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Em busca do amor

Em novo show, Luedji Luna lança dois álbuns e celebra a carreira que, em menos de uma década, tornou-se referência

Em busca do amor
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No palco. A cantora e compositora baiana se apresenta no Rio e em São Paulo – Imagem: Henrique Falci
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Luedji Luna, de 38 anos, causou surpresa, no fim do primeiro semestre, ao apresentar dois trabalhos inéditos com a diferença de 18 dias entre um e outro. Em uma indústria marcada por lançamentos sucessivos de ­singles, a cantora e compositora baiana ousou lançar dois álbuns com um conjunto de canções autorais que tratam da complexidade que é a busca pelo amor.

Em Um Mar Pra Cada Um e Antes Que a Terra Acabe, a artista, dona de uma voz envolvente, segue em sua trilha de fazer música com sofisticação, fugindo de clichês para falar de sentimentos e experiências afetivas.

“Estou há alguns trabalhos perseguindo o amor”, diz Luedji, em entrevista a CartaCapital por videoconferência. “Em Um Mar para Cada Um, essa busca fica explícita nas letras. O amor é uma demanda para mim. A partir dele estou me humanizando. Tenho tanto essa demanda que, em certo momento de minha vida, acreditei que não era digna de receber amor.”

O segundo álbum, prossegue ela, é menos íntimo: “Esse disco reflete a nossa humanidade escancarada, até onde a gente pode chegar nessa busca. É um disco mais terreno”. Em ambos os trabalhos, a estética sonora é moderna, com beats e tons jazzísticos e do chamado neo-soul – gênero surgido na década de 1990, derivado do soul.

A cantora faz os shows de lançamento dos dois novos trabalhos no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, no sábado 9, e no Espaço Unimed, em São Paulo, no sábado 15.

O repertório inclui ainda músicas de três discos anteriores e do projeto ­Luedji Luna Canta Sade, no qual interpreta as refinadas canções da artista britânica-nigeriana que, assim como ela, tem uma voz a um só tempo leve e intensa.

Referências. Um dos discos, Antes Que a Terra Acabe, traz parcerias com Seu Jorge, Arthur Verocai e Alaíde Costa

Luedji não lançava um álbum desde 2022, quando apresentou Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água Deluxe, que, apesar do nome semelhante ao disco de 2020 – Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água –, também trazia canções inéditas. Um Mar para Cada Um encerra a trilogia de busca e investigação sobre o amor.

A vida intensa, tanto em termos ­pessoais quanto profissionais, a fez lançar dois álbuns tão próximos um do outro.

“Fui vivendo, fazendo shows, sendo mãe, encerrando a turnê do álbum ­Deluxe, cantando Sade e, no meio dessa energia toda, estava preparando um trabalho novo”, conta a artista, que se tornou mãe em 2020, no auge da pandemia. “Quando dei por mim, estava com muitas canções.”

Ela diz que Rota, com letra e melodia de sua autoria, é uma de suas músicas favoritas no álbum Um Mar para Cada Um. Uma orquestra de violinos torna exuberante a gravação e valoriza versos como Mistérios são/ Porque ninguém contou/ Revela-me o teu segredo/ Eu sou um copo vazio/ Pra matar a tua sede de água/ Transborda em mim amor/ E alguns medos, receios e dúvidas/ Desperto aos poucos/ De peito aberto sigo.

Na faixa 4HZ, de Luedji Luna, Gabriel Gaiardo e Cuca Teixeira, a cantora lê um texto sobre reciprocidade no amor: “Esse homem tão especial não está te dando nada demais além do óbvio”. A 11ª faixa e última do disco Um Mar para Cada Um é o poema Baby te Amo, da historiadora e ativista negra Beatriz Nascimento (1942–1995).

No álbum Antes Que a Terra Acabe, merecem destaque a faixa de abertura Apocalipse, de sua autoria, com participação de Seu Jorge e Arthur Verocai, e Bonita, a primeira composição bossa nova feita pela cantora, com a participação de uma das pioneiras do gênero, Alaíde Costa.

Desde o seu primeiro álbum, Um Corpo no Mundo (2017), lançado quando tinha 30 anos, Luedji mostra seu compromisso com a causa da mulher e da negritude. Nascida em Salvador, filha de pais funcionários públicos, da Petrobras, e militantes do movimento negro, Luedji cresceu num lar cheio de amor, mas, fora dele, foi descobrindo o racismo.

Logo que começou a compor, aos 17 anos, tematizou a identidade negra e o racismo que sofreu. Embora tenha se formado em Direito, ela nunca exerceu a profissão. Sua renda vinha das apresentações feitas em bares da capital baiana. Em 2015, ela se mudou para São Paulo. Dois anos depois, além de lançar o álbum de estreia, criou e produziu Palavra Preta, em Salvador, uma mostra de artistas negras.

“Quando dei por mim, estava com muitas canções”, afirma ela, sobre o lançamento duplo

Não demorou para que seu trabalho fosse reconhecido. Do primeiro álbum saiu o primeiro hit: Banho de Folhas. Em 2018, ela foi indicada na categoria artista revelação no Prêmio Multishow da Música Brasileira. Em 2020, venceu o Woman’s ­Music Event Awards com Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água, disco que também foi indicado ao Grammy Latino 2021 como Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.

Desde sempre, Luedji envolve-se diretamente na concepção de seus projetos – da criação à execução – e busca referências das mais amplas, que passam pela música brasileira, pela música de língua inglesa e pela produção afrodiaspórica.

Nos shows de apresentação de seus dois novos trabalhos, no Rio e em São Paulo, Luedji Luna subirá no palco com nove músicos, incluindo três backing ­vocals, dois sopros, bateria, baixo, teclados e percussão. Trata-se de uma formação atípica, com um número maior de integrantes na banda do que a média dos artistas brasileiros – essa é outra característica que distingue seu trabalho.

“Meu compromisso é com a música. Só ela importa. A música que quero fazer precisa de músicos, de jazz, do improviso, do solo, da mágica acontecendo ali”, diz. Cada apresentação, segundo ela, será única e terá convidados diferentes em cada dia. “Vai ser um show extenso, para celebrar o meu trabalho.” E o amor. •

Publicado na edição n° 1374 de CartaCapital, em 13 de agosto de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Em busca do amor’

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