Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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Paixão e surpresas

O Mundial de Clubes da Fifa apresentou um verdadeiro cabo de guerra entre os gigantes do futebol atual, que culminou com duas partidas espetaculares

Paixão e surpresas
Paixão e surpresas
O troféu do Super Mundial de Clubes da Fifa em 2025. Foto: Fabio Teixeira/Anadolu via Getty Images
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A despeito dos muitos acontecimentos recentes no campo esportivo, o Mundial de Clubes da Fifa ainda rende assunto. Esse torneio, afinal de contas, foi desenhado para ser a principal disputa do futebol.

O que vimos foi um verdadeiro cabo de guerra entre os gigantes do futebol mundial, que culminou com duas partidas espetaculares. O futebol é assim mesmo, cheio de reviravoltas que ajudam a explicar tamanha paixão.

No fim, o Paris Saint-Germain sentiu o gosto do próprio veneno, pagando na mesma moeda com que havia superado o Real Madrid, por 4 a 0 na semifinal do mesmo campeonato.

Na final, no domingo 13, foi o Chelsea que o envolveu, alcançando seu melhor momento na hora certa e levando o título para casa, com uma partida encerrada com 3 gols a 0.

Tenho que exaltar o trabalho de Enzo Maresca, técnico do Chelsea, e de Luis Enrique, treinador do PSG. Na minha opinião, eles foram os melhores dentre os treinadores que se destacaram.

É aquela velha história: favoritismo existe, mas não define o resultado na véspera, especialmente em decisões.

E, por falar em reconhecimento, é difícil, no futebol, elogiar a arbitragem, que vive sob o fogo cruzado dos perdedores, mas vale a pena mencionar o elevado padrão dos responsáveis pelos apitos e bandeiras neste Mundial.

Teve de tudo no torneio, inclusive uma confusão com a participação do experiente e extraordinário goleiro Gianluigi Donnarumma, do PSG, protagonista de um momento marcante.

O meia-atacante Jamal Musiala, do Bayern, sofreu uma grave lesão no tornozelo esquerdo após uma dividida com Donnarumma, numa partida pelas quartas de final do Mundial.

Foi uma cena comovente vê-lo sair em lágrimas do “bolo” que se formou ao saber do resultado trágico do lance, que deixará Musiala fora dos campos por algum tempo.

O Mundial nos apresentou uma quantidade enorme de craques, goleiros espetaculares e revelações empolgantes.

Alguns destaques foram memoráveis, como os goleiros Robert Sánchez (do Chelsea) e o marroquino Yassine Bounou (do Al-Hilal); o incansável austríaco Konrad Laimer (do Bayern de Munique); o habilidoso português Vitinha (do PSG); o também incansável português Pedro Neto (do Chelsea); Jhon Arias (do Fluminense) e o veterano Thiago Silva ( também do Fluminense), entre outros.

Mais uma vez, chamou atenção a atuação brilhante de alguns jovens talentos, mesmo que “franzinos” no meio de gigantes avantajados. É o caso de Estêvão (do Palmeiras), João Pedro (do Chelsea) e Cole Palmer (também do Chelsea), considerado o melhor jogador da finalíssima.

O balanço para o futebol brasileiro foi altamente positivo. Resta saber se vamos conseguir aproveitar tudo de bom que esses resultados nos podem trazer.

E mal o Mundial de Clubes terminou, já temos um escândalo no futebol brasileiro: a situação do atacante Pedro, do Flamengo. É mais uma trapalhada no relacionamento entre jogador, treinador e clube.

Para mim, este caso guarda semelhanças com a novela que virou a minha própria história com o Botafogo, que resultou na conquista do “Passe Livre” para os jogadores de futebol.

O “Caso Bosman”, na década de 1990, semelhante ao que aconteceu comigo, liberou o jogador belga Jean-Marc Bosman, e como ele pertencia à comunidade europeia, a liberação estendeu-se por todo o continente.

Acontecimentos desse tipo, com desentendimentos, são comuns no dia a dia dos clubes de futebol. Eles podem e deveriam ser solucionados pelos dirigentes responsáveis, o que geralmente acontece quando o clube vive um momento de tranquilidade.

O problema é quando os interesses das partes entram em choque e não são vistos como um todo, mas cada um por si.

Pedro tem toda a motivação para viver um momento de dedicação: ele se recuperou de uma lesão e, além de voltar a jogar normalmente para garantir sua posição no Flamengo, é lembrado para o ataque da Seleção Brasileira.

Essa e outras negociações têm sido lembradas pela mídia como confusas, com acertos e desistências por parte do Flamengo nesta janela de transferências.

O treinador alega queda de rendimento e desinteresse do jogador. Pedro, por sua vez, reconhece ter se sentido desprestigiado com a declaração de um dirigente, sem ter sido comunicado de que estaria “à venda” por um determinado valor.

Como bem lembrou o sagaz jornalista cearense Wilton Bezerra, o clube escolheu a opção de que “roupa suja não se lava em casa”. •

Publicado na edição n° 1371 de CartaCapital, em 23 de julho de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Paixão e surpresas’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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