Do Micro Ao Macro
Geração X deve liderar trabalho, política e macroeconomia até 2030, aponta estudo
Com maior renda nos EUA e presença crescente em cargos de liderança, GenX concentra poder de decisão nas empresas, governos e famílias; Mulheres, porém, enfrentam jornada mais longa até o topo


Enquanto os holofotes ainda miram a Geração Z, quem ocupa as cadeiras mais estratégicas nas empresas e governos é a Geração X — nascida entre os anos 60 e 80. Segundo o relatório internacional Ipsos Generation Report 2025, essa é a geração que está à frente das decisões no Ocidente e deve seguir no comando até pelo menos 2030.
Os dados mostram que a idade média dos CEOs da Fortune 500 está entre os GenX. Essa geração também tem a maior renda nos EUA, superando os Baby Boomers e os Millennials. Embora menos midiática, ela esticou sua permanência no mercado e segue como centro de poder nas reuniões de negócios, na política e na vida familiar.
Na União Europeia, os GenX somam cerca de 88 milhões de pessoas, ou 20% da população adulta. Nos Estados Unidos, lideram os índices de escolaridade superior. No relatório, a Ipsos aponta que os membros da geração devem seguir em atividade até os 70 anos, movendo decisões e recursos nos bastidores do mercado global.
Liderança e equilíbrio geracional
A publicitária Lília Lopes, 51 anos, diretora de Publicidade da Prefeitura de Salvador, é um exemplo da presença GenX no setor público. Com quase três décadas de carreira, ela lidera equipes compostas por profissionais de várias faixas etárias — do jovem aprendiz ao servidor sênior — e defende o equilíbrio entre gerações como vantagem competitiva.
“Na hora de montar um time produtivo, o equilíbrio entre gerações é essencial. A GenZ traz velocidade e inovação, enquanto os mais experientes oferecem excelência processual e método. Saber extrair o melhor de cada perfil é o que garante destaque no mercado”, afirma Lília.
Além da vivência em campanhas públicas e grandes eventos, ela aponta que a diversidade etária e de experiências gera impacto direto nos resultados. Um relatório da McKinsey & Company, citado por ela, mostra que a diversidade cultural e de gênero nas lideranças pode aumentar a lucratividade em até 21%.
Segundo Lília, reuniões de pauta simples costumam ser momentos ricos: “O jovem traz ideias rápidas e frescas. Já o experiente questiona, estrutura e consolida. A soma é poderosa”.
Comunicação segmentada e inteligência geracional
Com experiência em marketing digital, publicidade e política, Lília aprendeu que comunicação eficaz depende de linguagem, canal e verba certos. Ao gerenciar dezenas de campanhas simultaneamente, ela adaptou estratégias para públicos heterogêneos, usando dados e sensibilidade.
“Existe até o estigma de que o sucesso da comunicação da Prefeitura vem da Geração Z. Mas saber construir a linguagem certa para cada público é que faz a diferença”, diz. Para ela, é esse mapeamento detalhado que garante resultado real e evita desperdício de recursos.
Mulheres da GenX: mais escolaridade, menos cadeiras
Mesmo com avanços educacionais, as mulheres ainda enfrentam um caminho mais lento rumo à liderança. Dos 500 CEOs da Fortune, apenas 52 eram mulheres em 2024 — independentemente da geração.
Nos EUA, o público feminino da GenX superou os homens em nível educacional pela primeira vez, mas a desigualdade persiste. Lília acredita que as mulheres carregam competências históricas que precisam ser reconhecidas como diferencial competitivo.
“Durante muito tempo achei que precisava ser ‘durona’ para ser respeitada. Hoje percebo que o olhar feminino, atento, intuitivo e conciliador é o que mais gera impacto”, afirma. Segundo ela, liderar exige escuta, empatia e leitura do que não está sendo dito — algo que não se aprende em treinamentos, mas na vivência.
Com passagens por agências e projetos em vários estados, Lília ressalta que estratégia de comunicação eficaz não depende apenas de verba, mas do aproveitamento da inteligência de uma equipe diversa. “A sabedoria feminina capta o invisível. Esse é o nosso diferencial.”
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