Fred Melo Paiva

fred@cartacapital.com.br

Jornalista, indicado ao Emmy Internacional com a série 'O Infiltrado'. Autor dos livros 'O Atleticano Vai ao Paraíso' e 'Bandido Raça Pura'. Foi repórter e editor-executivo em CartaCapital.

Opinião

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As novas confissões de Bozo

Como um Adélio de si próprio, ele partiu para o haraquiri

As novas confissões de Bozo
As novas confissões de Bozo
Alan Santos/PR e iStockphoto
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OLÁ! ESTAS SÃO AS NOTÍCIAS DO HOSPÍCIO, um jornal a serviço do Brasil doidão! Um apanhado dos assuntos mais sur­reais da política na última semana. Uma surra no bom senso. Um tapa na cara do roteirista de ficção, desmoralizado pela realidade. Os fatos que comprovam a experiência empírica: não há limites para a insânia!

URGENTE! BOZO CONFESSA CRIMES EM SÉRIE! Em entrevista à Folha, Bozo Hell soltou a língua de tamanduá e botou para trabalhar seu par de neurônios prejudicados: “Eu conversei com as pessoas. O que a gente pode fazer? Daí foi olhado lá, sítio, defesa, 142, INTERVENÇÃO”. Pobre advogado do Bolsonaro, é preciso ser Júlio César para defendê-lo. Não o líder militar da Roma Antiga, mas o goleiro do 7 a 1. É só bola nas costas.

Mais adiante, como um Adélio de si próprio, partiu para o haraquiri: “Reuni duas vezes com os comandantes militares, com umas outras pessoas perdidas por ali”. Perdidas já estavam as eleições, ressaltemos. Outro dia, em coletiva, ele disse: “Imprimi a minuta do golpe para saber o que era”. Sim, sabemos bem como funciona o fax e o telex, normal isso aí.

Enquanto o réu fazia o possível para ser condenado, o Congresso, vítima frequente das ditaduras, articulava a anistia geral do pessoal da seita – a Seita que Dói Menos. O perdão seria extensivo ao Bozo, que, inelegível, trabalha para ser eleito. Sua estratégia é a mesma do Tim Maia: “Devo admitir que sou réu confesso, e por isso eu peço, peço pra voltar”.

E o que dizer da popularidade de DÉBORA DO BATOM, essa nota de 3 ­reais, essa Madre Teresa capaz de derreter os corações de pedra do Centrão? Vamos convir: Débora do Batom é um nome e tanto, versátil desde a funkeira carioca até a candidata a deputada federal. Com a vantagem de carregar em si o crime passível da anistia geral, qual seja, o porte do batom para fins recreativos.

“Eu tava em Brasília e resolvi fotografar os prédios porque achei bonito” – lá vem a Débora do Batom, esse arroz de festa da minha timeline. Segundo a lábia de Batom, enquanto registrava o concreto armado, acabou engalfinhada pela turba, também armada. E, “num ato impensado”, sacou o batom e atirou contra a estátua: “Perdeu, mané”.

E ATENÇÃO! NOTA DA REDAÇÃO. Notícias do Hospício compromete-se desde já com a cobertura in loco da Vigília Bozo Livre. O estepe do carro de reportagem será destinado aos serviços religiosos da seita, bem como um rádio amador, para contato com extraterrestres.

E PRA FECHAR, AQUELA NOTÍCIA PRA CIMA, O VIAGRA DO JORNAL ­NACIONAL, O NOSSO RIVOTRIL LITRÃO! Senador Astronauta Marcos Pontes acaba de anunciar, em comunicado à nação, a aprovação de requerimento para a realização do DIA DA AVIAÇÃO DE CAÇA! Aeeeee!!! “Save the date”, tuitou o único brasileiro com lugar de fala sobre a Terra plana, apenas ele e o Astrogildo capazes de confirmar se realmente a Lua vem da Ásia. Ou não. O mínimo que se espera é um feriado emendado e um travesseiro da NASA.

THAT’S ALL, FOLKS! Voltamos em 72 horas com novas informações, incluindo o noticiário internacional a respeito do supremacista laranja. Went! •


Jornalista, indicado ao Emmy Internacional com a série O Infiltrado. Autor dos livros O Atleticano Vai ao Paraíso e Bandido Raça Pura.

Publicado na edição n° 1356 de CartaCapital, em 09 de abril de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘As novas confissões de Bozo’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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