Política
Tarifas de Trump: Tarcísio oscila entre a lealdade a Bolsonaro e o temor por prejuízos a São Paulo
Tentando se equilibrar, governador reconhece a ameaça da taxação à economia e busca diálogo com americanos


O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), voltou a jogar sobre Lula (PT) a responsabilidade pelas tarifas de 50% impostas por Donald Trump a produtos brasileiros. Mas, desta vez, o tom mudou: ao lado da crítica, Tarcísio admitiu o impacto devastador que a medida pode ter sobre a economia paulista — e cobrou ação diplomática.
Em Guarulhos, durante a entrega de um trem da Linha 6-Laranja do Metrô, o governador tentou equilibrar a retórica política com pragmatismo. Reconheceu que há uma “janela até agosto” para negociar com os EUA e pediu que Brasília “deixe de lado ideologias, revanchismo e narrativas” para resolver o impasse. Por um lado, um apelo ao Planalto – mas também um movimento para se distanciar do efeito colateral de suas próprias acusações.
“O tarifaço é deletério, principalmente para estados com produção de alto valor agregado”, disse. Lembrou ainda que os EUA são o maior investidor estrangeiro no Brasil e parceiros históricos: “Temos muito a perder. Há produtos brasileiros fundamentais para empresas americanas que não têm substituto”.
Tarcísio tem razões mais do que concretas para se preocupar. São Paulo, epicentro da relação comercial Brasil-EUA, responde por 31,2% das exportações nacionais ao país. Só no primeiro trimestre de 2025, o fluxo comercial paulista com os americanos chegou a 3 bilhões de dólares, com destaque para sucos, aeronaves e combustíveis.
Diante do risco, Tarcísio revelou ter iniciado conversas com diplomatas americanos e afirmou que o governo paulista também articula com o federal. “Pegou todo mundo de surpresa, inclusive empresas dos EUA. Não é bom para ninguém”, concluiu.
A postura de Tarcísio não foi bem recebida pelos parlamentares de oposição da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Em nota, a deputada estadual Thainara Faria (PT), líder da minoria na Alesa, disse que as críticas de Tarcísio a Lula representam um “ato de irresponsabilidade institucional, subserviência ideológica e oportunismo eleitoral”.
“Na contramão de qualquer postura de estadista, Tarcísio celebrou a retaliação internacional, culpando o presidente Lula e minimizando os impactos gravíssimos que essa medida terá sobre a economia paulista e sobre os empregos da nossa população”, afirmou.
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