

Opinião
Saldo positivo
Apesar do predomínio dos riquíssimos times europeus, o Mundial de Clubes rendeu bons frutos para o futebol brasileiro


Agora, só resta a finalíssima do Mundial de Clubes, que premiou os dois melhores times de futebol profissional do planeta na atualidade: o francês PSG e o inglês Chelsea. Como diz a máxima dos torcedores, “futebol é momento”. As semifinais com três times europeus e um brasileiro, o Fluminense, renderam dois jogos díspares nessa primeira versão do torneio.
A segurança emocional do Chelsea ao longo de toda a partida foi algo de um nível extraordinário. Diferentemente do que se viu na maioria das partidas eliminatórias, o time inglês começou o jogo em um ritmo moroso, especialmente nas saídas de bola. Ficamos tentando entender se isso se devia ao controle do desgaste provocado pela temperatura elevada ou a algum outro fator. No fim, ficou evidente a capacidade da equipe de se organizar e demonstrar amadurecimento no controle de uma partida tão difícil.
O Chelsea fez por merecer. Conduziu uma partida extremamente aplicada que, infelizmente, acabou eliminando o representante brasileiro. Ainda assim, foi um confronto espetacular. A prova do controle e domínio do clube inglês apareceu já antes do apito inicial, com a surpreendente contratação e escalação imediata do jovem brasileiro João Pedro, que rapidamente tornou-se a sensação do Mundial de Clubes. Seu desempenho na competição foi excepcional, e ele já desponta como um forte candidato a uma vaga na Seleção Brasileira, tão carente de goleadores.
Aliás, recentemente Gerson acertou sua transferência do Flamengo para o Zenit, da Rússia. O futebol brasileiro despede-se de mais um armador clássico, uma peça que tem feito falta à Seleção Canarinho. Quem diria que o Brasil chegaria a esse ponto, depois de ter sido agraciado, ao longo da história, com gênios como Zizinho, Didi e outro talentoso Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, que brilhou na conquista da Copa do Mundo de 1970.
Já a partida do outro lado da chave do Mundial de Clubes, entre o poderoso Real Madrid e o “caçula” entre os maiorais, o PSG, beirou o fiasco. O clube espanhol, maior vencedor da história, praticamente não entrou em campo. Não se tratou de poupar jogadores ou algo do tipo. Foi simplesmente uma atuação muito abaixo, marcada pelo mau momento da equipe.
Inacreditável a miscelânea da escalação do Real Madrid. Ao escalar o capitão Valverde na lateral direita, o técnico desfigurou completamente a equipe. Dois erros graves ocorreram ao mesmo tempo: o meio-campo perdeu seu equilíbrio e a defesa ficou desprotegida. O resultado foram dois gols sofridos em menos de dez minutos – golpes fatais. No jogo das quartas de final contra o Borussia Dortmund, que garantiu a classificação para a fase seguinte, o clube espanhol sofreu dois gols somente nos acréscimos.
De modo geral, os jogos do Mundial de Clubes evidenciaram as características que arrastam multidões pelo mundo: resultados surpreendentes e emoção do início ao fim. Uma das principais razões para a realização do torneio nos EUA é justamente ampliar o interesse do público no mercado norte-americano. Não por acaso, a próxima Copa do Mundo de seleções será sediada no país, com partidas também disputadas no México e no Canadá – outra aposta na expansão da base de fãs do futebol na região.
Os norte-americanos claramente não são “fanáticos” pelo esporte, que já foi bretão. Em muitos jogos, os estádios não lotaram, mesmo com a adoção de políticas de incentivo, como a redução do valor cobrado pelos ingressos.
Para o futebol brasileiro, o Mundial de Clubes teve um resultado altamente produtivo, a começar pelas elevadas premiações que Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras receberam. Espero que os dirigentes desses clubes saibam colher os frutos que esse torneio rendeu.
Em ótima fase e um dos destaques do Mundial de Clubes, o colombiano Jhon Arias, meia do Fluminense, não escondeu o desejo de atuar no Velho Continente. Ainda assim, foi muito feliz ao enaltecer os feitos do futebol sul-americano no torneio – não apenas dos clubes, mas também dos atletas latinos que brilham em diversas equipes ao redor do mundo.
O predomínio dos clubes europeus, financiados por riquíssimos “donos” estrangeiros – e até mesmo por Estados nacionais – salta aos olhos. É o caso do PSG, controlado pela Qatar Sports Investment (QSi), subsidiária da Qatar Investment Authority, fundo soberano controlado pelo emir do Qatar, Tamim bin Hamad Al Thani. Fico me perguntando se o Brasil, em sua era desenvolvimentista, não era mais rico do que é hoje. Já vivemos fases melhores, não apenas no futebol, mas também em diversos esportes, como basquete, vôlei, boxe, natação e tênis, entre outros.
Os tempos mudaram e muita coisa se transforma – inclusive os imperialismos. •
Publicado na edição n° 1370 de CartaCapital, em 16 de julho de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Saldo positivo’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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