diálogos se voltam para o cenário caótico vivido pelo povo brasileiro, que se depara com números alarmantes, como o de 13 milhões de desempregados.

Os impactos do processo intenso de ruptura democrática vividos desde 2016 – bancado por um golpe midiático-jurídico-parlamentar –, reavivaram os debates sobre as consequências do formato do sistema de comunicação do Brasil: cristalizado como privado, sem representatividade, alheio ao interesse público e fechado ao exercício da liberdade de expressão.

Para recolocar o Brasil nos trilhos do crescimento com igualdade social, organizações da sociedade civil e até órgãos públicos com participação do Estado debruçam-se sobre a formulação de cartas-compromisso, plataformas e agendas aos candidatos e candidatas às eleições de 2018.

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Nos documentos, um dos pontos apontados como prioritários versam sobre a urgência da revisão do nosso sistema de comunicação e da revogação de medidas que distanciaram ainda mais do povo o direito à comunicação, posturas adotadas autoritária e estrategicamente por Michel Temer.

Um dos órgãos que saíram em defesa de uma comunicação balizada em princípios constitucionais foi o Conselho Nacional dos Direitos Humanos. No último dia 13 de setembro, o CNDH, durante sua 40ª reunião ordinária, lançou a Agenda de Direitos Humanos para Presidenciáveis. No documento, o Conselho defende que os candidatos e candidatas tenham compromisso com o fortalecimento do sistema público de comunicação, dizimado pela medida provisória 744/2016.

Uma das primeiras iniciativas do governo ilegítimo de Temer, a MP – hoje lei 13.417/2017 – acaba com o caráter público da Empresa Brasileira de Comunicação ao extinguir o Conselho Curador da EBC (principal espaço de participação da sociedade civil) e a garantia de mandato de quatro anos para o diretor-presidente da empresa, que agora passa a ser livremente nomeado e exonerado pelo presidente da República. Segundo nota técnica do Ministério Público Federal, a medida implica na “subordinação da empresa às diretrizes do governo e o condicionamento às regras estritas de mercado”.

Na Agenda do CNDH, o órgão ainda apela para que candidatos e candidatas também utilizem os meios de propaganda permitidos pela legislação de maneira responsável e com respeito aos direitos humanos.  “A profusão do discurso de ódio que atinge mulheres, população LGBTI, indígenas, negras e negros e outros grupos vulnerabilizados, deve ser alvo de rechaço e não instrumento de propaganda política”.

O FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação também deu seu recado aos candidatos e às candidatas à Presidência da República, Congresso Nacional, governos e legislativos estaduais. Com a Carta-compromisso em defesa da Democracia e por uma Comunicação Democrática no Brasil, em 23 páginas, o FNDC apresenta diversas propostas de políticas públicas para democratizar a comunicação, para universalizar o acesso à internet e impedir a total privatização e desnacionalização das Telecomunicações. “Os governos autoritários não são aliados da liberdade de expressão e do direito à comunicação. Ao contrário. Para se imporem e implementarem sua agenda regressiva, eles precisam impedir a crítica, o contraditório e a livre expressão. Eles precisam silenciar seus opositores”, diz trecho da Carta-compromisso.

No material, o FNDC ainda destaca a intervenção do ilegítimo governo Temer na EBC e o consequente ataque e privação da população à comunicação pública, garantida na Constituição Federal de 1988. Para o Fórum, tal a ação nefasta implantou “leis e portarias para beneficiar radiodifusores irregulares”. Além disso, “políticas públicas de ampliação da diversidade foram interrompidas e uma perseguição política e ideológica a manifestações políticas, culturais e artísticas passou a dar o tom das ações do governo e das empresas”.

Outra iniciativa que destaca a comunicação como um bem público e um direito humano é a Plataforma da CUT para as Eleições de 2018. Feita em âmbito nacional e também no Distrito Federal, o conjunto de propostas construído coletivamente pelas centenas de entidades filiadas à Central Única dos Trabalhadores traz capítulo específico sobre o direito à comunicação. Na Plataforma Nacional, a entidade reivindica a “aprovação de novo marco regulatório para o Sistema de Comunicação no Brasil, com ênfase no interesse público e na garantia de direitos humanos, para acesso, produção e meios de distribuição de conteúdo”.

No último dia 7 de setembro, a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, em parceria com o projeto Sociedade Civil Construindo a Resistência Democrática, lançou a campanha online Vote e Revogue.

A iniciativa aponta os retrocessos sociais ocorridos durante o governo ilegítimo de Michel Temer (MDB) e convida os eleitores a pressionarem seus candidatos para que revoguem as medidas adotadas a partir do golpe de 2016. Nos 10 pontos apresentados como principais pela campanha, está o “desmonte da EBC e da comunicação pública”.

É preciso, mais que nunca, refletir e construir estratégias que pressionem a reformulação da estrutura do sistema de comunicação do Brasil. Ao mesmo tempo, é necessário combater os ataques às conquistas garantidas no campo da comunicação, fruto da luta dos movimentos sociais e dos sujeitos coletivos de direito.

As agendas, cartas-compromisso, plataformas e demais iniciativas que as organizações da sociedade civil apresentam aos presidenciáveis e candidatos ao Parlamento apontam para a urgente necessidade da democratização da comunicação para se garantir uma efetiva democracia no país – e a consequente construção de um Brasil mais justo e igualitário –, e devem ser abraçadas pela sociedade e organizações populares e defendidas na mesma medida que outros direitos constitucionais, como educação, saúde, segurança, moradia e lazer.

Essa é uma tarefa árdua, já que temas como o combate à concentração midiática são excluídos da pauta da mídia ou, quando muito, tratados de forma deturpada: uma ação estratégica para impedir que a sociedade se mobilize para o resgate do direito humano à comunicação. Entretanto, enquanto a opinião pública for pautada por um sistema que indique uma linha editorial de opinião única, não só o direito à comunicação, mas princípios constitucionais não serão cumpridos.

*Vanessa Galassi é jornalista e associada do Intervozes no Distrito Federal

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