Política
União Progressista: o que esperar da nova superfederação do Centrão
Com 108 deputados e fundo eleitoral bilionário, a aliança entre PP e União Brasil pressiona pré-candidaturas e afasta o União do governo Lula


As cúpulas do PP e do União Brasil bateram o martelo para a criação da superfederação gestada desde o ano passado. Ciro Nogueira e Antonio Rueda acertaram os detalhes da aliança durante um jantar em Brasília, na quarta-feira 23, apurou CartaCapital. A partir de agora, as duas siglas passarão a se apresentar como União Progressista.
Com a fusão, nasce uma das maiores forças do Congresso: serão 108 deputados — o maior agrupamento da Câmara, superando com folga o PL de Jair Bolsonaro —, além da terceira maior bancada do Senado, seis governadores e mais de 1,3 mil prefeitos. Isso sem contar os mais de 1 bilhão de reais do fundo eleitoral disponível para 2026. A demora para concretizar a união é atribuída a entraves regionais em pelo menos dez estados, em razão das articulações para as próximas eleições, segundo dirigentes envolvidos nas negociações.
Desde 2017, coligações foram extintas nas eleições proporcionais, mas a legislação ainda permite alianças para disputas majoritárias (presidente, senador, governador e prefeito). A criação das federações partidárias, em 2022, possibilitou uniões para qualquer cargo, desde que mantidas durante todo o mandato. A principal diferença entre os modelos é justamente o caráter permanente da federação, enquanto as coligações encerram-se com o pleito.
Até o momento, o desenho previsto é o seguinte: o PP de Ciro Nogueira comandará nove diretórios — Acre, Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul, Roraima e Santa Catarina. Já o União Brasil ficará responsável pelo Ceará, Goiás, Bahia, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Norte e Rondônia.
Nos demais estados (Sergipe, Distrito Federal, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro e Tocantins), o comando será compartilhado entre as duas legendas, solução encontrada para mitigar disputas regionais.
Antonio Rueda, atual presidente do União Brasil, chefiará a federação. Cogitou-se inicialmente entregar o posto a Arthur Lira (PP-AL), que deixou o comando da Câmara há dois meses, para manter seu protagonismo no Centrão. A resistência de aliados do União Brasil, porém, inviabilizou a escolha. No fim, definiu-se que haverá revezamento na presidência.
Pernambuco ilustra bem as dificuldades da formação da federação. No estado, a disputa pelo controle do diretório opunha Mendonça Filho (União) e Eduardo da Fonte (PP). O pepista é cotado para liderar a federação local, de olho em uma candidatura ao Senado em 2026. Já Mendonça e o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho (União) tendem a apoiar o prefeito do Recife, João Campos (PSB), contra a governadora Raquel Lyra (PSD) na corrida pelo Palácio do Campo das Princesas. À interlocutores, Mendonça ameaçou deixar o União se o comando ficasse com o PP, mas a ameaça não surtiu efeito. Procurado, não respondeu.
Situação semelhante ocorre na Paraíba. Lá, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP) disputa o comando local para impulsionar a candidatura do sobrinho, o vice-governador Lucas Ribeiro (PP), ao governo estadual em 2026. O senador Efraim Filho (União) também articula uma candidatura e contava com a proximidade a Rueda para vencer a disputa.
A federação também pode impactar negativamente os planos de Ronaldo Caiado (União) para a corrida presidencial. O governador de Goiás lançou sua pré-candidatura neste mês, mas enfrenta resistência interna. Com a federação, terá de convencer também o PP a apoiar sua empreitada. Entre os pepistas, nomes cotados para a disputa presidencial incluem a senadora Tereza Cristina (MS), ex-ministra da Agricultura, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), considerado um “plano B” da direita caso Bolsonaro siga inelegível.
Por ora, afirmam dirigentes ouvidos por CartaCapital, não há definição sobre o posicionamento da federação em relação à eleição presidencial. A escolha será feita em 2026, com base em pesquisas de intenção de voto. Até lá, Caiado tem carta branca para percorrer o país e tentar ampliar sua projeção nacional.
A aliança com o PP reforça o distanciamento do União Brasil em relação ao governo Lula. Embora controle três ministérios (Comunicações, Integração Nacional e Turismo), o partido é pressionado pela ala bolsonarista a entregar os cargos devido ao desgaste do governo nas pesquisas.
Lula, no entanto, mantém gestos de aproximação. Manter a pasta das Comunicações sob o União, mesmo após a recusa do deputado Pedro Lucas Fernandes (MA) para comandá-la, é interpretado por auxiliares como tentativa de pavimentar alianças para 2026.
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