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Assombrações à beira-mar

‘Prédio Vazio’ consolida o capixaba Rodrigo Aragão como o grande nome do cinema brasileiro de horror

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Assombrações à beira-mar
Artesania. O sétimo longa-metragem do diretor foi rodado na cidade de Guarapari – Imagem: Fábula Filmes/GOVES
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Com a morte de José Mojica­ ­Marins, em 2020, o cinema brasileiro de horror perdia sua maior referência. O gênero, por outro lado, já vivia seu momento mais efervescente desde a década de 1970. Falar em “herdeiros de Zé de Caixão” é um tanto exagerado, mas há discípulos e continuadores do visionário Mojica. Um deles, talvez o com maior reconhecimento, é o capixaba Rodrigo Aragão.

Aragão, de 48 anos, estreou no longa-metragem com Mangue Negro (2008) e chamou atenção pela inventividade e vigor ao tratar de um ataque zumbi em meio à poluição de um manguezal. Quase duas décadas depois, ele chega ao circuito com seu sétimo longa-metragem, Prédio Vazio, em cartaz nos cinemas desde a quinta-feira 12.

“Em cada filme me proponho um desafio”, diz o diretor. “Em A Noite do Chupacabras (2011) quis fazer um western de terror numa floresta tropical. Em O Cemitério das Almas Perdidas (2020) busquei um épico sobre a colonização do Espírito Santo com vampiros. Agora, em Prédio Vazio, queria fazer uma história de fantasmas, e o cenário urbano de Guarapari parecia perfeito.”

Nascido numa vila de pescadores chamada Perocão, próxima a Guarapari, cidade litorânea a 53 quilômetros da capital Vitória, Aragão sempre se intrigou com os imensos edifícios da orla que permanecem praticamente sem nenhum morador fora do verão. São centenas de apartamentos só ocupados por turistas durante as altas temporadas. O que fica por ali no resto do ano é o ponto de partida para a fantasia assombrosa de Prédio Vazio.

O filme tem como uma das protagonistas Gilda Nomacce, atriz paulista cada vez mais vinculada a papéis assustadores. Ela interpreta a zeladora de um edifício esvaziado depois do Carnaval, que precisa lidar com a chegada de uma garota desesperada em busca da mãe, sumida desde o fim da folia na cidade. Num estilo visual similar a Suspiria (1977), de Dario­ Argento, e presenças fantasmagóricas parecidas com o que se via no horror japonês dos anos 1990, o filme encontra uma linguagem própria.

Também maquiador e profissional de efeitos especiais, Rodrigo Aragão é um artesão que constrói todos os detalhes das imagens. Em Prédio Vazio, essa impressionante composição aparece não apenas no visual das criaturas que atravessam o filme, mas também na arquitetura.

O prédio do título, por exemplo, não existe de verdade. “Construímos o interior do edifício numa casa e criamos a parte externa com miniaturas e maquetes”, revela o diretor. “São truques que nem sempre o público percebe, mas que dão um ar de cinema antigo ao filme.” •

Publicado na edição n° 1366 de CartaCapital, em 18 de junho de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Assombrações à beira-mar’

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