Mundo
Páscoa: mudanças climáticas fazem o preço do chocolate disparar
Condições na África Ocidental, responsável por 70% da produção mundial dos grãos, ajudam a explicar o peso no bolso
Neste domingo 20 de abril, quando se celebra a Páscoa, o chocolate é apreciado em diversas formas. Mas essas guloseimas estão mais caras neste ano. Na França, por exemplo, a União Federal de Consumidores Que Choisir aponta um aumento médio de 14% no preço dos chocolates de Páscoa nos supermercados.
Nos últimos anos, os preços do cacau dispararam devido às condições climáticas na África Ocidental, responsável por 70% da produção mundial dos grãos.
Os cacaueiros gostam de calor, mas até certo limite. De acordo com um estudo publicado recentemente na revista Nature, experimentos realizados no Brasil e na Indonésia indicam que uma queda de temperatura de 7°C durante a estação quente pode aumentar a produção em 30%. A hipótese levantada sugere que essa variação impactaria a fisiologia da planta.
Por outro lado, acima dos 32°C, as condições deixam de ser ideais. A associação Climate Central analisou quantos dias ultrapassaram esse limite devido ao aquecimento global, e os resultados indicam que, nos últimos 10 anos, as regiões produtoras de cacau da Costa do Marfim registraram temperaturas acima de 32°C em média 80 dias por ano. Sem o aquecimento global, estima-se que esse número seria reduzido pela metade.
Limitar as emissões de gases de efeito estufa é fundamental. Além disso, combinar o cultivo de árvores que protegem os cacaueiros do sol pode ser uma solução eficaz, especialmente diante do risco de aumento da umidade, segundo o estudo publicado na Nature. Vale lembrar que o desmatamento causado pela produção de cacau também contribui para as mudanças climáticas.
Na Bélgica, consumidores reagem ao aumento dos preços
No país famoso por seu chocolate, o preço do chocolate amargo aumentou 49% nos últimos dois anos. Nos mercados globais, uma tonelada de cacau atualmente custa 8 mil dólares, ante os 2 mil dólares de alguns anos atrás.
Diante desse cenário, os chocolateiros belgas tentam se adaptar, mas, para muitos, mudar a receita de seus produtos está fora de questão. “Não tentamos reduzir a qualidade, porque isso ficaria evidente nos nossos produtos”, explica Mélissa Kalabokas, da lojaDélices du Roy. “Precisamos aumentar nossos preços. Notamos uma diferença até mesmo em relação ao ano passado. Tivemos de reduzir a quantidade de alguns sacos ou caixas de chocolates para torná-los mais acessíveis.”
Mesmo com os preços elevados, uma loja de um famoso chocolateiro belga continua recebendo muitos clientes. “Vou aproveitar agora, porque sei que os preços vão continuar subindo. Então, temos de comprar o máximo possível enquanto ainda dá. Até as barras de chocolate de marcas mais baratas ficaram muito caras nos supermercados”, afirma um consumidor.
Para a tradicional caça aos ovos de Páscoa, os consumidores estão ajustando seus hábitos. “Compramos ovos no supermercado para manter a tradição, mas, infelizmente, a qualidade já não é a mesma”, lamenta outro cliente.
Apesar dos aumentos, os belgas apaixonados por chocolate não parecem dispostos a reduzir o consumo. Em 2024, as vendas aumentaram 2% no país.
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