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Haddad celebra recuos de Trump no tarifaço, mas diz que ainda há ‘muito trabalho pela frente’
Ministro afirma que vai seguir em contato com autoridades dos EUA em busca de correção de ‘injustiças’ na lista de exceções anunciada na quarta-feira


O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira 31 que o governo brasileiro está aliviado pelos setores da economia do país excluídos do tarifaço de Donald Trump. O chefe da Economia, porém, indicou que seguirá trabalhando para que ‘outras injustiças’ sejam corrigidas.
Falando a jornalistas em Brasília no dia seguinte ao anúncio do recuo do presidente dos EUA em parte das tarifas a produtos brasileiros, Haddad disse que o Brasil, agora, se encontra em uma posição ‘mais favorável’ que a imaginada há alguns dias. Ele conteve, porém, as expectativas de uma solução rápida e avaliou que a discussão com o governo republicano vai levar certo tempo.
“Como havíamos adiantado, entendemos que esta semana não é o ponto de chegada, é o ponto de partida de uma negociação. Na nossa opinião, houve sensibilidade para algumas coisas que havíamos conversado, e que não iam afetar só o trabalhador brasileiro, mas também o consumidor americano”, afirmou.
Haddad confirmou que a equipe do Secretário do Tesouro (equivalente ao Ministro da Fazenda dos EUA), Scott Bessent, está em contato com as autoridades brasileiras para uma nova rodada de negociação – os dois já conversaram em maio.
“Há muita injustiça nas medidas anunciadas ontem [quarta]; há correções a serem feitas; há setores afetados que não precisariam estar sendo afetados. Nenhum, a rigor [deveria ser afetado], mas há casos dramáticos que deveriam ser considerados imediatamente”, ponderou Haddad.
Segundo o ministro, o Brasil não descarta recorrer do tarifaço “nas instâncias devidas”, tanto dentro dos Estados Unidos quanto em mecanismos internacionais. O objetivo é sensibilizar os norte-americanos, com quem o país deseja cooperar.
“O Brasil tem uma economia grande, não pode ser apêndice de nenhuma outra. Nem da China, nem da União Europeia, nem dos Estados Unidos. Temos que ter equilíbrio. A postura do presidente Lula, nos seus três mandatos, tem sido de buscar equilíbrio no comércio. Estamos ampliando as exportações, mas buscando equilibrar entre os vários destinos justamente para não ter dependência de nenhum dos blocos econômicos”, destacou.
Diante das mudanças anunciadas por Trump – há quase 700 exceções às tarifas de 50% impostas a produtos brasileiros importados pelos EUA –, o governo brasileiro vai trabalhar, também, para ajustar o plano de contingência interno para garantir apoio aos setores ainda afetados pelas medidas.
Além disso, as autoridades brasileiras pretendem deixar claro para os Estados Unidos que os processos em andamento contra Jair Bolsonaro (PL) não têm qualquer relação com o governo, e são tocados pelo Judiciário, que atua de maneira independente.
“Estamos sentados em uma mesa de negociação. Não vamos ficar nos agredindo mutuamente, esse não é o caminho. Queremos sentar para discutir tudo. Queremos que vocês [EUA] levem em consideração que somos uma democracia; temos nossas instituições; são livres; todos os ministros [do Supremo] foram sabatinados por outro poder. Tem rito”, apontou.
O ministro mandou ainda um recado à família Bolsonaro. Sem citar nomes, ele disse que há brasileiros que espalham desinformação ou “má informação” nos EUA, e disse que há caminhos para resolução de problemas na Justiça.
“O Brasil é signatário de todos os acordos e convenções internacionais que protegem os direitos humanos. Quem está incomodado tem dez instâncias para recorrer. Não precisa recorrer à agressão de uma potência externa contra os interesses do Brasil”, concluiu.
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