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Fundo da Noruega tira investimentos de 11 empresas de Israel

Maior fundo soberano do mundo cita ‘crise humanitária’ em Gaza como justificativa. Banco norueguês sofria pressão por aplicar recursos em companhias vinculadas ao conflito

Fundo da Noruega tira investimentos de 11 empresas de Israel
Fundo da Noruega tira investimentos de 11 empresas de Israel
Ondas de fumaça após um ataque israelense a uma casa a oeste de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, em 1º de junho de 2025, em meio à guerra entre Israel e o movimento militante palestino Hamas. Créditos: BASHAR TALEB / AFP
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O fundo soberano da Noruega anunciou nesta segunda-feira 11 que vendeu integralmente seus investimentos em 11 empresas israelenses como resposta à crise humanitária vivida em Gaza.

Nicolai Tangen, chefe do Norges Bank Investment Management (NBIM), gestor do fundo, disse que a decisão foi tomada “em resposta a circunstâncias extraordinárias”.

“A situação em Gaza é uma grave crise humanitária. Temos investimentos em empresas que operam em um país em guerra, e as condições na Cisjordânia e em Gaza pioraram recentemente. Em resposta, vamos reforçar ainda mais nossa diligência prévia”, disse Tangen em um comunicado.

O fundo da Noruega – abastecido pelas receitas das exportações de petróleo do país – é o maior fundo soberano do mundo. Ele acumula investimentos de 1,9 trilhão de dólares, em mais de 8,6 mil empresas ao redor do globo.

A medida ocorre após o jornal norueguês Aftenposten revelar que o fundo havia investido na empresa israelense Bet Shemesh Engines Holdings, que fabrica peças para motores usados em jatos de combate.

Tangen confirmou posteriormente as informações. Segundo ele, o fundo de fato aumentou sua participação na fabricante após o início da ofensiva israelense em Gaza.

As operações militares israelenses tiveram início em 7 de outubro de 2023 após ataques do Hamas contra Israel,  grupo fundamentalista considerado uma organização terrorista pela União Europeia.

Ministro pede revisão da política de investimentos

As revelações levaram o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store, a pedir ao ministro das Finanças, Jens Stoltenberg, uma revisão na política de investimentos do NBIM, que é vinculado ao banco central norueguês, o Norges Bank. Stoltenberg foi secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) até 2024.

Segundo o NBIM, o fundo norueguês acumulava investimentos em 61 empresas israelenses até o final do primeiro semestre deste ano, 11 das quais não compunham seu “índice de referência de ações”.

O índice estabelecido pelo Ministério das Finanças compreende 8,7 mil empresas e é usado para medir o desempenho dos ativos e orientar investimentos. Companhias que não são listadas são consideradas fora do escopo do fundo.

Em nota, o banco afirmou que “todos os investimentos em empresas israelenses que não fazem parte do índice de referência de ações serão vendidos o mais rápido possível”. No futuro, “os investimentos do fundo em Israel serão limitados às empresas que estão no índice de referência de ações”, continuou.

A NBIM também disse que todos os investimentos em empresas israelenses mediados por gestores externos seriam transferidos para a estrutura interna do banco e que os contratos com os administradores israelenses serão encerrados.

Norges Bank deve anunciar novas medidas

Em entrevista coletiva na segunda-feira, Stoltenberg disse estar satisfeito que o Norges Bank “agiu rapidamente”, mas afirmou esperar que o fundo adote medidas adicionais. O ministro descartou uma venda de ativos de todas as empresas israelenses, indicando que somente os investimentos em empresas ligadas à guerra devem ser restringidos.

“As diretrizes éticas do fundo estipulam que ele não deve investir em empresas que contribuam para violações do direito internacional por Estados”, disse aos jornalistas. “Portanto, o fundo não deve deter ações em empresas que contribuem para a guerra de Israel em Gaza ou para a ocupação da Cisjordânia”, afirmou.

Segundo o banco, a revisão de sua política de investimentos acontece até 20 de agosto e novas medidas podem ser anunciadas. O NBIM argumentou que o fundo soberano “há muito tempo presta atenção especial a empresas associadas a guerra e conflitos”.

“Desde 2020, mantivemos contato com mais de 60 empresas para discutir esse tema. Destas, 39 diálogos estavam relacionados a Cisjordânia e Gaza”, afirmou em nota. Segundo o  Norges Bank, a fiscalização das empresas israelenses foi intensificada em 2024, o que levou anteriormente à venda de alguns ativos.

Também nesta segunda-feira, o fundo de pensão norueguês KLP anunciou que excluiu a empresa israelense NextVision Stabilized Systems de seus investimentos porque a empresa “fornece componentes para drones militares usados na guerra em Gaza”.

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