Política
Indígenas e deputada são atingidos por gás lacrimogênio durante protesto no Congresso; Senado minimiza ação
Célia Xakriabá, do PSOL, é a primeira parlamentar indígena eleita por Minas Gerais e estava na manifestação dispersada por bombas de efeito moral em Brasília


Um protesto de indígenas que participam do Acampamento Terra Livre, em Brasília, foi dispersado com bombas de efeito moral e gás lacrimogênio na noite desta quinta-feira 10. Os manifestantes estavam em frente à sede do Congresso Nacional quando foram alvos da ação policial.
Entre os participantes atingidos na repressão, estava a deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG). Ela é a primeira parlamentar indígena eleito por Minas Gerais. No vídeo divulgado pela assessoria de imprensa da parlamentar, Xakriabá aparece relatando dor nos olhos enquanto tenta atravessar uma barreira formada pela Polícia Militar do Distrito Federal para acessar o parlamento. “Sou deputada federal eleita”, repete.
A parlamentar diz ter sido impedida de entrar na sede do Congresso mesmo após ser identificada como deputado. Ela precisou receber atendimento médico, segundo a sua assessoria. O caso também foi registrado em um boletim de ocorrência aberto pela parlamentar junto à Polícia Legislativa. Ela acusa os agentes de violência política e de gênero.
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Ainda não há confirmação de quantos indígenas precisaram de atendimento médico ou ficaram feridas durante a ação. A Apib, em nota, repudiou a ação policial diante do protesto pacífico.
“A Apib repudia de forma veemente os atos de violência do Congresso anti-indígena, cometidos pelo Departamento de Polícia Legislativa (DPOL) e pela Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF). Lamentamos o uso desnecessário de substâncias químicas contra os manifestantes, mulheres, idosos, crianças e lideranças tradicionais”, diz um trecho do comunicado.
O Cimi, por sua vez, sustenta que os manifestantes não representavam ameaça, portavam instrumentos ritualísticos e protestavam com cantos e rezas. “Ainda não há confirmação sobre a quantidade de pessoas que precisaram de atendimento médico ou ficaram feridas. Os indígenas deixaram o local e retornaram para o acampamento. A Tropa de Choque da Polícia Militar chegou a ameaçar retirá-los à força”, reforça a nota da entidade.
Indígenas são atendidos após serem atingidos por bombas de efeito moral e gás lacrimogênio disparadas pelas polícia Legislativas e do DF para conter um protesto em frente ao Congresso.
Foto: Richard Wera/Apib
Senado minimiza a ação
Em nota, o Senado diz ter sido surpreendido com um “avanço inesperado” dos indígenas que estão acampados em Brasília para a frente do Congresso. Diante da marcha, sustenta a Casa, a polícia precisou conter a manifestação. “É indispensável que seja respeitada a sede do Congresso Nacional e assegurada a segurança dos servidores, visitantes e parlamentares”, diz o texto assinado pela Presidência do Senado, comandada por Davi Alcolumbre (União-AP).
Apesar dos relatos e vídeos divulgados que mostram a truculência na ação, o Senado alega, em nota, que a dispersão ocorreu ‘sem grandes intercorrências’. “Ressaltamos que a dissuasão foi realizada exclusivamente por meios não letais e a ordem foi restabelecida”, afirma o comunicado.
A Câmara, por sua vez, diz que aproximadamente mil indígenas que participavam da marcha romperam a linha de defesa da PM-DF, derrubaram gradis e invadiram o gramado do Congresso. “As Polícias Legislativas Federais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal usaram agentes químicos para conter a invasão e impedir a entrada no Palácio do Congresso.”
Segundo a PM do DF, o grupo precisou ser contido por ter rompido um combinado, que era o de não protestar no gramado do Congresso. O acerto, afirma a corporação, era que a marcha fosse encerrada na avenida José Sarney, anterior à avenida das Bandeiras, próxima ao gramado do Congresso. “Mas, parte dos indígenas resolveu avançar o limite. A situação já foi controlada e o policiamento das duas Casas Legislativas, reforçado.”
(Com informações de Brasil de Fato e Agência Senado)
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