Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Dexter oferece releituras de seus tempos sombrios com alta tensão e realismo

No álbum ‘D’Luxo’. o rapper revisita clássicos com a dupla do Tropkillaz, que deu mais dramaticidade a letras perturbadoras

Dexter oferece releituras de seus tempos sombrios com alta tensão e realismo
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Foto: Rafa Leforte
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Dexter já fazia rap quando foi preso, em 1998, após cometer assaltos à mão armada. Em 1° de abril de 1999, foi transferido para o Carandiru, em São Paulo, e até 2002 produziu uma série de músicas com sua visão do mundo a partir do sistema carcerário. As canções, de extremo realismo, ganhariam o público pelo grupo formado com Afro-X, o 509-E.

O rapper obteve a liberdade em 20 de abril de 2011, mas já desenvolvia sua carreira solo em regime semiaberto. Agora, Dexter resolveu resgatar as impactantes composições de 1999 a 2002 no disco D’Luxe (distribuição da Symphonic), com 12 faixas.

O disco começa e termina com Drexter relembrando aquele momento crítico. As outras dez faixas são releituras de narrativas inquietantes direto do sistema prisional — nove delas foram retomadas pela dupla Laudz e Zegon, do Tropkillaz, com uma dramaticidade à altura das composições.

Na ordem do disco, há Triagem, Oitavo Anjo, Sem Chances, Saudades Mil, A Transferência, Noite Infeliz, Alta Voltagem, A Saudade Continua, Apenas um Sonho e Cê tá Engrupindo. Declarações de Dexter contextualizam as composições.

Apesar dos relatos chocantes de Oitavo Anjo e tocantes de Saudades Mil, Cê Tá Engrupindo expõe fatos do teatro da roubalheira nacional: “Artista de verdade é o Fernando (Collor de Mello)/ Casa da Dinda uma novela e tanto/ Jorgina de Freitas (fraudadora do INSS), grande artista também/ Parabéns, mulher, representou muito bem/ O Nicolau (ex-juiz que desviou recursos milionários de obra), então, nem se fala/ Revelação do ano, ele é o cara”.

As composições de Drexler são perturbadoras. Os relatos crus e sem filtro da realidade fora das bolhas sociais são atemporais neste Brasil de infindáveis problemas.

A gravação do álbum impõe uma reflexão muito além do sistema carcerário. Falamos de um País imensamente desigual, e é sob essa concepção que releituras como as de D’Luxo carregam um imenso valor.

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