Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Documentário ‘Regional Beat’ propõe uma moda de viola no rap
Projeto sugere novo movimento musical que funde música caipira e ritmos urbanos


Matuto S.A. é um rapper de Franca, no interior de São Paulo. Após mais de uma década envolvido na cultura hip hop e sound system, venceu o concurso anual de bandas do João Rock e passou a integrar o lineup do festival de Ribeirão Preto.
Seu trabalho promove uma fusão entre a música caipira e ritmos urbanos, notadamente o rap. O artista lançou recentemente o documentário Regional Beat: Uma Antena Parabólica Fincada na Terra Vermelha, exatamente a respeito de sua proposta musical.
O filme de uma hora, dirigido pelo próprio Matuto, contextualiza a ideia, antes de lançar luz em seu trabalho e em sua apresentação no festival João Rock. O média-metragem explica a viola ao longo da história — por séculos ela foi um instrumento usado pela população pobre para comunicar seu modo de vida em um Brasil eminentemente rural.
O rap tem na sua essência o sampler, que reproduz trechos sonoros de gravações musicais. No filme, KL Jay, dos Racionais, fala muito bem sobre a possibilidade de a cultura hip hop “samplear” a música sertaneja — em seu significado amplo, não mercadológico.
Matuto S.A. fez um documentário honesto, com diversos depoimentos ratificando a proposta de fusão do rap com a moda de viola. O projeto se inspira no manguebeat, movimento liderado pela cabeça inquieta de Chico Science, no Recife (PE), que aproximou as alfaias do maracatu à música universal pop da época.
Daí vem a menção no título do documentário à antena parabólica: o movimento manguebeat tem como símbolo a antena enfiada na lama, conectando o regional ao mundo. No caso do Regional Beat, ela está fincada na terra vermelha, solo que representa o País rural.
Com o Brasil tomado pela música comercial sertaneja, pensa-se que o gênero não passa de uma representação do clima de festas regadas a muita bebida e “pegação”.
A música caipira de verdade, porém, reflete a vida difícil no campo, o trabalho duro na terra e o cotidiano simples do interior. O rap tradicional, ao seu modo, também faz a dramatização das periferias do País.
A fusão proposta entre o rap e a moda de viola funciona bem, de acordo com o que o documentário apresenta. O filme mostra ter simbiose a batida boom bap, ligada às origens do rap, com letras de cunho social, associadas à moda de viola genuína.
O documentário merece maiores plateias e deve estrear em breve no circuito nacional de festivais de cinema.
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