Política
Lula volta a defender soberania e diz que Bolsonaro é ‘patriota falso’
A declaração foi feita durante abertura do Congresso da UNE, que reuniu cerca de 10 mil estudantes


O presidente Lula (PT) voltou a direcionar críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por seu tarifaço contra o Brasil e afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é um “patriota falso” por vincular o fim das taxas a sua anistia.
“A gente não aceita a ideia do presidente mandar uma carta, via o email dele, dizendo que a partir do dia 1º, se não libertar o Bolsonaro, que vai nos taxar em 50%”, disse. As declarações de Lula aconteceram nesta quinta-feira 17, durante a abertura 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes, realizado em Goiânia.
O presidente ainda citou os mais de 200 anos que o País mantém relações diplomáticas com os EUA, e o superávit norte-americano de mais de 400 bilhões de dólares. “Nós vamos responder da forma mais civilizada possível e da forma que um democrata responde”, acrescentou. “Não aceitamos que ninguém, de nenhum País, se meta nos nossos problemas internos”, emendou.
Lula também criticou a estratégia utilizada pelo clã Bolsonaro de defender que Eduardo Bolsonaro, deputado licenciado, permaneça nos Estados Unidos. O ex-presidente têm declarado que se Eduardo retornar ao Brasil será preso pela Polícia Federal. Apesar da declaração, não há ordem de prisão contra o deputado.
“E fica abraçado na bandeira americana, esse patriota falso”, bradou Lula. “Nós vamos tomar a bandeira verde e amarela. Bolsonaro que transfira seu título pra lá e vá votar lá. Porque aqui quem manda somos nós brasileiros”, acrescentou.
O presidente defendeu ainda a autonomia do STF e a ação sobre a tentativa de golpe de estado, que já tornou réus Bolsonaro e mais sete pessoas. “Quem está julgando eles são os ministros da Suprema Corte com base nos autos do processo”, avaliou.
Recado aos estudantes
Durante o seu discurso, o presidente também fez uma análise do papel da esquerda no País, com baixa representatividade no Congresso, e chamou a juventude para uma atuação política, prevendo a nova disputa eleitoral no ano de 2026.
“A esquerda toda que está aqui não tem mais de 140 deputados em todo o congresso nacional. Vocês tem que lembrar disso. Por que o PT é capaz de eleger um presidente cinco vezes, entre Lula e Dilma e só fez 70 deputados federais? Nós achamos que o nosso discurso é verdadeiro, mas será que o povo está nos compreendendo?”, avaliou.
Lula acrescentou que uma das estratégias de êxito para o campo progressista é ter maioria no Congresso Nacional. “Esse é um desafio pra UNE disputar, pra juventude pensar. Se a gente não montar uma estratégia como fazer maioria nas prefeituras, nos governos do estado, a gente vai continuar reivindicando e tendo dificuldades”, acrescentou.
O presidente sugeriu que a UNE organize um movimento de atuação nas periferias para que os estudantes possam dialogar com a juventude dos territórios periféricos, para ampliação do capital político. “Pra conversar com a juventude que não teve chance de estudar, pra mostrar que vocês estão do lado deles, não são alheios a eles. A gente precisa acreditar que tem chance de mudar de verdade”, insistiu.
Durante a cerimônia, o presidente sancionou, ao lado do ministro da Educação, Camilo Santana, uma lei para destinar recursos do Fundo Social à assistência estudantil, com foco em estudantes ingressantes por ações afirmativas nas instituições federais de ensino superior e de educação profissional e tecnológica (EPT).
A medida visa garantir condições de permanência e conclusão de cursos para jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica, prioritariamente aqueles beneficiados pela Lei de Cotas.
Com a legislação, os recursos originários da exploração de petróleo e gás natural (royalties e participações especiais), serão direcionados à Política Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), lançada em 2024, e a programas similares de estados e municípios. A Pnaes assegura acesso a alimentação, transporte, moradia, saúde, inclusão digital e outros benefícios essenciais para reduzir a evasão e promover a equidade no ensino público federal.
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