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Fake news sobre Brigitte Macron ser trans ganha fôlego após decisão judicial ser distorcida por conspiracionistas

A corte, porém, apenas entendeu que a acusação de transgeneridade, por si só, não configura ofensa à honra ou à reputação

Fake news sobre Brigitte Macron ser trans ganha fôlego após decisão judicial ser distorcida por conspiracionistas
Fake news sobre Brigitte Macron ser trans ganha fôlego após decisão judicial ser distorcida por conspiracionistas
Emmanuel e Brigitte Macron desembarcam no Vietnã após suposta discussão na aeronave. Governo minimizou a desavença do casal. Foto: Ludovic MARIN / AFP
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A decisão da Justiça francesa de absolver duas mulheres acusadas de espalhar o boato de que Brigitte Macron seria uma mulher trans foi rapidamente instrumentalizada por grupos conspiracionistas como uma suposta “confirmação” da teoria — apesar de a corte não ter reconhecido a veracidade da alegação. A interpretação distorcida da sentença, amplificada por redes sociais, reacendeu ataques transfóbicos contra a primeira-dama da França e expôs os limites da Justiça diante da manipulação da informação.

Em meados de julho, a Corte de Apelação de Paris absolveu Natacha Rey e Amandine Roy, acusadas de difamação por propagarem a teoria de que Brigitte Macron seria uma mulher trans. A decisão, no entanto, não validou a tese. Segundo o advogado especializado em direito da imprensa Christophe Bigot, “essas absolvições não podem, de forma alguma, ser interpretadas como reconhecimento da veracidade dos fatos alegados”.

A corte entendeu que a acusação de transgeneridade, por si só, não configura ofensa à honra ou à reputação. “A Justiça não disse que as rés estavam certas, apenas que o conteúdo das declarações não se enquadra como crime”, explicou Bigot. A corte também rejeitou as acusações de falsificação de documentos e de um suposto “casamento fraudulento” entre Brigitte Macron e seu primeiro marido, considerando que os documentos apresentados pela parte civil desmontam a argumentação das rés.

A única parte do processo em que a corte reconheceu difamação foi a que envolvia a acusação de que Brigitte Macron teria cometido abuso de menor ao iniciar um relacionamento com Emmanuel Macron, então seu aluno. Ainda assim, as rés foram absolvidas com base na boa-fé, já que, segundo a corte, ambas “não são profissionais da informação” e se basearam em reportagens sobre o relacionamento entre o jovem estudante de 16 anos e sua professora de teatro de 39.

Brigitte Macron, seu irmão e o Ministério Público recorreram da decisão à Corte de Cassação.

Casal Macron processa influenciadora nos EUA

Além das ações na França, o casal presidencial também recorreu à Justiça dos Estados Unidos. Brigitte e Emmanuel Macron moveram um processo contra a influenciadora conservadora Candace Owens, que possui milhões de seguidores nas redes sociais X (antigo Twitter) e YouTube. A queixa, com 218 páginas, foi apresentada na Suprema Corte do estado de Delaware e solicita um julgamento com júri, além de indenizações punitivas.

Segundo comunicado divulgado por seus advogados, o casal Macron decidiu entrar com a ação após Owens ignorar repetidos pedidos para retirar do ar declarações falsas e difamatórias feitas em uma série de vídeos e podcasts intitulada Becoming Brigitte, composta por oito episódios.

“A campanha de difamação promovida por Owens foi claramente planejada para nos assediar, causar sofrimento a nós e às nossas famílias, e atrair atenção e notoriedade”, afirmaram Brigitte e Emmanuel Macron. “Demos a ela todas as oportunidades para recuar dessas alegações, mas ela se recusou. Nossa esperança sincera é que este processo judicial restabeleça a verdade e ponha fim, de uma vez por todas, a essa campanha de difamação.”

A ação acusa Owens de usar sua plataforma para espalhar “mentiras devastadoras e comprovadamente falsas” sobre o casal, incluindo alegações de que Brigitte Macron teria nascido homem, que ela e Emmanuel seriam parentes consanguíneos e que o presidente francês teria sido escolhido por um programa de controle mental operado pela CIA.

“Se existe um caso claro de difamação, é este”, afirmou o advogado Tom Clare, que representa o casal presidencial.

Desinformação transfóbica como arma política

A primeira-dama francesa se junta a uma lista de mulheres públicas que já foram alvo de campanhas de desinformação transfóbica, como Michelle Obama, Kamala Harris e Jacinda Ardern.

A estratégia, comum em ambientes digitais polarizados, busca deslegitimar figuras femininas de destaque por meio de ataques à sua identidade de gênero — uma tática que mistura misoginia, transfobia e teorias da conspiração.

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