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Morre Pepe Mujica, um dos maiores ícones progressistas da América Latina

Aos 89 anos, o ex-mandatário tratava um câncer de esôfago, diagnosticado em maio de 2024

Morre Pepe Mujica, um dos maiores ícones progressistas da América Latina
Morre Pepe Mujica, um dos maiores ícones progressistas da América Latina
Foto: Pablo Porciuncula/AFP
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Morreu nesta terça-feira 13, aos 89 anos, o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, que tratava um câncer de esôfago diagnosticado em maio de 2024.

“Com profunda dor comunicamos que faleceu nosso companheiro Pepe Mujica. Presidente, militante, referência e líder. Vamos sentir muito a sua falta, Velho querido”, escreveu o presidente Yamandú Orsi em sua conta no X.

No domingo 11, a esposa do ex-presidente, Lucía Topolansky, confirmou que ele estava em condição terminal, recebendo cuidados paliativos para não sentir dores e ansiedade.

O estado clínico delicado fez com que Mujica não comparecesse à eleição regional para o governo de Montevidéu, realizada no domingo e que elegeu o seu ex-ministro da Economia Mario Bergara.

“Íamos fazer um esforço para votar, mas sair de carro era demais para ele e a médica recomendou que não fosse”, disse a esposa. “Estou com ele há mais de 40 anos e estarei com ele até o fim. Foi o que prometi. O que tentamos fazer é preservar a privacidade da nossa família, mas, com um personagem como o Pepe, é meio impossível.”

Candidato da Frente Ampla de Esquerda, Bergara derrotou o postulante da coalizão de centro-direita, Martín Lema, ministro de Desenvolvimento Social durante o governo de Luis Lacalle Pou (2020-2025). As eleições regionais aconteceram quase seis meses após o retorno da esquerda à Presidência com Yamandú Orsi.

Bergara agradeceu a Mujica após ser eleito. “Obrigado, Pepe. Este triunfo também traz a sua marca: a de quem semeia sem pedir nada em troca, a de quem sempre acredita nas pessoas. Porque você não fala sobre pessoas: você fala com pessoas. E essa lição nos guiará em nossa tarefa”, escreveu, em seu perfil no X.

Quem foi Pepe Mujica

Mujica nasceu em Montevidéu, capital do Uruguai, em 20 de maio de 1935, e estava prestes a completar 90 anos. Ele foi o 40º presidente do Uruguai, exercendo seu mandato entre 2010 e 2015.

A presidência de Mujica deixou marcas de avanços sociais e econômicos ao Uruguai, mas se sobressaiu, principalmente, pela imagem do mandatário, associada à escolha de levar uma vida simples, distante de ostentações.

Pepe Mujica trocou a trocou a residência oficial, o Palácio de Suárez y Reyes, pela permanência em sua chácara, de nome La Puebla, nos arredores de Montevidéu. “Eu não sou pobre , eu sou sóbrio, de bagagem leve. Vivo com apenas o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade”, declarou, à época.

Como presidente, também doava 90% do próprio salário para um fundo que alimenta o programa governamental de moradias populares. Ele tinha um Fusca ano 1987 como bem declarado.

Sob a presidência de Mujica, em 2013, o Uruguai deu início ao longo processo que culminaria com a liberação da maconha no país. Além das transformações culturais e legais, a esquerda uruguaia, com Mujica e Tabaré Vázquez à frente, conseguiu fazer com que o PIB per capita crescesse três vezes – passando de 4.720 para 15.560 dólares.

Após cumprir o mandato presidencial de cinco anos, Mujica exerceu o cargo de senador até outubro de 2020, quando renunciou.

Em uma carta lida em uma sessão extraordinária no Senado, Pepe Mujica justificou a decisão antecipada pelo cenário da pandemia, associado a fatores de risco. Mujica tinha uma doença autoimune chamada Síndrome de Strauss, que, com a idade avançada, o coloca no grupo de risco para a Covid-19.

“Isso não significa o abandono da política, mas sim o abandono da linha de frente, por entender que um bom dirigente é aquele que deixa pessoas que o superam com vantagem. Vou agradecido, com muitas recordações e profunda nostalgia. A pandemia me derrubou”, disse, à época.

A vida política de Pepe Mujica começou ainda na juventude, como um militante contra a ditadura uruguaia. À época, Mujica integrou o União Popular, movimento de esquerda formado por descontentes do Partido Nacional, um dos dois maiores do país. Em seguida, passou a fazer parte do grupo guerrilheiro MLN-T (Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros). Os Tupamaros começaram a agir em 1965, oito anos antes do início da ditadura uruguaia, que perduraria até 1985. O grupo realizava ações armadas, como atentados e sequestros, contra a ditadura uruguaia.

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