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A vez das periferias

O banco reforça seu braço social para impulsionar o desenvolvimento das comunidades mais vulneráveis do País

A vez das periferias
A vez das periferias
Ações prioritárias. Estimular o empreendedorismo e aumentar a resiliência climática são alguns dos objetivos, explica Tereza Campello – Imagem: iStockphoto e Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
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Principal banco de desenvolvimento do Brasil e um dos maiores do mundo, o BNDES decidiu reforçar sua atuação na área social. Há pouco mais de um ano, a instituição lançou o programa BNDES Periferias, destinado ao financiamento de projetos que promovam a inclusão social e a sustentabilidade ambiental em comunidades pobres ou desassistidas. A instituição financeira também tem realizado investimentos robustos na capacitação de empreendedores periféricos, estimulando a geração de renda e o fortalecimento do protagonismo comunitário.

Sob o “guarda-chuva” do programa, o banco lançou, em março de 2024, os projetos Polos BNDES e Periferias Empreendedoras, que já estão na terceira etapa e somam um investimento total de 150 milhões de reais. Em abril deste ano, foram anunciadas mais duas iniciativas: o Periferias Verdes, voltado à inclusão produtiva por meio de ações de economia circular, agricultura urbana e resiliência climática; e o Periferias Fortes, que tem como objetivo selecionar executores para fortalecer organizações sociais atuantes nas periferias das regiões Norte e Nordeste. Juntas, essas duas iniciativas representam um investimento adicional de 85 milhões de ­reais, elevando o total destinado ao BNDES Periferias para 235 milhões.

Cada frente possui características próprias, adaptadas a funcionalidades e usos definidos coletivamente pelas comunidades, com base em suas potencialidades e vocações. Ao todo, 269 territórios identificados pelo IBGE e reconhecidos pelo Ministério das Cidades podem ser contemplados no processo seletivo. Podem participar dos editais entidades da sociedade civil sem fins lucrativos que atuam em áreas periféricas de todo o País. O Polos BNDES tem como proposta custear estruturas físicas voltadas à construção e revitalização de espaços destinados à integração e socialização da comunidade. Já o Periferias Empreendedoras prioriza projetos que promovam trabalho e geração de renda nas comunidades, contribuindo para o fortalecimento de negócios, ampliação de mercados e acesso a financiamentos, por meio de capacitação e mentorias.

O Periferias Verdes está disponibilizando 50 milhões de reais para projetos de recuperação, conservação e preservação ambiental, com foco na inclusão produtiva local. “Nessa frente, as comunidades vão poder trabalhar a resiliência climática, que envolve tanto se antecipar aos eventos extremos quanto gerenciar a agenda de mudanças climáticas no território”, explica Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social e atual diretora socioambiental do BNDES. Já o Periferias Fortes está oferecendo 17,5 milhões de reais para organizações sociais da Região Norte e o mesmo valor para instituições do Nordeste. Essas organizações terão o papel de qualificar entidades periféricas locais, para que possam competir em condições de igualdade com instituições de outras regiões do País.

“A atuação social do BNDES existe há muito tempo. Temos, por exemplo, o programa de cisternas no Semiárido nordestino e uma iniciativa voltada aos coletores de material reciclável. Mas nunca houve algo tão estruturante, organizado e estratégico voltado para a agenda urbana”, destaca Campello. “Trabalhamos com recursos não reembolsáveis e com um impacto excepcional nas comunidades. A periferia é um espaço de muitas potencialidades. Todo mundo achava que a pandemia poderia despertar a solidariedade dos mais ricos, mas isso não aconteceu. Quem garantiu a sobrevivência da população nos territórios foi a própria periferia. As pessoas se organizaram em cozinhas solidárias, e a maioria desses territórios saiu muito fortalecida. A população local uniu-se para salvar o seu povo.”

Agora, a instituição financia até 90% dos projetos selecionados e investe na capacitação de entidades parceiras do Norte e Nordeste

Em um primeiro momento, o banco destinou 50 milhões de reais para o ­BNDES Polos e o Periferias Empreendedoras, valor que foi mantido na segunda e na terceira etapa. Das cem propostas elegíveis apresentadas, 17 foram selecionadas e estão em análise. Inicialmente, as entidades participantes precisavam apresentar, como contrapartida, um valor igual ao repassado pelo banco – ou seja, 50% do projeto seria financiado pelo BNDES e os outros 50% por alguma instituição parceira. No entanto, muitas organizações não tinham capilaridade suficiente para levantar o montante exigido. Agora, na terceira etapa, o banco decidiu financiar até 90%.

