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Nordeste recebe R$ 10 bilhões para financiar energia verde e atrair indústria limpa
Nova linha de crédito do BNDES busca impulsionar projetos sustentáveis na região; parte dos recursos será a fundo perdido


O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), junto dos bancos públicos alinhados ao programa Nova Indústria Brasil (NIB), anuciaram uma linha de financiamento de 10 bilhões de reais exclusiva para projetos de energia verde na região Nordeste.
O anúncio havia sido feito pelo presidente Lula na semana anterior, e o programa foi lançado no Piauí durante a Brazil Energy Conference, em Teresina (PI), que contou com a presença de autoridades e representantes do setor energético nacional e internacional.
Os recursos serão destinados à implantação de projetos em energia renovável, bioeconomia, descarbonização, eletromobilidade, tecnologias para agricultura familiar e instalação de data centers. Parte do montante será distribuída na forma de crédito reembolsável e outra parte será a fundo perdido.
Projetos devem ser inscritos até agosto
De acordo com Maria Fernanda Coelho, diretora de Crédito Digital para Micro, Pequenas e Médias Empresas do BNDES, os projetos devem ser apresentados até agosto.
Podem participar empresas brasileiras e estrangeiras, além de cooperativas que pretendem investir na região. Cada projeto precisa prever um orçamento superior a 10 milhões de reais.
A linha integra o programa Nova Indústria Brasil e será operacionalizada com o apoio de bancos públicos — Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Caixa Econômica Federal — e agências como Finep e Sudene.
Rafael Fonteles, governador do Piauí, e Maria Fernanda Coelho, diretora do BNDES e presidente da ABDE, durante assinatura do acordo na Brazil Energy Conference, em Teresina (PI). 04/04/2025
Nordeste se posiciona como polo da nova economia
O governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste, Rafael Fonteles, afirmou que o estado quer ir além da geração de energia e se consolidar como referência na indústria verde.
“O Piauí já é polo em energia renovável. Agora queremos atrair toda a cadeia de valor da indústria limpa. O Nordeste tem a vocação natural para liderar essa transformação”, disse.
Fonteles reforçou que o acesso a crédito subsidiado é um dos principais desafios para o desenvolvimento regional. Segundo ele, o Nordeste responde por 25% da população e 14% do PIB, mas recebe apenas 10% do crédito para investimento.
ABDE firma acordo para ampliar acesso ao crédito
Durante o evento, a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) assinou um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o Consórcio Nordeste para ampliar o fluxo de crédito e fortalecer instituições financeiras de desenvolvimento na região.
O acordo prevê ações como mapeamento de gargalos, desenvolvimento institucional, intercâmbio de experiências e articulação de novas fontes de financiamento nacionais e internacionais.
Para Maria Fernanda Coelho, que também preside a ABDE, a parceria representa um avanço no apoio à geração de empregos, inclusão produtiva e fortalecimento de políticas públicas nos estados nordestinos.
“Essa parceria com o Consórcio Nordeste é importante porque as regiões Norte e Nordeste historicamente não receberam uma oferta adequada de crédito para atingir os mesmos patamares de industrialização e desenvolvimento das regiões Sul e Sudeste. O Centro-Oeste, por conta da agricultura empresarial, já teve uma mudança significativa na renda das famílias, mas o Norte e o Nordeste ainda exigem esse impulso” afirmou a presidente.
Segundo Maria Fernanda, a ideia é fortalecer as agências de fomento dos estados, que conhecem bem seus territórios. Para ela, o consórcio em si é uma inovação política, surgida em 2019, que teve papel importante durante a pandemia.
“É raro no Brasil vermos articulações entre governadores de diferentes partidos com objetivos comuns. A parceria também reforça o compromisso de ampliar o crédito e promover investimentos que impactam diretamente a população, com desenvolvimento econômico, ambiental e social”, completou.
Empresas estrangeiras
A Brazil Energy Conference reuniu empresários, técnicos e investidores do setor de energia, com forte presença de empresas chinesas.
Dois grandes projetos voltados à produção de energia solar e hidrogênio verde já estão em andamento no estado.
O evento, que termina neste sábado 7, deve reunir sete mil participantes, presencialmente e online. Os debates abordam temas como financiamento climático, inovação, energias renováveis e políticas públicas voltadas à descarbonização da economia.
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