CartaCapital
Violência/ O crime de ser mulher
O número de feminicídios no País continua a crescer


No ano passado, registra o Mapa de Segurança Pública divulgado pelo Ministério da Justiça na terça-feira 10, houve um aumento dos casos de violência contra mulheres, após ligeira queda em 2023. Os feminicídios voltaram a crescer e alcançaram o maior patamar da série histórica. Foram 1.459 assassinatos registrados, média de quatro por dia. O Centro-Oeste lidera a taxa nacional, 1,87 morte por 100 mil mulheres. Os estupros atingiram a marca de 83.114, maior número em cinco anos. O mapa aponta, por outro lado, redução de 5,5% dos homicídios gerais, que somaram 38,5 mil no período. Os assassinatos dolosos recuaram 6,3% e os latrocínios, 1,6%. O ministério computa, porém, elevação das lesões corporais (22,9%).
Batom na cadeia
A Primeira Turma do STF formou maioria para rejeitar o recurso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, condenada a 14 anos de prisão por participação ativa na invasão da sede dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, ato que pretendia desencadear um golpe no Brasil. Débora foi transformada pelos bolsonaristas na “fadinha do batom”, cujo único e inocente ato teria sido pichar a estátua da deusa Têmis em frente ao Supremo. História das mil e uma noites. A cabeleireira tinha sã consciência dos objetivos perseguidos pela turba à qual se associou de forma entusiasmada. O processo ainda não transitou em julgado e a defesa da condenada ainda tem o direito de apresentar recursos. A mocinha do batom está em prisão domiciliar.
Congresso/ Espírito de corpo… E de porco
Por pressão, Hugo Motta promete levar o caso Zambelli ao plenário
A trupe bolsonarista tenta proteger a foragida – Imagem: Arquivo/Agência Câmara
O presidente da Câmara jura que sua mudança de posição em relação à perda de mandato, determinada pelo Supremo Tribunal Federal, da deputada foragida Carla Zambelli não foi motivada pela chantagem da base bolsonarista na Casa. Hugo Motta não se deu, no entanto, ao trabalho de explicar a nova posição, nem foi questionado a respeito. Na segunda-feira 9, o parlamentar havia dito o seguinte: “Quando há conclusão de julgamento no Supremo, não cabe mais ao presidente colocar em votação porque já tem condenação. Então, a decisão judicial tem de ser cumprida”. No dia seguinte, a interpretação dos fatos era outra. “Com relação ao cumprimento da decisão acerca do mandato, darei o cumprimento regimental. Vamos notificar para que ela possa se defender e a palavra final será a palavra do plenário”, anunciou. “É isso que vamos fazer. Isso é cumprir a decisão.” Condenada a dez anos de prisão por invadir o sistema do Tribunal Superior Eleitoral e tentar atrapalhar o processo em 2022, Zambelli fugiu do Brasil como se fosse uma típica meliante da beira do cais. Evadiu-se pela tríplice fronteira em Foz do Iguaçu, embarcou para Miami e agora está amoitada em algum lugar da Itália. O STF pediu a inclusão da parlamentar na lista de foragidos da Interpol e pretende solicitar a extradição. Zambelli fez jus à covardia bolsonarista.
Argentina/ Cristina Kirchner presa e inelegível
A Suprema Corte confirma a condenação da ex-presidenta
Imagem: Alessia Maccioni/AFP
Militantes peronistas estão acampados na porta da residência da ex-presidenta Cristina Kirchner em protesto contra a decisão da Suprema Corte que confirmou a condenação expedida por um tribunal de primeira instância. Acusada de administração fraudulenta em um processo nebuloso, CFK foi condenada a seis anos de prisão e impedida indefinidamente de disputar eleições. Por ter 72 anos, Kirchner, duas vezes mandatária do país, poderá cumprir a pena em casa. Os maiores sindicatos ameaçam convocar uma greve geral contra o que consideram mais um caso de lawfare, perseguição judicial de certas lideranças políticas, na América do Sul. “Em pleno processo eleitoral, vão proibir a participação da candidata mais importante da oposição”, denunciou a senadora Juliana Di Tullio. “Esta Argentina em que vivemos nunca deixa de nos surpreender”, protestou a ex-presidenta. “Não se enganem. Os juízes são três fantoches que respondem a líderes naturais muito acima deles.”
Guerra sem fim
Os mútuos ataques recentes enterraram as esperanças de um acordo de cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia, ao menos no curto prazo. O clima esquentou. Na segunda-feira 9, Vladimir Medinski, que lidera a delegação russa nas negociações com Kiev, afirmou que o Kremlin não descarta uma guerra nuclear se os ucranianos e seus aliados da Otan insistirem em reaver territórios ocupados pelas tropas russas. Putin controla mais de 5,5 mil ogivas. Na quarta-feira 11, os dois países realizaram uma troca de cadáveres. Moscou enviou os corpos de 1.212 soldados de volta à Ucrânia e recebeu em troca os restos de 27 compatriotas.
Colômbia/ A política do terror
Uma sequência de atentados coloca o país em alerta
Ataques atribuídos às Farc agitaram a cidade de Cali – Imagem: Joaquim Sarmiento/AFP
A tensão na Colômbia, ainda abalada pela tentativa de assassinato do senador e pré-candidato à Presidência Miguel Uribe, aumentou na terça-feira 10, quando 16 atentados, atribuídos a dissidentes das Farc, se espalharam por Cali. Os alvos eram delegacias e prédios públicos. Um policial foi morto em consequência dos ataques, que incluíram drones e carros-bomba. O secretário de Segurança da cidade, Jairo García, ofereceu uma recompensa equivalente a 400 mil reais para quem tiver informações sobre os responsáveis. Enquanto isso, o adolescente de 15 anos acusado de disparar contra Uribe declarou-se inocente perante o tribunal. Reacionário, o senador é neto de Julio César Turbay Ayala, presidente da Colômbia entre 1978 e 1982. Segundo o boletim médico, o parlamentar apresenta sinais de melhora, embora a situação continue crítica. O presidente Gustavo Petro anunciou uma recompensa equivalente a 4 milhões pela prisão de quem planejou o crime.
Publicado na edição n° 1366 de CartaCapital, em 18 de junho de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’
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