Economia
Economista diz que Casa Branca interpretou de maneira errada sua pesquisa sobre tarifas
Segundo Brent Neiman, que trabalhou no Tesouro dos EUA, as taxas impostas pelo republicano a mais de 180 países deveriam ter sido de um quarto do que a Casa Branca anunciou
Um economista cujo trabalho foi citado pelo governo de Donald Trump para justificar suas tarifas disse que os funcionários interpretaram de maneira errada sua pesquisa e destacou que as taxas deveriam ter sido de um quarto do que a Casa Branca anunciou.
Brent Neiman, que foi funcionário do Tesouro americano durante o mandato anterior do presidente Joe Biden, é coautor de um artigo de 2021 sobre o impacto das tarifas nos preços nos Estados Unidos.
Seu trabalho foi citado pelo Gabinete do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) em um comunicado publicado na semana passada para explicar os cálculos das tarifas às importações anunciados por Trump, que ameaçam levar a economia global à recessão.
“Estou fundamentalmente em desacordo com a política comercial e o enfoque do governo”, escreveu Neiman em um artigo de opinião publicado pelo The New York Times na segunda.
Neiman disse que o “maior erro” do USTR foi interpretar incorretamente os déficits comerciais com outros países como um sinal indiscutível de práticas injustas por parte dessas nações.
Além disso, a administração citou de maneira equivocada o relatório para sugerir que os preços internos subiriam ligeiramente sob o novo regime tarifário, afirma Neiman no artigo do NYT, cujo título indica que a Casa Branca “entendeu tudo errado”.
O economista afirmou que seu trabalho, realizado com outros três acadêmicos, mostrava que o preço das importações aumentaria de forma “praticamente” equivalente à tarifa.
Também indica que “as tarifas calculadas deveriam ser consideravelmente menores, (de) talvez apenas um quarto do anunciado”.
Com alguns gráficos exibidos nos jardins da Casa Branca, o presidente Trump apresentou na semana passada a justificativa de como sua administração iria impor tarifas a parceiros que englobam desde grandes potências como China e Europa até as nações menores.
Entretanto, os números citados têm pouca relação com os níveis reais de tarifas.
Trump detalha o ‘tarifaço’.
Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP
Isso é para a economia o que o criacionismo é para a biologia e a astrologia é para a astronomia”, escreveu o ex-secretário do Tesouro Larry Summers no X.
Por exemplo, embora o gráfico de Trump afirme que a China impõe uma tarifa de 67% sobre os produtos dos EUA, os dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que a tarifa média da China em 2024 foi de apenas 4,9%.
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