“As entidades enfrentaram muitas dificuldades no primeiro ciclo, porque precisavam entrar com 50% dos recursos, e isso praticamente inviabilizava a participação de muitas delas no processo seletivo. Por isso, resolvemos assumir 90% do financiamento dos projetos, até o limite de 5 milhões de reais”, pontua Campello. Acima desse valor, explica a diretora, o banco mantém o modelo anterior: 50% de financiamento pelo BNDES e os outros 50% pela entidade selecionada.

“Esse grande guarda-chuva do ­BNDES Periferias não é um modelo engessado. Nesse primeiro ano, fomos ouvindo as comunidades e aperfeiçoando o projeto. O que funciona na periferia do Rio de Janeiro talvez não tenha o mesmo resultado em Belém ou Fortaleza. Em alguns lugares, o empreendedor precisa de uma agenda de microcrédito; em outros, é necessário um fortalecimento institucional”, ressalta Campello. Entre as alterações feitas no projeto, o banco passou a conceder maior pontuação a propostas que envolvam a população negra, mulheres e jovens, além de ter criado uma frente específica para capacitar instituições do Norte e do Nordeste, que, em muitos casos, não atendiam plenamente aos pré-requisitos previstos nos editais de seleção.

“Observamos que o Norte e o Nordeste enfrentam uma dificuldade institucional muito maior do que o Sul e o Sudeste, onde já existem comunidades com uma institucionalidade mais madura e consolidada”, observa Campello. “No Norte e no Nordeste, muitas instituições têm forte penetração e reconhecimento nos territórios, com muita qualidade, mas ainda não estavam maduras do ponto de vista da gestão – o que dificultava o aprimoramento de sua atuação. Por isso, decidimos abrir um edital específico para essas duas regiões, com foco no fortalecimento institucional das organizações, para que, nas próximas chamadas, elas possam participar com mais qualidade, concorrendo e se qualificando para serem selecionadas.” •

Publicado na edição n° 1361 de CartaCapital, em 14 de maio de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A vez das periferias’

Principal banco de desenvolvimento do Brasil e um dos maiores do mundo, o BNDES decidiu reforçar sua atuação na área social. Há pouco mais de um ano, a instituição lançou o programa BNDES Periferias, destinado ao financiamento de projetos que promovam a inclusão social e a sustentabilidade ambiental em comunidades pobres ou desassistidas. A instituição financeira também tem realizado investimentos robustos na capacitação de empreendedores periféricos, estimulando a geração de renda e o fortalecimento do protagonismo comunitário.

Sob o “guarda-chuva” do programa, o banco lançou, em março de 2024, os projetos Polos BNDES e Periferias Empreendedoras, que já estão na terceira etapa e somam um investimento total de 150 milhões de reais. Em abril deste ano, foram anunciadas mais duas iniciativas: o Periferias Verdes, voltado à inclusão produtiva por meio de ações de economia circular, agricultura urbana e resiliência climática; e o Periferias Fortes, que tem como objetivo selecionar executores para fortalecer organizações sociais atuantes nas periferias das regiões Norte e Nordeste. Juntas, essas duas iniciativas representam um investimento adicional de 85 milhões de ­reais, elevando o total destinado ao BNDES Periferias para 235 milhões.

Cada frente possui características próprias, adaptadas a funcionalidades e usos definidos coletivamente pelas comunidades, com base em suas potencialidades e vocações. Ao todo, 269 territórios identificados pelo IBGE e reconhecidos pelo Ministério das Cidades podem ser contemplados no processo seletivo. Podem participar dos editais entidades da sociedade civil sem fins lucrativos que atuam em áreas periféricas de todo o País. O Polos BNDES tem como proposta custear estruturas físicas voltadas à construção e revitalização de espaços destinados à integração e socialização da comunidade. Já o Periferias Empreendedoras prioriza projetos que promovam trabalho e geração de renda nas comunidades, contribuindo para o fortalecimento de negócios, ampliação de mercados e acesso a financiamentos, por meio de capacitação e mentorias.

