Economia

Mercados despencam em meio a pânico após tarifaço de Trump

Tarifas abrangentes impostas pelo presidente americano seguem derrubando ações em todo o mundo, com pregões na Ásia e Europa atingindo mínimos históricos

Mercados despencam em meio a pânico após tarifaço de Trump
Mercados despencam em meio a pânico após tarifaço de Trump
Um trader trabalha no pregão da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) na cidade de Nova York, em abril de 2025, após tarifaço de Trump. Foto: Timothy A. CLARY / AFP
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As ações nas bolsas de valores da Ásia despencaram em níveis recordes nesta segunda-feira 7, intensificando o movimento de retração já observado na semana passada. Na Europa, os mercados também registraram forte queda logo após a abertura dos pregões.

Os investidores reagem às amplas tarifas impostas pelos Estados Unidos, que começaram a entrar em vigor neste sábado, e às sanções retaliatórias adotadas pela China.

O temor de que a guerra comercial imposta pelas potências provoque uma recessão global dominou os pregões nas primeiras horas desta segunda-feira. Em Hong Kong, por exemplo, as ações fecharam com queda de 13%, registrando o pior recuo desde outubro de 1997, quando a China foi impactada pela crise financeira asiática.

A retração também marcou o pregão em Taipei, com 9,7% e em Tóquio, onde o valor das ações derreteu quase 8%. Já a bolsa de Xangai recuou 7%.

Bolsas de valores de Singapura, Seul, Manila e Mumbai também ficaram no vermelho imediatamente após sua abertura, cedendo entre 4% e 8%.

A venda generalizada na Ásia impactou diversos setores, incluindo empresas de tecnologia, fabricantes de automóveis, bancos, cassinos e empresas de energia.

Entre os maiores perdedores estão as empresas chinesas de comércio digital, Alibaba e JD.com, cujas ações afundaram 17% e 14%, respectivamente. A gigante japonesa de investimentos em tecnologia, SoftBank, caiu mais de 11% e o preço das ações da Sony caiu 9%.

“Podemos assistir a uma recessão muito rápida nos EUA, que pode durar até o final do ano, ou mesmo ser bastante longa”, disse Steve Cochrane, economista-chefe da Moody’s Analytics para a região Ásia-Pacífico. “Se houver uma recessão nos EUA, é claro que a China também sentirá isso, pois a demanda por seus produtos será ainda mais afetada”, acrescentou.

Commodities indicam retração

O preço das commodities também foi afetado. As preocupações com a demanda derrubou o custo do petróleo em mais de 3% nesta segunda-feira, além de uma baixa de 7% registrada na sexta-feira.

O impacto é duplo para produtores de petróleo do Oriente Médio. Bahrein, Kuwait, Omã, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos passam a enfrentar tarifas de 10%. Já os produtos do Iraque e Síria passarão a custar 39% e 41% a mais para entrar nos EUA.

O cobre – um componente vital para o armazenamento de energia, veículos elétricos, painéis solares e turbinas eólicas – também ampliou as perdas.

Quedas afetam Europa

Trump estabeleceu tarifas a 20% para produtos europeus, medida que entra em vigor nesta quarta-feira. O Reino Unido e outros países já foram atingidos por tarifas de 10% no sábado.

Com isso, os mercados acionários europeus também despencaram no início do pregão desta segunda-feira, com Frankfurt, na Alemanha, caindo até 10%.

Milão caiu 7,5%, enquanto Paris, Madri e Amsterdã recuaram pouco mais de 6%. Londres e Oslo perderam mais de 5% nas primeiras horas do dia.

“A fuga continua, com os investidores buscando um abrigo para seu dinheiro em meio à tempestade de tarifas”, observou Susannah Streeter, chefe de finanças e mercados da Hargreaves Lansdown.

Em Paris, os preços das ações da Airbus, fabricante de aviões, da Safran, fabricante de motores, e da Kering, proprietária da Gucci, lideraram as perdas, caindo 10% cada uma.

A empresa alemã de armamentos Rheinmetall despencou mais de 13% e o Commerzbank afundou quase 12% em Frankfurt.

O grupo aeroespacial Melrose Industries liderou a lista de perdedores em Londres, com uma queda de cerca de 8,5%.

A expectativa é que a Europa também entre na guerra comercial e imponha maiores taxas sobre os produtos americanos.

Previsão de inflação nos EUA

As perdas globais também impactaram Wall Street na última sexta-feira, quando os três principais índices caíram quase 6%. Segundo o Deutsche Bank, o S&P 500, índice de mercado que reúne as 500 maiores empresas de capital aberto dos EUA, caiu 10,53% – o quinto pior desempenho em dois dias seguidos desde a Segunda Guerra Mundial.

“De fato, as únicas outras vezes em que vimos uma perda de dois dígitos em duas sessões foram durante a covid-19, o auge da [crise financeira global], e da segunda-feira de 1987 [maior tombo da história da bolsa americana]”, afirmou um analista do Deutsche Bank.

A expectativa do Federal Reserve, o banco central americano, é de que as tarifas levem à inflação, desemprego e redução no crescimento nos EUA.

(afp, ap)

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