

Opinião
As novas confissões de Bozo
Como um Adélio de si próprio, ele partiu para o haraquiri


OLÁ! ESTAS SÃO AS NOTÍCIAS DO HOSPÍCIO, um jornal a serviço do Brasil doidão! Um apanhado dos assuntos mais surreais da política na última semana. Uma surra no bom senso. Um tapa na cara do roteirista de ficção, desmoralizado pela realidade. Os fatos que comprovam a experiência empírica: não há limites para a insânia!
URGENTE! BOZO CONFESSA CRIMES EM SÉRIE! Em entrevista à Folha, Bozo Hell soltou a língua de tamanduá e botou para trabalhar seu par de neurônios prejudicados: “Eu conversei com as pessoas. O que a gente pode fazer? Daí foi olhado lá, sítio, defesa, 142, INTERVENÇÃO”. Pobre advogado do Bolsonaro, é preciso ser Júlio César para defendê-lo. Não o líder militar da Roma Antiga, mas o goleiro do 7 a 1. É só bola nas costas.
Mais adiante, como um Adélio de si próprio, partiu para o haraquiri: “Reuni duas vezes com os comandantes militares, com umas outras pessoas perdidas por ali”. Perdidas já estavam as eleições, ressaltemos. Outro dia, em coletiva, ele disse: “Imprimi a minuta do golpe para saber o que era”. Sim, sabemos bem como funciona o fax e o telex, normal isso aí.
Enquanto o réu fazia o possível para ser condenado, o Congresso, vítima frequente das ditaduras, articulava a anistia geral do pessoal da seita – a Seita que Dói Menos. O perdão seria extensivo ao Bozo, que, inelegível, trabalha para ser eleito. Sua estratégia é a mesma do Tim Maia: “Devo admitir que sou réu confesso, e por isso eu peço, peço pra voltar”.
E o que dizer da popularidade de DÉBORA DO BATOM, essa nota de 3 reais, essa Madre Teresa capaz de derreter os corações de pedra do Centrão? Vamos convir: Débora do Batom é um nome e tanto, versátil desde a funkeira carioca até a candidata a deputada federal. Com a vantagem de carregar em si o crime passível da anistia geral, qual seja, o porte do batom para fins recreativos.
“Eu tava em Brasília e resolvi fotografar os prédios porque achei bonito” – lá vem a Débora do Batom, esse arroz de festa da minha timeline. Segundo a lábia de Batom, enquanto registrava o concreto armado, acabou engalfinhada pela turba, também armada. E, “num ato impensado”, sacou o batom e atirou contra a estátua: “Perdeu, mané”.
E ATENÇÃO! NOTA DA REDAÇÃO. Notícias do Hospício compromete-se desde já com a cobertura in loco da Vigília Bozo Livre. O estepe do carro de reportagem será destinado aos serviços religiosos da seita, bem como um rádio amador, para contato com extraterrestres.
E PRA FECHAR, AQUELA NOTÍCIA PRA CIMA, O VIAGRA DO JORNAL NACIONAL, O NOSSO RIVOTRIL LITRÃO! Senador Astronauta Marcos Pontes acaba de anunciar, em comunicado à nação, a aprovação de requerimento para a realização do DIA DA AVIAÇÃO DE CAÇA! Aeeeee!!! “Save the date”, tuitou o único brasileiro com lugar de fala sobre a Terra plana, apenas ele e o Astrogildo capazes de confirmar se realmente a Lua vem da Ásia. Ou não. O mínimo que se espera é um feriado emendado e um travesseiro da NASA.
THAT’S ALL, FOLKS! Voltamos em 72 horas com novas informações, incluindo o noticiário internacional a respeito do supremacista laranja. Went! •
Jornalista, indicado ao Emmy Internacional com a série O Infiltrado. Autor dos livros O Atleticano Vai ao Paraíso e Bandido Raça Pura.
Publicado na edição n° 1356 de CartaCapital, em 09 de abril de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘As novas confissões de Bozo’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.