O Periferias Verdes está disponibilizando 50 milhões de reais para projetos de recuperação, conservação e preservação ambiental, com foco na inclusão produtiva local. “Nessa frente, as comunidades vão poder trabalhar a resiliência climática, que envolve tanto se antecipar aos eventos extremos quanto gerenciar a agenda de mudanças climáticas no território”, explica Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social e atual diretora socioambiental do BNDES. Já o Periferias Fortes está oferecendo 17,5 milhões de reais para organizações sociais da Região Norte e o mesmo valor para instituições do Nordeste. Essas organizações terão o papel de qualificar entidades periféricas locais, para que possam competir em condições de igualdade com instituições de outras regiões do País.

“A atuação social do BNDES existe há muito tempo. Temos, por exemplo, o programa de cisternas no Semiárido nordestino e uma iniciativa voltada aos coletores de material reciclável. Mas nunca houve algo tão estruturante, organizado e estratégico voltado para a agenda urbana”, destaca Campello. “Trabalhamos com recursos não reembolsáveis e com um impacto excepcional nas comunidades. A periferia é um espaço de muitas potencialidades. Todo mundo achava que a pandemia poderia despertar a solidariedade dos mais ricos, mas isso não aconteceu. Quem garantiu a sobrevivência da população nos territórios foi a própria periferia. As pessoas se organizaram em cozinhas solidárias, e a maioria desses territórios saiu muito fortalecida. A população local uniu-se para salvar o seu povo.”

Agora, a instituição financia até 90% dos projetos selecionados e investe na capacitação de entidades parceiras do Norte e Nordeste

Em um primeiro momento, o banco destinou 50 milhões de reais para o ­BNDES Polos e o Periferias Empreendedoras, valor que foi mantido na segunda e na terceira etapa. Das cem propostas elegíveis apresentadas, 17 foram selecionadas e estão em análise. Inicialmente, as entidades participantes precisavam apresentar, como contrapartida, um valor igual ao repassado pelo banco – ou seja, 50% do projeto seria financiado pelo BNDES e os outros 50% por alguma instituição parceira. No entanto, muitas organizações não tinham capilaridade suficiente para levantar o montante exigido. Agora, na terceira etapa, o banco decidiu financiar até 90%.

“As entidades enfrentaram muitas dificuldades no primeiro ciclo, porque precisavam entrar com 50% dos recursos, e isso praticamente inviabilizava a participação de muitas delas no processo seletivo. Por isso, resolvemos assumir 90% do financiamento dos projetos, até o limite de 5 milhões de reais”, pontua Campello. Acima desse valor, explica a diretora, o banco mantém o modelo anterior: 50% de financiamento pelo BNDES e os outros 50% pela entidade selecionada.

“Esse grande guarda-chuva do ­BNDES Periferias não é um modelo engessado. Nesse primeiro ano, fomos ouvindo as comunidades e aperfeiçoando o projeto. O que funciona na periferia do Rio de Janeiro talvez não tenha o mesmo resultado em Belém ou Fortaleza. Em alguns lugares, o empreendedor precisa de uma agenda de microcrédito; em outros, é necessário um fortalecimento institucional”, ressalta Campello. Entre as alterações feitas no projeto, o banco passou a conceder maior pontuação a propostas que envolvam a população negra, mulheres e jovens, além de ter criado uma frente específica para capacitar instituições do Norte e do Nordeste, que, em muitos casos, não atendiam plenamente aos pré-requisitos previstos nos editais de seleção.

“Observamos que o Norte e o Nordeste enfrentam uma dificuldade institucional muito maior do que o Sul e o Sudeste, onde já existem comunidades com uma institucionalidade mais madura e consolidada”, observa Campello. “No Norte e no Nordeste, muitas instituições têm forte penetração e reconhecimento nos territórios, com muita qualidade, mas ainda não estavam maduras do ponto de vista da gestão – o que dificultava o aprimoramento de sua atuação. Por isso, decidimos abrir um edital específico para essas duas regiões, com foco no fortalecimento institucional das organizações, para que, nas próximas chamadas, elas possam participar com mais qualidade, concorrendo e se qualificando para serem selecionadas.” •

Publicado na edição n° 1361 de CartaCapital, em 14 de maio de 2025.

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