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Que a Dinamarca seja aqui

A iminente quebra da patente do Ozempic não tira o ímpeto do laboratório Novo Nordisk

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Lukasz Kobus - European Commission
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O laboratório farmacêutico dinamarquês Novo Nordisk acaba de anunciar investimento de 6,4 bilhões de reais na ampliação de sua fábrica em Montes Claros, Minas Gerais. A unidade produz enzimas usadas em insulina e medicamentos para obesidade. Os investimentos devem dobrar o tamanho do complexo para 74 mil metros quadrados.

A Novo Nordisk é detentora das marcas Ozempic, Wegovy e Saxenda, destinadas a tratamento de pacientes com diabetes Tipo 2 e obesidade. A patente da semaglutida, base dos medicamentos, acaba em 2026. Apesar disso, a empresa considera o mercado brasileiro com potencial de crescimento. No Brasil, as estimativas variam entre 16 milhões e 20 milhões de diabéticos, segundo a IDF, federação internacional que reúne mais de 240 associações do mundo. Cerca de 90% dos casos de diabetes tipo 2 estão associados ao comportamento – leia-se alimentação inadequada e consumo de bebidas açucaradas e alcoólicas. Já a obesidade atinge cerca de 25% da população brasileira. E tende a aumentar.

A quebra da patente do Ozempic deve acontecer em março de 2026, o que tem potencial para reduzir os preços no futuro. Em dezembro, a brasileira EMS, gigante do setor de genéricos, obteve a licença para fabricar no Brasil dois inibidores de apetite. Com o princípio ativo ­liraglutida, o Lirux, indicado para diabetes, e o Olire, para obesidade, devem chegar às farmácias neste ano. Carlos Sanches, presidente do conselho da empresa, diz que, “no médio prazo, vejo a EMS faturando 2 bilhões de dólares no Brasil (cerca de 11,8 bilhões de reais) e outros 2 bilhões nos Estados Unidos”.

Mercado Livre

O e-commerce brasileiro tem muito potencial para crescer. Ao menos essa é a visão do maior marketplace do País, o Mercado Livre. A empresa faz uma aposta alta e anuncia um investimento de 34 bilhões de reais no Brasil. Um dos elementos determinantes para as compras é a rapidez de entrega. Com os novos centros de distribuição, o Mercado Livre estará mais perto de quem compra. E a mercadoria chega mais rapidamente.

O movimento, embora planejado antes do tarifaço de Donald Trump e a consequente resposta chinesa, também servirá para enfrentar a concorrência com o país asiático. É possível que o mercado brasileiro seja foco das empresas chinesas para manter sua produção ativa e consistente, nem que isso signifique uma redução de preços. A Shopee, concorrente direta do Mercado Livre, anunciou no início do ano sua intenção em ter 85% dos produtos comercializados em sua plataforma compostos por itens produzidos no País. Seu foco é trabalhar diretamente com o polo produtor de vestuário de Santa Catarina. Além de fugir de taxas impostas, a Shopee ganha agilidade no atendimento.

Os investimentos servirão para ampliar os centros de distribuição no Brasil. O Mercado Livre projetava sair de dez centros para 21 em 2025. Mas já chegou a 17 e o número aumentou para até 27. O investimento consolida a posição do Mercado Livre como líder do segmento. O Brasil fechou 2024 com uma receita líquida de 37,7 bilhões de reais em vendas on-line. No Mercado Pago, a operação chegou a 23,7 bilhões.

Quem é Vivo sempre aparece

Não falamos aqui da operadora de telefonia Vivo, mas da maior fabricante de celulares da China, que tem o mesmo nome. No Brasil, a companhia se chamará Jovi e montará os aparelhos na Zona Franca de Manaus. De acordo com a Counterpoint, a empresa tem 18% do mercado chinês, superando nos últimos três trimestres todos os concorrentes. A previsão é que as vendas comecem no segundo semestre deste ano.

A Jovi está presente em 60 países e chegou recentemente à marca de 500 milhões de celulares comercializados. Diferentemente dos concorrentes, desenvolveu uma estratégia de crescimento com celulares mais potentes e bem-acabados. Esse é o conceito desenvolvido pela Vivo para seus produtos desde a fundação, em 1995. A empresa também investe pesado em marketing. Patrocina a Fifa desde 2017 e teve exposição de marca na Copa do Mundo do Catar e nas Eurocopas de 2020 e 2024.

A ousadia da empresa vai além dos modelos. Ela ganhou menção no Guinness em 2022 quando seu smartphone de tela flexível, Vivo X Fold, foi dobrado mais de 300 mil vezes ao longo de mais de 270 horas. Agora ela vai tentar dobrar o consumidor brasileiro para comprar um celular com uma marca que ainda não é conhecida nem disputará o mercado low price. •

Publicado na edição n° 1357 de CartaCapital, em 16 de abril de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Que a Dinamarca seja aqui’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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