

Opinião
O que está em jogo na COP30?
Os desafios da conferência em Belém são enormes em um mundo caótico


A COP30, marcada para novembro em Belém do Pará, tem enormes responsabilidades na alteração da direção do enfrentamento das mudanças climáticas em nosso planeta. Talvez por isso o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, tenha chamado esta de COP da “virada” e COP da “implementação”. Mas as questões são: virada para o quê? Implementar quais políticas?
Não são perguntas fáceis em um cenário internacional confuso, no redesenho de uma nova ordem mundial. O novo governo norte-americano, que anunciou a disposição de sair do Acordo de Paris, introduziu uma componente caótica na ordem mundial que traz muitos ruídos para as negociações da COP30. Isso pode ser uma oportunidade para o Brasil liderar um necessário processo de reordenação mundial, claro que em parceria com Europa, China e outros países estratégicos.
A COP tem algumas tarefas essenciais. A primeira é fazer os governos acordarem em uma transição energética justa e equitativa, cuja trajetória seja o fim da exploração e uso dos combustíveis fósseis, pois a causa essencial das mudanças climáticas é a exploração e o uso de combustíveis fósseis desde a Revolução Industrial. A segunda tarefa é definir mecanismos de financiamento eficazes e verificáveis que possam acelerar a transição energética em países em desenvolvimento. A terceira missão é implementar uma agenda de adaptação climática, uma vez que o clima mudou significativamente (e vai continuar mudando), com fortes impactos sociais. O aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e inundações, tem feito todos os países pagarem um alto preço, e as populações mais vulneráveis são as que arcam com o maior valor.
Esses três tópicos precisam de fortes colaborações internacionais, por meio da intensificação do multilateralismo. Este, certamente, é um dos principais problemas do mundo atual, onde o novo governo norte-americano intensificou a questão de “cuidar exclusivamente de seus próprios interesses”. Não que essa questão não existisse, mas era mais disfarçada. Países europeus planejam agora alocar centenas de bilhões de euros no aumento de seus orçamentos de defesa. Todo o sistema multilateral das Nações Unidas, edificado no pós-Guerra, está sendo destruído, sem que nada esteja sendo proposto para substituí-lo. Não é preciso lembrar: sem cooperação internacional, o planeta não vai conseguir lidar com a complexa questão das mudanças climáticas e seus fortes impactos sociais e econômicos. A atmosfera é compartilhada por todos os seres vivos de nosso planeta, e o esgotamento de nossos recursos naturais, finitos, não está muito longe.
As mudanças climáticas têm o potencial de agravar as desigualdades socioeconômicas e de fazer com que a vida de bilhões de seres humanos seja impossível de ser mantida. Produzir alimentos para 9 bilhões de habitantes em 2050 não será fácil neste clima em mudanças, pois um dos setores econômicos mais sensíveis às mudanças climáticas é exatamente a agropecuária.
A questão do financiamento climático vai ser uma das mais sensíveis na COP30. Encontrar 1,3 trilhão de dólares por ano para mitigação e adaptação em países em desenvolvimento não será uma tarefa trivial. Sem esses recursos, a transição energética será, porém, bem mais lenta, o que agravará as mudanças climáticas. Outra questão é quem vai administrar esses potenciais recursos? O Fundo Monetário Internacional? O Banco Mundial? São agências controladas pelos Estados Unidos, sobre as quais os países em desenvolvimento têm pouca ou nenhuma influência. O Brasil propõe um novo fundo para auxiliar na manutenção e recuperação de florestas tropicais, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), excelente iniciativa, pois, além de mitigar as mudanças no clima, preserva a biodiversidade essencial para a nossa sobrevivência. Precisamos de um novo modelo econômico capaz de fornecer suporte financeiro de longo prazo para garantir sustentabilidade aos ecossistemas mais valiosos do planeta, como as florestas tropicais. Mas, certamente, não podemos nos esquecer da preservação dos demais biomas importantes, como o Cerrado, o Pantanal, o Semiárido e a Floresta Atlântica.
A tarefa da competente diplomacia brasileira não é fácil. Estamos em uma transição importante para uma nova sociedade que terá de ser mais sustentável e resiliente. O caminho dessa transição de toda a sociedade planetária será tortuoso e a COP30 precisa tornar-se uma etapa importante nesse processo. •
Publicado na edição n° 1358 de CartaCapital, em 23 de abril de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O que está em jogo na COP30?’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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