Economia
As justificativas de Galípolo para a inflação fora da meta — e o que o BC fará a respeito
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, subiu 5,35% nos últimos 12 meses


O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, divulgou nesta quinta-feira 10 uma carta aberta dirigida ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), na qual atribuiu o estouro da meta de inflação a fatores como a atividade econômica, o câmbio e o custo da energia elétrica.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, subiu 5,35% nos últimos 12 meses. A meta de inflação, porém, é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo — ou seja, de 1,5% a 4,5%.
Conforme a nova regra de meta contínua, em vigor desde janeiro, considera-se a meta descumprida quando a inflação permanece fora da margem de tolerância por seis meses seguidos. Neste caso, o presidente do BC tem de justificar o resultado e detalhar as medidas para devolver o índice à meta.
Segundo Galípolo, a inflação fora da meta é resultado de diversos fatores, como atividade econômica aquecida, expectativas de inflação desancoradas, inércia inflacionária e depreciação cambial.
“A atividade econômica surpreendeu positivamente, com crescimento do PIB acima do esperado e mercado de trabalho bastante aquecido, refletindo aumento do consumo das famílias e do investimento”, escreveu o chefe do BC.
“Os principais fatores que contribuíram para o desvio de 2,35 p.p. da inflação em relação à meta foram a inércia
dos doze meses anteriores (contribuição de 0,69 p.p.), as expectativas de inflação (0,58 p.p.), o hiato do produto (0,47 p.p.), a inflação importada (0,46 p.p.), a bandeira tarifária de energia elétrica (0,27 p.p.) e demais fatores (-0,12 p.p.).”
Os “demais fatores” mencionados englobam ajustes específicos em preços administrados e efeitos de “anomalias climáticas”.
Ao tratar das medidas necessárias para garantir o retorno da inflação à meta, Galípolo citou o atual ciclo de alta na taxa básica de juros, a Selic. Na reunião finalizada em 18 de junho, o Comitê de Política Monetária levou o índice a 15% ao ano, o mais alto desde julho de 2006.
No encontro do mês passado, enfatizou Galípolo, o Copom indicou a previsão de interromper o ciclo de alta para “examinar os impactos acumulados do ajuste ora realizado”, a fim de avaliar se a manutenção da taxa de juros “por período bastante prolongado” é apropriada para levar a inflação aos limites estabelecidos.
Ele salientou, porém, que o Comitê “não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”.
“Ainda, o Comitê avaliou que a política monetária deve permanecer em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas”, diz a carta do presidente do Banco Central.
Fatores inflacionários, prosseguiu Galípolo, continuam adversos, a exemplo de “resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, expectativas de inflação desancoradas e projeções de inflação elevadas”.
Segundo Galípolo, o Banco Central espera que o IPCA retorne aos limites de tolerância a partir do fim do primeiro trimestre de 2026. Já a volta da inflação à marca de 3% está no horizonte para o quatro trimestre do ano que vem.
“Durante o período de desenquadramento, o Banco Central investirá no reforço da comunicação sobre as razões do
descumprimento da meta, sobre as medidas adotadas e sobre a evolução do cenário de convergência da inflação”, completou.
Leia a carta:
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