Do Micro Ao Macro

Rotativo do cartão atinge mais de 70% dos brasileiros e amplia risco de endividamento

Com juros acima de 400% ao ano, modalidade compromete orçamento e exige mudança de comportamento para ser evitada

Rotativo do cartão atinge mais de 70% dos brasileiros e amplia risco de endividamento
Rotativo do cartão atinge mais de 70% dos brasileiros e amplia risco de endividamento
Juros do cartão de crédito se tornaram alvo de projeto aprovado no Congresso. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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Mais de 70% dos brasileiros já recorreram ao crédito rotativo do cartão em algum momento, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC). O levantamento também mostra que quase metade dos endividados compromete mais de 30% da renda com dívidas no cartão.

O crédito rotativo é acionado automaticamente quando o consumidor paga apenas o valor mínimo da fatura. Os juros ultrapassam os 400% ao ano, segundo o Banco Central, e estão entre os mais altos do mundo.

Juros crescem de forma silenciosa

Para o educador financeiro Resende Neto, o grande perigo do rotativo está na falsa sensação de controle. “O consumidor acredita que está pagando a fatura, mas está aceitando um empréstimo com uma das taxas mais altas do mercado. A dívida dobra em pouco tempo”, afirma.

Segundo ele, muitos não percebem que já estão no rotativo. Basta observar se a fatura atual apresenta encargos, juros, tarifas ou qualquer referência a pagamento mínimo. Outro sinal de alerta é quando a próxima fatura já começa com um saldo anterior.

Estratégias para sair do rotativo

A principal orientação para quem já caiu nessa armadilha é adotar a estratégia conhecida como “avalanche”. Nela, o consumidor lista todas as dívidas e prioriza o pagamento da que tem os juros mais altos. As demais seguem com o pagamento mínimo até que a primeira seja quitada. Em seguida, o valor que era destinado à dívida mais cara é redirecionado para a próxima da lista.

Outra possibilidade é trocar o rotativo por um empréstimo com juros menores. Essa opção, segundo Resende Neto, só é válida se as parcelas couberem no orçamento e se houver um compromisso de interromper o uso do cartão durante o período do pagamento.

Negociação exige preparo e clareza

Ao negociar com o banco, é importante saber exatamente quanto se pode pagar por mês sem afetar gastos essenciais. Conhecer a taxa de juros que está sendo cobrada, entender as condições da proposta e manter tudo documentado ajuda a garantir um acordo mais justo.

Resende Neto lembra que muitas pessoas entram em acordos sem avaliar as consequências e acabam trocando uma dívida por outra ainda mais difícil de pagar.

Mudança de hábitos

Após sair do rotativo, a atenção deve continuar. O especialista recomenda registrar todos os gastos, construir uma reserva de emergência e monitorar a fatura semanalmente.

Segundo ele, o cartão pode ser um aliado quando utilizado com disciplina. O ideal é usá-lo apenas quando o valor da compra já estiver separado no orçamento e garantir o pagamento integral da fatura até o vencimento.

“Cartão de crédito não é solução para falta de dinheiro nem ferramenta para compras por impulso. Usar de forma consciente é o que evita cair no mesmo problema de novo”, alerta.

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