Entrevistas
Jean Wyllys: Me sinto feliz de estar vivo para ver Bolsonaro prestes a ser preso
Em conversa com CartaCapital, o escritor e ex-deputado reflete sobre os impactos da violência política que sofreu e a expectativa de ver os golpistas punidos


Vencedor do Big Brother Brasil e eleito três vezes deputado federal pelo PSOL, Jean Wyllys tenha sido, talvez, um dos primeiros inimigos públicos de Jair Bolsonaro. Os embates entre os dois ganharam contornos nacionais já em 2011, quando Bolsonaro, então um deputado obscuro com pautas militares, passou a atacar Jean como símbolo do que chamava de ‘ameaça’ à moral e à família.
“Bolsonaro já me insultava durante as sessões, e aquilo provocava risos dos meus colegas”, lembra. Aproveitando a visibilidade do parlamentar recém-eleito e assumidamente gay, Bolsonaro encontrou em Wyllys o alvo ideal para popularizando a narrativa distorcida do “kit gay” — uma mentira sobre supostos materiais educativos distribuídos em escolas, atribuída falsamente ao Ministério da Educação. “Ele viu na minha presença um caminho para se tornar o condutor da extrema-direita”.
O conflito atingiu um ponto culminante em 2016, durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff, quando Wyllys cuspiu em Bolsonaro em resposta a uma provocação direta. A escalada de ataques — agora alimentada por Bolsonaro já na Presidência — levou Jean, em janeiro de 2019, a abrir mão de seu terceiro mandato e deixar o Brasil após uma série de ameaças de morte. No exílio, passou a se dedicar à carreira acadêmica.
O anúncio de sua saída da política foi selado por uma infame ironia: o tuíte de Bolsonaro celebrando o episódio com a frase “Grande dia!”. Seis anos depois, o cenário se inverte: de volta ao Brasil, Jean vê agora o ex-presidente responder ao Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe em 2022, com risco de até 28 anos de prisão.
“[A denúncia contra Bolsonaro] ainda não é a reparação que eu espero. A violência que sofri interrompeu minha vida por quatro anos e meio, deixando feridas profundas. Ainda existem feridas profundas dentro de mim”, desabafa. “Mas me sinto feliz de estar vivo para ver ele prestes a ser preso, de ter tomado a decisão correta para me manter vivo e inteiro para esperar o dia que ele será preso.”
Hoje filiado ao PT e afastado da política institucional, Jean prepara o lançamento de seu sexto livro, O anonimato dos afetos escondidos, uma atualização de sua estreia literária, Aflitos (2001). Em entrevista a Thais Reis Oliveira e Caio César, ele revisita sua trajetória política, os confrontos com o bolsonarismo, a expectativa de punição aos golpistas e a possibilidade de voltar ao campo eleitoral.
Confira a íntegra:
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