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Justiça/ Intocável no cárcere

Cidadã italiana, Zambelli acreditava estar imune, mas foi presa em Roma

Justiça/ Intocável no cárcere
Justiça/ Intocável no cárcere
A extradição da deputada depende da autorização da justiça local – Imagem: Mateus Bonomi/Agif/AFP
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Foragida há dois meses, a deputada Carla Zambelli foi presa em Roma, na terça-feira 29, durante uma ação conjunta da Polícia Federal brasileira com agentes italianos. Condenada a 10 anos de prisão por invadir e plantar documentos falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça, ela recorria em liberdade da sentença imposta pelo Supremo Tribunal Federal quando deixou o Brasil pela porta dos fundos. Conforme confidenciou a jornalistas, ela cruzou a fronteira com a Argentina de carro, seguiu de avião para Miami, nos EUA, e completou sua fuga em um voo rumo à Itália.

“Como cidadã italiana, eu sou intocável na Itália”, apressou-se a celebrar a parlamentar, em entrevista à CNN Brasil. A pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro Alexandre de Moraes determinou sua prisão preventiva, além do bloqueio de contas bancárias e perfis em redes sociais. A PF também solicitou a inclusão do nome de ­Zambelli na lista vermelha da Interpol, enquanto o Ministério da Justiça solicitou sua extradição. Ainda assim, a deputada circulava livremente em solo italiano, publicando vídeos em um perfil alternativo no Instagram.

Aparentemente, a farra chegou ao fim graças à colaboração de um indignado deputado italiano. Em publicação na rede X, Angelo Bonelli, do Alleanza Verdi e Sinistra, afirmou ter fornecido à polícia o endereço onde Zambelli estava hospedada. Em junho, ele já havia protocolado uma interpelação formal aos ministros das Relações Exteriores, da Justiça e do Interior da Itália, cobrando uma resposta do governo de Giorgia Meloni sobre o caso. Em julho, voltou ao tema em um discurso contundente no Parlamento italiano, criticando a inércia das autoridades diante da presença da foragida. “Francamente, considero inadmissível que se use a cidadania italiana para se declarar intocável. Inadmissível”, afirmou. “Mas o que considero ainda mais grave é o fato de que essa pessoa utiliza perfis no Instagram, divulga vídeos e, mesmo com contas bancárias bloqueadas, vive tranquilamente na Itália.”

Zambelli ainda nutre a esperança de que Meloni, líder da extrema-direita italiana, lhe conceda asilo. A extradição depende do aval da Justiça local. Mesmo que o pedido seja negado, há a possibilidade de que a deputada cumpra pena em solo italiano, a exemplo do que ocorreu com Robinho, condenado por estupro por um tribunal da Itália e levado à prisão no Brasil.

Extermínio a conta-gotas

Nos últimos dez anos, os assassinatos de indígenas aumentaram mais de 200%, passando de 70 casos em 2014 para 211 em 2024. Os números constam do relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil, divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na segunda-feira 28. Os estados com mais homicídios registrados foram Roraima (57), Amazonas (45) e Mato Grosso do Sul (33). O documento também aponta um crescimento expressivo nos episódios de violência contra a pessoa, que somaram 424 ocorrências em 2024, ante 248 em 2014. Ao todo, são contabilizadas nove categorias: abuso de poder (19 casos), ameaça de morte (20), ameaças diversas (35), assassinatos (211), homicídio culposo (20), lesões corporais (29), racismo e discriminação étnico-cultural (39), tentativa de assassinato (31) e violência sexual (20).

Caso PowerPoint/ Inquisidor inadimplente

Dallagnol tem 15 dias para pagar dívida de 135 mil reais a Lula

O ex-procurador não pode mais recorrer da indenização arbitrada – Imagem: Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/AFP

A Justiça de São Paulo determinou, na sexta-feira 25, que o ex-procurador Deltan Dallagnol pague os 135,4 mil reais que deve ao presidente Lula. O valor corresponde a uma indenização por danos morais relacionada ao episódio do ­PowerPoint, em 2016, quando o então chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba organizou um espetáculo midiático para apresentar a denúncia contra o líder petista no caso do tríplex do Guarujá.

Na ocasião, Lula foi apresentado como chefe de uma organização criminosa, apesar de essa imputação não constar na denúncia. A Justiça reconheceu que o procurador agiu de forma abusiva e ilegal. O montante devido inclui correção monetária, juros e honorários advocatícios. Dallagnol ainda pode contestar os cálculos judiciais, mas não tem direito a recurso contra a condenação. Caso não realize o pagamento no prazo estipulado, estará sujeito ainda a uma multa de 10% sobre o valor da indenização.

Em nota, Dallagnol afirmou que pagará a dívida com recursos doados por apoiadores e fez um apelo aos patriotas de plantão: “Que a reação da sociedade a essa decisão sirva para lembrar que os brasileiros não querem viver em um país onde o promotor é condenado a indenizar o bandido. Os maus não vencerão os bons”. Pregou no deserto. A sonhada “reação” resumiu-se a muxoxos dos poucos lavajatistas que ainda restam nas redes sociais.

A herança de Maluf

O Ministério Público de São Paulo firmou um acordo com a família de Paulo Maluf para a devolução de 210 milhões de reais aos cofres da capital. A medida, formalizada por meio de um acordo de não persecução civil, foi proposta pela Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e pela Procuradoria-Geral do Município. A reparação financeira diz respeito a desvios de recursos públicos ocorridos entre 1993 e 1998, durante a gestão de Maluf como prefeito da capital paulista. As irregularidades envolvem contratos ligados à construção do Túnel Ayrton Senna e da Avenida Água Espraiada (hoje Avenida Jornalista Roberto Marinho) em um esquema que teria superado 300 milhões de dólares, em valores da época.

Colômbia/ Manipulação de testemunhas

Uribe é considerado culpado por subornar grupos paramilitares

O ex-presidente pode ser sentenciado a 12 anos de prisão – Imagem: Juan Barreto/AFP

O ex-presidente Álvaro Uribe, que governou a Colômbia entre 2002 e 2010, foi considerado culpado de suborno e manipulação de testemunhas por um tribunal de Bogotá. Primeiro ex-chefe de Estado a enfrentar um processo criminal no país, ele é acusado de pagar propina a paramilitares presos para que ocultassem seus vínculos com esses grupos armados, formados nos anos 1980 para combater as guerrilhas marxistas.

O ex-presidente não estava presente no tribunal para ouvir o veredicto. Acompanhou o desfecho de sua residência, nos arredores de Medellín. A sentença, que pode chegar a até 12 anos de prisão, será divulgada em audiência separada. Uribe já anunciou que pretende recorrer da decisão.

O caso remonta a uma investigação iniciada em 2012, quando Uribe processou o congressista de esquerda Iván­ ­Cepeda por suposta difamação. Em 2018, no entanto, houve uma reviravolta no caso, e a Suprema Corte passou a investigá-lo por tentativa de suborno a testemunhas. Após diversas manobras judiciais e a renúncia de Uribe ao Senado em 2020, o processo foi encaminhado à Justiça comum, resultando na atual condenação.

Publicado na edição n° 1373 de CartaCapital, em 6 de agosto de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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