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Novos bombardeios israelenses deixam mais de 100 mortos em Gaza
O governo de Netanyahu aprovou, nas últimas semanas, um plano para ampliar a ofensiva e mencionou a ‘conquista’ do território palestino


Mais de 100 pessoas morreram nesta quinta-feira 15 em novos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, segundo socorristas locais, enquanto o bloqueio do território continua — o que, segundo a ONG Human Rights Watch (HRW), se tornou uma “ferramenta de extermínio”.
A aviação atacou sobretudo o norte e o sul do território, devastado por mais de 19 meses de uma ofensiva israelense em resposta ao ataque do movimento islamista palestino Hamas em 7 de outubro de 2023.
“Houve bombardeios israelenses pesados durante toda a noite”, disse um morador do norte da Faixa, Amir Saleha. “Temos medo dia e noite. Todos os dias morrem pessoas, todos os dias há feridos. Não sabemos quando será a nossa vez.”
A Defesa Civil de Gaza afirmou que o número de mortos pelos ataques israelenses desde a madrugada de quinta-feira chegou a 103.
Conversações em Doha
Neste panorama de ataques incessantes, a viagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Oriente Médio deu um impulso aos esforços de mediação do Catar, para onde delegações de Israel e do Hamas viajaram nesta semana.
Em Doha, na noite de quarta-feira, o presidente dos EUA abordou o conflito de Gaza com o emir do Catar, de acordo com seu enviado no Oriente Médio, Steve Witkoff, que relatou avanços.
No entanto, nesta quinta-feira, o Hamas acusou Israel de “minar” os esforços de mediação do Catar, dos EUA e do Egito com sua “escalada militar deliberada”.
Trump, por sua vez, pressionou novamente para que os EUA assumissem o controle de Gaza e a transformassem em uma “zona de liberdade”.
“Gaza é parte integrante do território palestino; não é um bem imóvel à venda no mercado”, respondeu Basem Naim, um alto dirigente do grupo islamista, em um comunicado.
Apesar da pressão por uma saída para o conflito e das duras críticas internacionais ao prolongamento da guerra, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, alertou nesta semana que seu exército entrará em Gaza para “concluir a operação” e “derrotar o Hamas”.
O premiê também afirma que Israel tenta encontrar países dispostos a receber a população de Gaza, um território que o governo israelense pretende “conquistar”. Tanto a Jordânia quanto o Egito reiteraram que são contra o deslocamento da população na Faixa.
Rompendo uma trégua de dois meses, Israel retomou sua ofensiva em 18 de março com o objetivo declarado de garantir a libertação de todos os reféns feitos pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.
Naquele dia, os milicianos sequestraram 251 pessoas, das quais 57 permanecem em cativeiro em Gaza, incluindo 34 que o exército diz estarem mortas.
O ataque do Hamas deixou 1.218 mortos do lado israelense, a maioria civis, de acordo com uma avaliação da AFP baseada em números oficiais.
A campanha militar israelense matou cerca de 53 mil pessoas em Gaza, majoritariamente civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que a ONU considera confiável.
O mundo deve pôr fim à “tragédia em curso” em Gaza, uma “vergonha” para a comunidade internacional, implorou nesta quinta-feira o presidente palestino por meio de seu embaixador na ONU.
“Fome em massa”
Desde 2 de março, as forças israelenses também bloqueiam a entrada de ajuda humanitária em Gaza, fundamental para seus 2,4 milhões de habitantes, ameaçados agora por uma “fome em massa”, de acordo com várias ONGs, incluindo a Médicos do Mundo, Médicos Sem Fronteiras e Oxfam.
“O bloqueio israelense foi além de uma tática militar para se tornar uma ferramenta de extermínio”, disse a HRW nesta quinta-feira.
A Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), uma ONG criada e apoiada pelos Estados Unidos, afirmou que pretende facilitar a ajuda no território palestino até o fim de maio, distribuindo cerca de 300 milhões de rações de alimentos por um período inicial de 90 dias.
Desde o início da guerra em Gaza, a violência também explodiu na Cisjordânia, um território ocupado por Israel desde 1967.
No episódio mais recente, uma mulher israelense grávida, que estava a caminho de um hospital para dar à luz, foi morta quando o veículo que dirigia foi alvejado na região central da Cisjordânia, perto do assentamento de Brukhin.
“Usaremos todos os meios à nossa disposição, encontraremos os assassinos e os levaremos à justiça”, disse o chefe do Estado-Maior israelense, general Eyal Zamir.
A prefeitura de Tamun, no norte da Cisjordânia, relatou que cinco pessoas foram mortas em uma operação militar israelense.
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